sexta-feira, 14 de agosto de 2009

"A DANÇA DAS BORBOLETAS"
Último lançamento do poeta Antonio Kleber.
Selo da Editora Zem - Teresópolis - Rio de Janeiro - 2009


A DANÇA DAS BORBOLETAS
- Poesias -

Editora ZEM – Teresópolis - RJ
- 2009 -

Todos os direitos reservados. Copyright © Mathias Netto, Antonio Kleber

Revisão: Prof. Poeta Astolpho Vieira Thalles Ribeiro
Seleção dos Poemas: José Barzoni Saueiro, Sylvia Carneiro de Lejano, Lélia Maria Horta Nogueira e Edilberto da Veiga Castilho

Capa: Artista Plástico e Poeta Everaldo Bezerra Botelho. E-mail: everbotelho@interjato.com.br


Este livro foi produzido no Escritório de Literatura II LUIZ FERNANDO MATHIAS NETTO, situado na Rua Coral, Lote 11, Quadra 25, Bairro Ouro Verde, Costa Azul, Rio das Ostras/RJ .

Os poemas aqui publicados foram enviados, no ano de 2008, a milhares de leitores, via Internet (e-mails, Orkut etc.)

Impressão: ZEM GRÁFICA E EDITORA LTDA.
Av. Delfim Moreira, 1522/24 - Vale do Paraíso - Teresópolis - RJ
Tel.: (21)2742-0670/2742-8183 - E-mail: zemgrafica@uol.com.br


DEDICATÓRIA

À minha mãe, Zenith Gomes Pereira.
De tudo o quanto fizeste, faremos render muito mais, em mãos desta e doutras gerações. Foste a razão primeira, assentaste a base, dando azo aos fatos e acontecimentos que informam a tua família, que muito se orgulha de ti. As sementes que espalhaste germinaram e já se colhem bons frutos.

*

Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim.
Sigmund Freud

Livros Publicados

A Sombra dos Trigais (poesia)
O Caminho dos Caracóis (crônicas)
Trilhas Vermelhas (pensamentos)
Brisas Outonais (poesia)
Marcos e Sentidos (poesia)
A Infância dos Pardais (poesia)
Espumas e Asas (poesia)
Sentidos Suspeitos (poesia)
Há um Lugar Chamado Celzu (poesia)
Poemas Para Uma Flor Azul (poesia)
O Som das Tanajuras (crônicas)
Fortin, o Outro lado do Sonho (romance)
A Chave de Jaques (romance)
Gotejamento (poesia)
Sinal Vermelho (contos, em parceria com o escritor Everaldo B. Botelho)
Sonhos Interrompidos (poesia)
Onde Sopra o Aracati (romance - 1o lugar, concurso promovido pela Academia Pelotense de Letras)
Poesias Escolhidas (poesia)
Rescaldos (pensamentos)
Emoção: Poder e Cinzas (pensamentos)
À Sombra do Barbaquá (romance)
Quarenta Sonetos sem Pecados (sonetos)
Tuna (sonetos - Menção Honrosa - Concurso da UBE)

Próximos Lançamentos

O Forasteiro (romance)
O Desempregado (contos)
Cocó, o Rei do Achaque (crônicas)
O Despertar à Margem do Rio Don (romance)
O Farol (romance)


SOBRE A POESIA DE ANTONIO KLEBER



Antonio Kleber é um poeta de ler e nunca esquecer. Dono de musicalidade contagiante, seus sonetos lembram os blues dos ancestrais da música pop, e os sambas de Cartola e Nélson Cavaquinho, tal a dança da versificação nos sonetos e poemas. Lê-lo é uma grata satisfação diária, pois além de grande poeta é um militante da poesia, o que confere uma aura muito mais importante ao fato de formar nas forças de resistência da poesia. Fiquei imensamente feliz em tê-lo na qualidade de amigo.
“Sobre Sonetos” (Bernardo Veiga, Niterói/RJ)
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=27021891

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Antonio Kleber. O que eu mais gosto na tua poesia é que ela é macha! Não manda recado, vai entrando e realizando, que se explodam sereias, fantasmas, dores, fadigas... Ela vai ao encontro e faz acontecer. Poesias nascem de ti como nascem no éter todas essas almas amigas...
Carmen – São Paulo - carmendayang@gmail.com

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Estou agarrada "de unhas e dentes" no teu romance (À Sombra do Barbaquá). Cara, que escritor és! É uma narrativa densa, que entretece continuamente (e com maestria) o plano onde as coisas acontecem e a dinâmica subjetiva da personagem. Quanta pesquisa está implicada neste texto, que ao mesmo tempo em que levanta questões existenciais profundas, retrata um contexto societário específico, com suas contradições e seus tipos humanos. És muuuito bom escritor!
Agora, o lado deliciosamente engraçado da coisa: neste pouco tempo em que temos conversado eu fui me familiarizando (sem me dar conta) com expressões e palavras características da tua fala (do Antônio mesmo) e eu as reconheço no livro, a tal ponto que por momentos preciso fazer um esforcinho para não identificar plenamente o autor e a personagem. O bom escritor tem a artimanha de convencer-nos da veracidade da narrativa no plano do vivido, quando ela é verídica no vivenciado. Quero dizer que ela é verdadeira, porque aquilo foi sentido, mas na mediação de outros reais e imaginados.
Cristina Dias Diaz, Psicóloga, Professora da URGS - Rio Grande - RS

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A poesia de Antonio Kleber é estranha, diferente. A gente lê e fica com ela na cabeça o dia inteiro. Há sempre uma interpretação nova, um outro caminho. Gosto disso.
Genivaldo Martins da Silva, Poeta – Maceió - Alagoas

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Antonio Kleber. É uma pena não morar um pouco mais perto do Rio de Janeiro, para poder te dar um forte abraço. Tua poesia é magnífica, escreves realmente com a alma, soube disto desde que comecei a conhecer o português através dos teus livros. A língua reflete paixão pela vida e inteligente e sábia crítica dela mesma. Cada recado no orkut é companhia e é Reflexo do que vives atualmente”.
Musicoterapeuta Colombiano Jesús Alberto Herrera.
Caxias do Sul - Rio Grande do Sul.

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É brilhante o poeta Antonio Kleber. Ajudou a formar a minha personalidade, os meus ideais e o meu gosto pela política. Se durante a minha vida tenho devorado livros e jornais, ele é o grande culpado! Os seus poemas são maravilhosos! Você é maravilhoso, Antônio Kleber!
Vera Regina Silva - Niterói/RJ http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=7861250666818771245

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Caro poeta-escritor Antonio Kleber. Há muito tempo que leio você, porém tenho sempre uma alegria renovada, como se fosse a primeira vez, a primeira emoção, o mesmo encanto, a mesma admiração e respeito. Tanto sua poesia quanto a prosa despertam em nós o gosto pela literatura. Gosto de brincar com meus alunos quando me perguntam:
- Quando é que a gente descobre se um poeta, escritor é bom? – Respondo:
- Quando a gente continua gostando do que ele escreve, após passar muito tempo... quando as emoções se repetem, principalmente, quando lemos um livro mais de uma vez...
O que mais me encanta em seus escritos é a uniformidade aplicada, como seu espírito convicto, além da "paixão" que você traça com as palavras. Você passa uma força intensa... quase visível! É como se escrever, para você, representasse toda sua vida!! É essa sensação que seus escritos me passam. Você é um grande escritor... Com certeza!! Sinto-me honrada e feliz em ser tua amiga virtual!
Dáguima Verônica, Professora e Poetisa - Santa Juliana - Minas Gerais

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"Olá, amigo! Estou aqui para parabenizá-lo pelo livro “Quarenta Sonetos sem Pecados”. Sei que minha opinião é simples, se comparada à importância das pessoas consagradas e respeitadas que o elogiam diante do mundo das Letras, mas não posso deixar de citar que seus sonetos me provocam a apreciar mais e mais a poesia. Seu vocabulário é simplesmente rico e forte, trazendo, assim, ao soneto, um enorme significado. Seu vocabulário nos obriga a sair das 14 linhas e pensar no que antes estava longe. Ainda não acabei de ler o livro ("Quarenta Sonetos Sem Pecado"), mas estou gostando muito. Grande abraço!”
Alex Ferreira Rio de Janeiro/RJ - alexxartes@yahoo.com.br

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"Olá, Poeta! Estou lendo seu romance "À Sombra do Barbaquá". Maravilhoso! Leitura que não dá vontade de parar. Aqui na sua página (nota: na Internet) há muita leitura. Seus escritos... é tudo de bom!
- ‘O caminho da eternidade será agradável para os edificadores do bem. Que os demais não esperem bombons’;
- ‘O amor será um engodo, caso não abrigue sentido duradouro nas ações levadas a efeito em seu nome’
Gostaria de acessar os demais (pensamentos), que devem ser tão bons quanto. É um privilégio ser sua amiga. É uma honra imensa ter seus escritos poéticos e filosóficos em minha página! Estou fascinada, encantada com sua sensibilidade, inspiração e capacidade de retratar fatos, idéias, sentimentos etc., de forma tão mágica, sábia e poética! Parabéns a você e para todos nós que somos seus fãs! Adoro ler suas poesias. Eu amo ler; seus escritos me levam a mundos e mundos, que só a imaginação de uma moça solitária pode ir. E são nessas viagens das palavras e letras que vejo como sou feliz!"
Marlene Kjellin, Poetisa e Artista Plástica - Imbituba/Santa Catarina
email:hellenkjellin@hotmail.com

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"É crença de muitos que se deve separar o homem do artista. Relativamente a Antonio Kleber, não se aplica a assertiva generalizada. Ele é, no gesto e na atitude, no dito e no feito, no sonho e na realidade, sempre o mesmo: veraz, corajoso, apaixonado... Pautando suas ações pela cartilha do mais puro humanismo, Antonio Kleber convive com grandes e pequenos, com ricos e pobres, com fortes e fracos, sem que isso o perturbe. Vale a pena ler suas mensagens, deixar-se impregnar de sua beleza e concluir que, felizmente, nem tudo está perdido enquanto existirem poetas do quilate de Antonio Kleber."
Poeta Clóvis Almeida Alt, membro da Academia Sul-Brasileira de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico de Pelotas.

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"Desde há alguns anos, tive despertada minha atenção para a produção literária de Antonio Kleber Mathias Netto. Admirava-lhe a sua capacidade criativa de grande uniformidade; as suas convicções firmes; sua maneira de dizer; mas, sobretudo, sua clara condição de poeta, dada a musicalidade de suas frases... Mas, em verdade, atrás de sua granítica veemência reformista, oculta-se um espírito humanista inconformado. E é quando surge, a cada passo, o poeta exuberante que sabe fazer música com as palavras e se comunicar com as almas sensíveis."
Jornalista Rubens Amador. Pelotas - RS.

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"Todo o meu tempo disponível, estou com teu livro nas mãos."À Sombra do Barbaquá" é algo deslumbrante, habib! Fico pensando.... é a tua história? Passaste por tudo aquilo? Ou o personagem é fictício? Gostaria de saber... apesar de não ter o mínimo direito de especular, nem questionar o poeta ou o escritor. Mas me desperta de tal modo a curiosidade, que choro ou rio no decorrer do relato. Sim, porque teu livro é mais um relato, pois tem poucas falas. Existem nele frases que grifei, eivadas de sabedoria, de filosofia e de tanta sensibilidade, que nem sei como definir. Só sei que meus olhos se enchem de lágrimas, meu querido. Das frases de tanto enlevo passas, imediatamente após, para outras de tamanha crueza, que é impressionante como manténs o equilíbrio... Gosto da tua estilística! Essa é a verdade!... Espero que não tenhas ficado aborrecido por eu ter colocado no scrapbook dos meus amigos um trecho do teu livro. Se me permitires, colocarei outros que me impressionaram muito. Espero com isso que despertem para essa obra magnífica, habib. Estou adorando! Tuas obras nos prendem muito a atenção, nos deixando ansiosos para saber o final. Somente agora compreendo o porque de dares tanto valor à inteligência das pessoas. Pois, como te expressas, a ignorância gera tudo o que existe de degradação e promiscuidade moral. Se estiver errada, corrija-me, por favor.”
Nadja, poetisa - Santos/São Paulo - cleo.cultura@terra.com.br (Incredi Mail) - nadja_bella@hotmail.com (messenger hotmail - msn)

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"Consagrado de alma e corpo, de pulso e cérebro, à causa dos fracos, dos perseguidos, compreende e justifica a raiva de seus delatores. Homenageado pela massa popular, ele não tem tempo para olhar a máscara repugnante dos encasacados. Quando pisado na sua honra, assemelha-se a um leão bravio a correr de extremo a extremo das selvas. Aprendeu a chicotear com o verbo os fariseus deste século, alguns conhecidos como verdadeiros vilões. É no combate que se sente bem. É destruindo esses castelos de lama, erguidos pela aristocracia do delito, pelos comparsas dos crimes sociais, políticos e religiosos, que sente vibrar seus nervos. Sua literatura é uma síntese de humanismo e de revolta, onde sobressai, acima de tudo, a verdade em toda a sua magnitude."
Jornalista e Poeta Juliné da Costa Siqueira, membro da Academia Sul-Brasileira de Letras. 1985

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"Olhe, você é 10, é 100, é 1000, é tudo de bom. Adoro ler seus poemas! Quando entro no meu orkut e vejo suas poesias, para mim o dia fica muito mais alegre, mais cheio de vida, porque elas me transmitem isso: VIDA! Parabéns! Você, mais do que ninguém, merece não só uma, mas várias Comunidades. Continue assim, levando poemas lindos para esse povo..."
Cláudia Queiroz Simões – Marabá - Pará

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"Antônio. Cada vez que recebo um poema seu é como se eu conseguisse me transportar a atmosferas interiores inimagináveis, ao caos inter-pessoal, a transcendência, à espiritualidade dos seres invisíveis e alados. Continue sempre nos brindando com seu trabalho inigualável; saiba que aqui tens um admirador."
Rogério Santorine - Brasília/DF - rogeriocantor@yahoo.com.br

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“... Tudo o que você escreve é intenso! Parabéns pelo talento! Abraço carinhoso”
Bel Piccoli – Porto Alegre – Rio Grande do Sul

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“A Irmandade Poética agradece sua existência, sua persistência e a forma amiga de celebrar a amizade através das suas maravilhosas poesias”.
Leandro - Goiás

“AMEI! És um gênio das palavras, meu poeta amigo!”
Josemilda Correia - Jataúba/Pernambuco
josemilda-@hotmail.com

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"Quem escreve como você há de ser uma pessoa de muita sensibilidade.”
Marilena Castro Alves - Guararema - São Paulo - marielenacastro8@hotmail.com

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“Como seus poemas são cheios de luz!”
Kaki Silvestre

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“Fico buscando palavras para responder a poemas tão lindos!”
Fernanda - Paraíba
thacyane.simoes@gmail.com

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"Caro Poeta Antonio Kleber: Realmente, suas poesias são encantadoras e, com certeza, fala ao nosso âmago e vai ao profundo do nosso sentimento. Gosto mesmo! Principalmente os sonetos românticos que você, com sua pena inspirada, consegue compor. Parabéns”.
Igreja Assembléia de Deus de Pau D’arco I
acesse: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=44404818

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“Olá, amigo Antonio! A minha comunidade de compositores e poetas está à sua disposição. Aguardo sua presença! Faça uso dos tópicos, das enquetes e dos eventos. Sua presença é uma honra!”
Regis Clem (Compositor) - São Paulo/SP
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=31599218

"Sua poesia é de extrema qualidade".
Ewerton Antonio Nóbrega - Recife/Pernambuco - ewertonanobrega@bol.com.br

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“O seu trabalho é forte e característico, o vocabulário precioso, originado de uma pesquisa infatigável. Dono de uma imaginação fabulosa e de observação arguta, estilo próprio e vigoroso, muitos de seus contos enquadram-se entre os melhores da nossa ficção já produzidos”.
Escritor Everaldo Botelho Bezerra, Presidente da Academia Gonçalense de Letras,Ciência e Artes - AGLAC - Fevereiro/ 2001

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“Oi, Antônio Kleber! É gratificante ler tuas poesias. Elas tocam minha sensibilidade. São tão lindas! Obrigada por tuas lindas pérolas, por tua amizade e por teu carinho. Tenhas uma linda tarde e uma semana maravilhosa”.
Claudia Lopes - Goiânia/GO - cecipx@gmail.com

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“Um dos mais belos poemas que já li!”
Ceres/RS - ceresdaiane@yahoo.com.br

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“Querido Antônio Kleber, teus poemas fazem-me bem, são inspiradores e alentadores. És talentoso e sabes bem escrever. Mereces sucesso! Muita luz no seu viver”.
Ângela Mendes - Passo Fundo/RS - angelalajus@yahoo.com.br

*

Índice

Abraça-me Sem Medo - 21
Processo dos Instintos – 22
Soneto Teu - 23
Sucessão de Culpas - 24
Doidaria - 25
O Beijo - 26
Fugacidade Eterna - 27
Onde Estás? - 28
Esperança e Devaneio - 29
Silêncio Ansioso - 30
De que Adiante? - 31
Apogeu - 32
Amor Tenso e Febril - 33
Sonhos e Asas - 34
Amor Distante - 35
Meus Poemas São Teus - 36
Sonho Indefirido - 37
Acerto - 38
Fingimento - 39
Noite Orgiática - 40
Peso das Quimeras - 41
Ilusões - 42
Surpresas - 43
O Caos de Cada Dia - 44
O Resto é Utopia - 45
Sei que é Assim - 46
A Silhueta de Teu Corpo - 47
Místico Encanto - 48
De Súbito... - 49
Se... - 50
Desejo em Devaneios - 51
Rito Madrigal - 52
Desprezo - 53
Quero Te Ver - 54
Delírio - 55
Quero-te Assim - 56
Adeus Definitivo - 57
Desintegrador de Corações - 58
De Repente, a Manhã - 59
Instinto Cru - 60
Corpos Exauridos - 61
Poder da Criação - 62
Pagar o Devido - 63
Meu Verso - 64
Trilha da Alforria - 65
Repulsas - 66
Amor Fantasma - 67
Sucessão do Tempo - 68
Nosso Ardor - 69
Deliqüescência - 70
Futuro das Florestas - 71
Desejos Que me Habitam - 72
Teu Desprezo - 73
Desenlace - 74
Nova Madrugada - 75
É o Fim - 76
Teu Corpo - 77
Façam-se Porcos de Porão - 77
Promessa - 78
Sem Saída - 79
Enfeita-te - 80
Ação Torpe - 81
Caminhos de Gozo - 82
Vem, Amor! - 83
Desejo Que Alucina - 84
Nada me Intriga - 85
Renascimentos - 86
Estamos Sem Estar - 87
O Verso - 88
Desejo de Voar - 89
Um Sonho Só - 90
O Tempo do Agora - 91
Ainda Não Sei Como Acontece - 92
O Amor e Suas Contradições - 93
Alforriar-te, Jamais! - 94
Beijo Frio - 95
Aventuras - 96
Buscador de Soluções - 97
Minha Sorte - 98
Amar É... - 99
Não me Farei de Aço e Concreto - 100
Estás Presente - 101
Encontros Sem Sorte - 102
Tempo de Esplendor - 103
Antecipem-se os Mistérios - 104
Encantos Noturnos - 105
Mentirosos em Penca - 106
Norte Sem Volta - 107
Isso Acontece - 108
Solidões - 109
É Assim que Acontece - 110
Ritos Feretrais - 111
Outro Consorte - 112
Amor Pressagioso - 113
Miudezas e Estranhezas - 114
Promessas - 115
O Retorno É Utopia - 116
Milagre Chamado Vida - 117
Vida em Desatino - 118
Alma Cética - 119
Mamilos - 120
Saudade - 121
Dois Verbos Fortes - 122
Flores Funéreas - 123
Declínio - 124
Teu Cheiro - 125
Cio Abismal - 126
Mecânica - 127
Aplauso à Coisa à-toa - 128
Só Falarei de Amor - 129
Legaste Desilusão - 130
Dizer o Quê? - 131
O Fim - 132
Teu Retorno - 133
Eternidade - 134
Emoção de Caos e Fogo - 135
Sofrer é o Teu Destino - 136
Viver em Vão - 137
Dos Males o Menor - 138
Estive Onde Hoje Estás - 139
Amor Universal - 140
Rua do Menino - 141
Senha - 142
Aplaudo a Rocha - 143
Voz do Futuro - 144
Modorra Moribunda - 145
Bolsões - 146
O Tempo Acabou - 147
Desprezível Sentimento - 148
Zero da Existência - 149
Desilusão - 150
Agônica Miséria - 151
Exclusão - 152
Ficção - 153
Lacaios - 154
O Tempo que Prove - 155
Doença Sem Cura - 156
Voragem - 157
Tempo das Funduras - 158
O Homem do Mar - 159
Acúmulo de Culpas - 160
Abismos Fatais - 161
Não Há Sorte - 162
Teu Retorno - 163
Comando Frágil - 164
Periferia Desprezada - 165

POEMAS:


ABRAÇA-ME SEM MEDO

Abraça-me sem medo e então debulha
cada um dos pesares que te afligem.
Verás que eles não passam de fuligem,
impondo-te rigores de patrulha.

O mundo somos nós e as circunstâncias;
são nossos zelos, regras, nosso tino,
tornando muita vez luciferino
o decidir atroz da inoperância.

Sabido que o passado é arquivo morto,
por que ressuscitar história antiga,
atos e fatos rudos à alma pura?

Abraça-me; dar-te-ei paz e conforto,
serenidade, luz e mão amiga,
sob as sanções do amor e da ternura!



PROCESSO DOS INSTINTOS

Refaço-me no teu gemido denso,
no suceder sem conta da ânsia tensa.
Não há impedimento ou desavença,
limitando este amor que nasce imenso.

Senhor absoluto de teus sonhos
- e tu musa perfeita do meu verso -,
renovo as forças vivas do universo,
no expurgo dos sentidos enfadonhos.

Teu grito brota da alma ebulitiva;
estou agora imerso no bramido
que soa no meu cosmo uno e distinto!

A ardência luxuriosa emerge viva,
vulcanizando os veios da libido,
no processo primevo dos instintos!


SONETO TEU

Este soneto é teu, de mais ninguém.
Quatorze versos - linhas de saudade -,
neles gravei a nossa realidade
e o sentimento meu, que vem dalém!

Aqui te mostro o colo da ternura,
a boca que promete o beijo ardente,
a palavra do senso producente
e o cenário da sorte mais futura.

Ah! Sonetos, poetas, versos, rimas!
Nesse universo, és tu quem mais me animas,
entregando-me os sonhos do sentir!

Meu verbo é de alma e carne, amor e estima,
é o núcleo dos encantos de um devir,
na mágica emergência do porvir!


SUCESSÃO DE CULPAS

Em minha alma, remexem-se ancestrais.
É carga colossal que as tantas eras
acumulam nas veias das esperas
na sucessão das forças neuroniais.

Sofro a emergência de um caudal de culpas,
sou legatário deste fado amargo;
neste elo, lanço à descendência o encargo
de receber também as minhas culpas.

Minha existência não se regenera;
o tempo passa impondo seus poderes,
sem que se saiba quais os seus critérios.

Desde os primeiros lodos da biosfera,
no aprimorar sistêmico dos seres,
a natureza impetra seus mistérios.



DOIDARIA

Ah, doidura comendo-me por dentro,
lacerando os sentidos feito monstro,
bicho perverso, mau, rude, indomado,
sem peias, transtornando meus instintos!

Coisa maluca, tranca a minha voz,
enfraquece meu pulso, rompe o passo,
transtorna o pensamento, me enlouquece,
sofrenando o desejo pouco a pouco.

Que sensação estranha me atordoa,
rompendo as estruturas do que sou,
como se o mundo todo desabasse?

No brutal desnorteio em que me encontro,
vislumbro que as vergastas que ora sofro
são filhas de saudade intensa e acerba!



O BEIJO

Guardo teu beijo, terno beijo, na memória.
No inverno cinza, a despedida, último adeus.
A solidão ficou; mataste os sonhos meus
de reviver os lábios teus, ah, doce história!

Amargurando o teu partir, fiquei sem paz.
Amor desfeito, até a folhagem dos capões,
no farfalhar da tarde, aviva as ilusões,
sob canções maduras, belas, outonais!

As estações se sucederam desde então!
Alma constrita, olhar perdido no horizonte,
eis-me monástico, variando em vil mudez!

Trago a utopia torturando o coração;
sob estertores, fraco, almejo que desponte
grata esperança de beijar-te uma outra vez!
(Republicado. Acréscimo de rimas)
FUGACIDADE ETERNA

Os sons explodem rudos sobre os linhos
do leito da luxúria sem limite.
Derivam-se do impulso e do apetite
da libido ancestral em que me alinho.

Pressinto vivo o símio inaugural
nos onomatopaicos sons do gozo.
Mergulho, então, no ambiente estrepitoso
levado pelo instinto sensual.

Miríades de pontos flamejantes
inundam o infinito poderoso,
enquanto o inconsciente ganha o espaço!

O frêmito do corpo é alucinante
- evento augusto, fato milagroso -,
fugacidade eterna em teu regaço!


ONDE ESTÁS?

Essa dor imatura, franca e verde,
avançando em marítimas correntes,
morre todos os dias, às manhãs,
sob o verbo das aves pescadoras.

Vem, meu irmão, sou eu quem te convida
deste cais de partidas sem retorno.
Os barcos que se foram, não voltaram.
Fazer o quê, senão sofrer saudades?

Ainda é cedo, irmão, para aventuras;
o mar convida os pés às ondas mansas;
não soframos o abismo dos escuros.

Águas marulham, verde-alface ao vento,
corais profundos, rochas, onde estás,
se mais te chamo e não te vejo nunca?

ESPERANÇA E DEVANEIO

Sofreguidão voraz, quero-te inteira!
Alma lasciva, nua ao teu gemido,
emergi do meu sonho mais ungido
como o animal primeiro e sem fronteira!

A vida são fugazes relampejos
- evento assaz ligeiro que se esfuma -,
porém, o amor que nutro ele se arruma
no ror da eternidade dos desejos!

Vem. Chega-te aos meus braços, não há pejo;
revela-me teus planos, teu anseio;
far-te-ei feliz, dar-te-ei enlevos plenos!

A sorte foi lançada e, neste ensejo,
atrelo-me à esperança e ao devaneio
de confiar meu veneno aos teus venenos!


SILÊNCIO ANSIOSO

Quero sentir teu corpo e a tua essência.
Vamos, entrega a boca ao meu desejo,
no sublime voejar dos meus ensejos,
como a abelha se entrega à florescência.

Na primavera viva dos encontros,
dá-me a volúpia pura que te toma,
em forma de ais, gemidos, sem redoma,
que te farei feliz com pouco apronto.

No navegar sem rumo dos tremores,
rompa os limites cinzas do teu medo,
agarra-te com fé aos teus sentidos.

Sinta o silêncio ansioso dos ardores:
é a natureza abrindo as portas cedo
dos mistérios que trazes tumescidos!












DE QUE ADIANTA?

Maldita sorte efêmera que escapa,
miséria resoluta que me afronta.
O meu estado abúlico dá conta,
que em pouco a solidão me dará tapas!

Hiberno sob versos mal escritos,
ao gelo dos invernos da existência,
apontando as mazelas das essências
da sociedade inútil dos proscritos!

Maldito prêmio de aço, espinho e fogo,
sonho fugaz de breve desafogo,
que agora me tortura e me devora!

Mas... de que valem ais, reclamos, rogos,
se a vida exemplifica e professora,
que a morte a todos levará embora?












APOGEU

Tempo de sombras; chove e a voz da noite
cumprimenta os mistérios noturnais.
Mãos e lábios inquietos, nada mais,
meus passos dão-se ao léu provando açoite.

Na alma arde uma saudade intensa e nua,
vício de amor sem porto e conflagrado,
sob vagas vencido e tresvariado,
senhor do zero à esquerda sob pua!

Se o teu amor é meu, como é que, então,
trazendo em descompasso o coração,
não sinto amiúde o beijo e o corpo teu?

Ter-te assim, acredita, é ter-te em vão,
barco à deriva, tempestade e breu,
elevação da dor ao apogeu!












AMOR TENSO E FEBRIL

Ferreteado à memória, trago ainda
teu corpo exuberante em nudez plena,
que ao lado de meu corpo contracena,
inspirado em libido intensa e infinda!

Embora há tanto tempo segregado,
fixei para sempre aquele instante,
em que tu - jovem, bela e luxuriante -,
sob ânsias, te entregavas ao meu fado!

Trago-te linda, viço assaz intenso,
dona do sonho azul onde o amor vive,
envolta de frescor primaveril.

A trilha da aventura, hoje não venço;
no entanto, meu desejo sobrevive
sob a antiga expressão: tenso e febril!












SONHOS E ASAS

Correr sem frenagens ao mar e à montanha,
em busca do tempo que alhures se esvai;
amar quem nos ame, gemidos e ais,
abraços e beijos em dócil barganha.

Tecer a coberta dos dias difíceis,
ouvindo em silêncio as lendas, os causos,
as preces anciãs donatárias de aplausos,
não tendo receio das lidas possíveis.

Rendido ao mistério das flores, das tramas,
aos pés do pecado comum, desejado,
no gozo sem freios – ardências e brasas! -.

É assim, pois, que a vida obedece aos programas
de nosso existir tão fugaz e indomado,
um cesto de sonhos vestidos de asas!











AMOR DISTANTE

Todo amor à distância amarga dores,
dão-se as mãos sentimentos de tristeza.
Sonhar é muito pouco, não põe mesa,
se presentes anseios propulsores.

No cérebro, confrontam-se, arredios,
demônios compulsivos, forças brutas,
mexericos em tramas resolutas,
transformando certeza em desvarios.

É fumo ao vento o amor em pensamento;
sem rédea, ele é atrevido, rompe cerca,
avança em direção ao campo aberto!

Não sirva esta lição de ensinamento;
não quero que ninguém seu amor perca.
No entanto, amor distante é amor incerto!












MEUS POEMAS SÃO TEUS

Não deixarei de amar-te, isso jamais!
Foste meu verso, foste rima nua,
meu verbo sem mistério na arte crua
de compor-te sonetos, sempre mais!

A primeira emoção – que doce beijo! -;
a primeira saudade – que ferida! - ;
separação fugaz – foi tão sofrida! - ;
enfim, como esquecer-te em meus andejos?

Mas a sorte de ter-te junto a mim,
pelo tempo que fosse desde então,
revelou-se incapaz de nos suster.

Meus poemas são teus, ainda assim;
minha alma te pertence e o coração
baterá forte sempre que te ver!












SONHO INDEFERIDO

Invencível engano, eis o que foste
durante a vida inteira em que, ao teu lado,
sofri dores sem conta, estremunhado,
bancando aos teus caprichos mero encoste!

Teus zelos foram farsas aos meus dramas;
teus beijos, avarias aos meus lábios.
Restam-me amargos, sobram-me ressábios;
o amor nunca existiu, somente tramas!

Acordo agora aos êxtases fingidos,
às frases feitas, nuas, vãs e frias,
proferidas às brisas do desdém.

É o despertar de um sonho indeferido;
um sucumbir atroz à voz sombria,
revelando que nunca tive alguém!












ACERTO

Desejo-te em voraz sofreguidão,
vergasta-me impulsão libidinosa.
Canto teu corpo em verso e canto em prosa,
encobrindo o que, alfim, é obsessão.

Do último encontro, lembro a tua nudez
entregue ao arrebol crepuscular.
Estávamos ali, à beira-mar,
beijos, abraços, ais, gozo e mudez.

Depois chorei o adeus imotivado,
desdita que plantaste sem aviso,
razão da vida vã que ainda hostilizo.

Voltaste; aqui me vês apaixonado
à espera de um acerto bem tramado
que me entregue teu corpo e teu sorriso!












FINGIMENTO

Deveras, há razões - e de sobejo -
para o teu proceder inusitado.
Hoje me encontro só, nulo e zerado,
rogando um instante só dos teus bafejos.

Cumprirei meu rosário acerbo e vasto,
sob a ânsia permanente de saber
por que tu me deixaste a esvanecer
ao rumo de destino tão nefasto!

Desconfianças se entreolham, minha alma estua.
No vértice das dúvidas jogado,
pensar o quê de ti, se és arrogância?

O teu agir é fonte que insinua
passo vulgar, ardor dissimulado,
encobrindo amor novo noutra instância!











NOITE ORGIÁTICA

Interessa o desejo mais profundo,
chama de ardência viva, irresistível,
trilhas vorazes, veias de libido,
sorte da carne nua em frenesi!

A forma dos sentidos tão presentes
aponta a boca e as mãos do lobo ansiado;
risco de sangue da cabeça aos pés,
há tropéis, há tremores e emoções.

Escorrendo da taça como vinho,
a lascívia que arrosta é verso estranho,
rumo ao infinito em busca que é processo!

Ei-la, pois, me tomando por inteiro,
feito bicho na selva misteriosa,
empurrando o poeta à noite orgiática!












PESO DAS QUIMERAS

Carrego o peso bruto das quimeras,
recolho verbos gastos, sigo em frente,
transtornado com a dor de muita gente,
desde os tempos primevos, priscas-eras!

Resulto de pretéritos senões,
trago culpa recente e antepassada,
coleciono cantigas reservadas
no processo frugal das sucessões!

Infeliz a ilusão sobre a existência
que leva nossos pais, irmãos e amigos!
O que faremos nós, se há tanto luto?

É carga sobre carga, uma evidência
do quanto merecemos os castigos
que os mistérios impingem resolutos!












ILUSÕES

Mas eis a natureza: mulher-ninfa,
sensualidade pura, anjo explosivo,
retrato do desejo ebulitivo,
sob o encanto dos lábios e dos seios.

Ah, sonho de algodão, sonho de nuvens,
calor a temperar-me as ânsias nuas!
Ouço tua voz, teu corpo ronda o quarto;
mais uma vez me quedarei sem ti!

Conheces (e quem não?) as ilusões
forjadoras do atônito esperar,
à luz das sensações e dos torpores!

A libido se espraia sem fronteira,
o tempo esvai-se astuto à noite fria
e tu não vens matar os meus vazios!












SURPRESAS

A vida de repente nos surpresa
- serpente, ferro, fogo, lixo e dor -,
residência do choque e do estupor,
da sorte que afinal nos menospreza.

Assim no mais, seguimos sob fardos,
precipícios sem conta, espinhos nus,
roendo cordas vivas sobre a cruz,
recebendo do azar os seus petardos.

Aventuras de gritos madrigais,
pios de agouro, sombras e algo mais,
não há como impedir os pesadelos.

Após poções, magias, muitos sais,
sobra a decepção e os desmazelos,
vida vivida, arquivo de atropelos!












O CAOS A CADA DIA

Rendo-me ao tempo cru, brumas e visgos,
da vila, da favela, dos bolsões,
bairros da vida vil, áspera e rota,
repositório amargo de estupores!

Encosto-me à parede dos flagelos,
sinto a agressão dos tiros, dos assaltos,
das armas oficiais e dos bandidos,
alvo nu posto à mira da violência!

Assusto-me movido pelas regras
ditadas pela força dos delitos
nascidos na comuna em desespero!

A prática legal é assomo infausto,
diante das causas vivas dos conflitos,
edificando o caos a cada dia!



(ATÉ AQUI, COMUNIDADE DE SONETOS)

25 de março de 2009






O RESTO É UTOPIA

O tempo não dá tréguas; ele avança
sobre a existência bela, mas fugaz,
vaticinando o fado contumaz
que distancia o homem da criança.

A vida chega ao fim, cessa a refrega;
baús inteiros abrem-se à lembrança,
enquanto mais e mais a hora avança,
cerceando o passo humano que se entrega.

Fazer o quê dos sonhos, dos projetos,
das ilusões, dos cantos que a alma cria,
se ao fim somente vinga a nostalgia?

No presente, floresça todo afeto,
vença o amor no sentido mais completo,
porque no mais são dores e utopia!












SEI QUE É ASSIM

Imagino-te entregue aos teus lençóis,
ao frescor dos teus linhos e dos sonhos,
longe dos pesadelos enfadonhos,
à espera da manhã dos rouxinóis.

Descansas dos labores rotineiros,
vencida pelo excesso de árduas lidas,
junto aos frutos que, ciosa, tu abrigas
- filhos de amor antigo, o amor primeiro...

A tecer-te a visão do que pressinto,
assumo o voyeurismo que me atiça,
mergulhando em voraz sofreguidão.

O desejo, no entanto, é labirinto
que exige da aventura muita liça
para obter do amor sua afeição!












A SILHUETA DE TEU CORPO

Gaivotas debandam; os abrolhos
repintam a praia branca de bagaços.
As ondas agitadas prenunciam
a tua ausência breve dos meus olhos.

Lamentam meus sentidos tais anúncios
da amarga solidão que deitará
daqui a pouco sobre meus momentos,
edificando a cruenta nostalgia.

Partirei para o inverno das procelas,
ficarás sob a sorte de teus pulsos;
seremos, na distância, dois ausentes!

Na areia, a silhueta de teu corpo.
O mar, a espuma branca e a praia extensa
acenam aos adeuses dos desejos!












MÍSTICO ENCANTO!

Fustiga-me a fera em minha alma enjaulada;
eflúvios, mistérios que roncam estranhos,
princípios primeiros trazendo o tamanho
do monstro que aturde desde eras passadas.

Há olhos profundos, há garra afiada
guardando seu templo no meu universo,
compondo um futuro ainda mais controverso,
pois que o tempo segue com a voz sigilada!

Perguntas sucumbem; nenhuma resposta!
Os homens se bastam num vezo ilusório,
banhados de místico encanto, otimistas!

Aquele que olvida o sofisma e a proposta
de uma alma feliz e de um céu compulsório,
da vida, talvez, com desprezo desista!












DE SÚBITO...

Sobre ti, arrojei-me como o vento,
que alhures vence vales e montanhas.
Ajustado ao ardor das tuas manhas,
teci ânsias de puro arroubamento.

No frenesi noturno, falta o senso;
ao som das ondas sobre a penedia,
chegamos muito próximos do dia,
entregues ao abraço e ao beijo intenso.

A volúpia sem rédea eclode insana
no universo pujante do desejo,
vertendo à gemeção libido ativa.

De súbito, o silêncio do nirvana.
Ambos se dão, de pronto, aos pestanejos,
ao aguardo de novas ofensivas!












SE...

Se mais amor houvesse - mais prazer,
beijos sem conta, encanto, sonho e ardência -
eu te daria o mundo e a reverência
da paixão, do desejo e do meu ser.

Provarias o fruto da benesse,
ganharias o doce de meu verso,
ceder-te-ia o sentido do universo,
se outros prazeres tantos eu tivesse!

O que há, no entanto, é mera expetativa
de ter-te muito mais às minhas ânsias,
fazendo-me feliz, embevecido.

A sorte que se arruma não se ativa,
enquanto o amor transite em discrepâncias
e o desejo sucumba desvalido!












DESEJO EM DEVANEIOS

Atapetaste o chão com lindas rosas,
ao olor de fragrância setembrina;
flores maduras, lindas, perfumosas,
então constrói-se a alfombra que fascina!

Paraíso de amores, de ilusões,
a primavera é só desejo, é fuga
em direção ao sonho que conjuga
instantes de prazer e encantações.

Teus verbos consolidam meu sentido;
encanta-me o chamado que ora lanças,
visando entrelaçar nossos anseios.

Chego à estação regente da libido.
Olho ao redor, matizes de esperança
ornando-te o desejo em devaneios!












RITO MADRIGAL

A brisa matinal roça meu rosto;
calou-se a madrugada, o sol desponta.
Sobre o leito que fica, o amor sem conta
hiberna, até sentir-se recomposto.

Corpos exaustos, rendem-se à apatia,
resguardam-se da vida, do prazer.
Almas sensíveis, vão-se a embrandecer,
zera a lascívia, esconde-se a ousadia.

Emerge da consciência milagrosa
a ilustração das ânsias mais nervosas
do porvir renovado do casal!

Embora o arrefecer libidinal,
reconstrói-se a impulsão luxuriosa
para o próximo rito madrigal!












DESPREZO

É difícil forçar o amor rompido,
curar feridas vivas, esgarçadas,
relembrar as histórias enlaçadas
no entremeio das asas do cupido!

Não é sonho, mas denso pesadelo,
querer o que foi seu – o corpo ansiado! -,
sabendo-se excluído, mal-amado,
entregue à lida inútil pra reavê-lo!

Transformado em destroço o sentimento,
virado em cinza o amor outrora chama,
após a tempestade, resta a lama!

Emergem cacos, troços, teia e vento
do coração daquele que a um só tempo,
despreza e pisoteia quem tanto o ama!












QUERO TE VER

Quero te ver: avisa-me onde estás,
provar de novo o sonho que extasia,
tomar-me, então, da plena fantasia
ao calor de paixão doce e veraz!

Quero teus lábios rubros no apogeu;
não me negues o brilho dos teus olhos.
Minha alma agora emerge dos escolhos,
ela é a morada do prazer que é teu!

Entrega-te aos meus braços e ao meu beijo,
funda teu corpo ao meu num gozo intenso,
ajusta teus gemidos aos meus ais!

A ardência que me toma é só desejo;
o instinto sacoleja, já não penso;
Quero te ver: avisa-me onde estás!












DELÍRIO

Não sei se delirei, mas se é delírio
tresloucar na aventura pelos cosmos,
- feito de gás, rasgando o céu de estrelas -,
então eu desvairei pelo universo!

Se fui a algum lugar não tendo ido;
se conversei com seres doutro mundo;
se rompi as muralhas da razão,
confesso-vos: fui servo das quimeras!

Se despojado da alma assim me fui
aos estranhos recônditos da mente,
retorno agora à minha completude.

E estando aqui ao pé da realidade,
atônito pergunto sobre o tempo
que passei no portal da eternidade.












QUERO-TE ASSIM

Amor, quero-te assim, linda e fogosa,
entregue às asas livres do prazer.
Far-te-ei na alfombra, à fresca, enlanguescer;
ser-me-ás, assim, mulher mais desejosa!

Teus pelos tatearei, também teus seios;
nos teus lábios, aos beijos, sorverei
murmúrios, ais, gemidos... ah, nem sei!
Talvez me faça escravo aos teus anseios!

Volúpia, ardor do sonho e da quimera,
da infinitude eterna dos mistérios,
é a explosão que incendeia meus instintos!

Porém, amor, teu corpo é o que exubera,
inspiração norteando meus critérios,
guardião a me livrar dos absintos!












ADEUS DEFINITIVO

Ondas revoltas bramem e anunciam
que em pouco buscarás outro destino.
Conheço o teu passado libertino
e as impulsões que agora te assediam.

Sobre as areias beges, minhas ânsias
hibernarão até que a ardência escoe
(não duvidando, até, que te perdoe
dos erros teus, das tuas dissonâncias!).

Contigo me levei sob loucuras,
à moda dos lençóis em desalinho,
junto ao teu corpo entregue e ebulitivo!

Ser-me-ão alheias tuas aventuras,
será somente teu teu descaminho.
Recebe, pois, o adeus definitivo!












DESINTEGRADOR DE CORAÇÕES

Saudade, ei-la chegada de mansinho,
açoitando sem freios, como os ventos,
que guasqueiam qual laço de três tentos,
herança de amargores e de espinho!

O desalento toma conta da alma,
os olhos para trás voltam-se tristes.
É dor que não se presta aos vãos despistes,
lesão emocional que atiça o trauma!

Saudade é abancamento sobranceiro,
domínio dos impérios do consciente,
fragilizando todas pulsações.

Sentimento profundo e verdadeiro,
das dores ele é amigo e conivente,
um desintegrador de corações!












DE REPENTE, A MANHÃ...

A noite foi de festa, devaneios,
prazeres, rendições, ardor intenso.
Os êxtases postaram-se em consenso,
revelando o futuro dos anseios!

Interagentes - corpos, almas, vozes,
um séquito de augustos sentimentos -,
eis que então brota o tempo dos eventos,
ao canto ilhéu do bando de albatrozes!

É a manhã surpresando os corpos nus,
calando, com gorgeios, os gemidos,
deixando a madrugada para trás.

De súbito, ficamos jururus,
mas certos de que o tempo já vivido,
retornaria em breve, mais loquaz!












INSTINTO CRU

Aflora-me um sentido muito estranho.
Confundo-me com as eras sobrepostas
(arquivos que aprimoram gerações),
diante das previsões mais primitivas.

Assumindo o rebelde que me atiça,
percebendo o sofrer dos que se doam,
pressinto que a injustiça material
seja a expressão exata dos iníquos

que hoje definem moldes aos espíritos.
Arde a dúvida fútil a cada instante,
rompendo os equilíbrios e a harmonia,

transmudando-me em fera primordial,
senhor da pedra bruta mais antiga,
dono das impulsões do instinto cru!












CORPOS EXAURIDOS

Devora-me, vamos, disponho-te o corpo!
Assume teu vezo lascivo e me toma.
Desejo o prazer rompedor que se assoma
da tua ânsia nua - consolo e conforto! -

Agora costura teus ais sobre mim
- arfantes, gemidos profundos e doces! -
O teu cavalgar, faze-o como se fosses
romper sem limites os teus frenesins.

Deslize o suor entre os teus seios túmidos;
meu corpo se inunde de sexo úmido.
Entreguem-se os corpos aos veios lascivos!

Esgota-te, vamos! Entrego-me fúmido
ao ver-te feliz no impulsar convulsivo,
buscando o prazer mais intenso e explosivo!












PODER DA CRIAÇÃO

O milagre da vida é transcendente,
a natura esmerou-se em dar-lhe porte.
Milhões de anos romperam sobre a morte,
lavrando a evolução mais que evidente.

Há sombras no universo misterioso,
segredos há no cosmo sem limites,
entulha-se a lixeira de palpites,
enquanto o tempo segue rigoroso.

Das funduras, sobeja o grito intenso
do mais primevo ser da raça humana,
alardeando o poder da criação.

Lançado sobre a terra e o mar imenso,
abrupta-se o homem em luta insana,
no aprimorar-se a cada geração!












PAGAR O DEVIDO

Sopesando as ações antepassadas,
chamando o feito à ordem com Justiça,
a meta é que o sofrer se distribua,
dando-se à dor medida a quem mereça.

Não vá a dosimetria se exceder
na aplicação das penas milenares,
sobre os que vêm remindo seus pecados
perante as luzes mestras do universo.

Requeiro este armistício humildemente
à força que comanda este meu grito,
sob a gerência arguta do bom senso!

Pagar o que se deve, nada mais!
Que pelo pecador não sofra o justo,
tampouco pague aquele o não devido!















MEU VERSO

Meu verso é de verdade: é carne e sonho,
é sangue ardente, impulso, amor e garra,
é a sorte que proclama e não desgarra
dos limites do verbo a que me imponho.

Avenidas, esquinas, becos, praças,
eis meus versos rasgando os ares nus,
levando às consciências canto e luz,
homenageando espíritos sem jaça.

O esplendor que reluz vindo do céu
e a pujança das forças terrenais
são retratos do verso, hábil pincel.

É o cofre dos segredos eternais;
devaneando feliz, lança-se ao léu,
simbolizando encantos materiais!












TRILHA DA ALFORRIA

Aniquila o pudor que frustra o anseio;
meu corpo febricita, ardo em desejo.
Desde há muito te quero e agora vejo
a chance de pôr cobro ao desnorteio.

Entrega-te aos meus vícios, eis meus braços;
acorda à natureza em que me intrigo.
Ao pejo que te invade e encontra abrigo,
manda à fava, ele é fruto dos fracassos!

Os prazeres do corpo assaz presentes
ressumbrarão em mágica alquimia,
lavrando na alma o encanto que inebria!

Sob a nudez lasciva e refulgente,
sentirás que contigo fui consciente,
apontando-te a trilha da alforria












REPULSAS

Às vezes, lanço o pio dos agouros
para afastar a sorte inconveniente.
Não gosto dos impasses consequentes
às lavrações sem freio dos desdouros.

Não sei viver à conta das fraquezas,
da dúvida que embota, do desprezo,
da consideração banal, sem peso,
ou sob o verbo vão das tacanhezas.

Assim, repulso máscaras e mitos,
abomino disfarces e mentiras.
Aquilo que não sou, jamais serei!

Verbalizo, portanto, o que acredito;
tudo o que ouço e não gosto, logo expira.
No mundo dos meus sonhos, faço a lei!












AMOR FANTASMA

Ao breu da noite, junto ao mar, caminho,
entregue aos sonhos de lascívia intensa.
A brisa tonta me pinica a crença
de que à mulher ansiada me avizinho.

Sob o explodir das ondas, lanço os passos,
afundo a areia morna e rompo o tempo.
À frente, lanço o olhar sem contratempo,
à espera tensa de extremoso abraço.

No coração, a ardência denuncia
a intensidade dos fulgores tantos,
egressa da luxúria que entusiasma.

No entanto, foi-se a noite e, quase dia,
Sobraram-me vazios, dores, prantos,
ao lado de um frustrante amor-fantasma!












SUCESSÃO DO TEMPO

Um beijo sela as horas que se findam;
vão-se o prazer, o ardor e os ais alfim.
Os corpos nus se afastam, já não lindam
à natura lasciva, ao frenesim!

Impulsos de ânsia louca ganham termo,
diante dos raios áureos que nos banham.
Nossos desejos quedam, não se assanham;
o amor hiberna entregue, fraco, enfermo!

No entanto, um veio de esperança aflora:
após mitigação do sono austero,
mostra que a noite é a sucessão do dia!

Este andejar do tempo não demora;
a madrugada logo torna - é vero -,
cedendo a novo canto de euforia!












NOSSO ARDOR

Na praia, a noite afoita se fechava,
a vela se queimava, o mar bramia.
Teus olhos coruscavam, tu sorrias;
as mãos nas mãos, o amor me inebriava.

Trescalavas o olor da musa eleita;
minha alma inflou-se toda, em relampejos.
Nossos lábios sedentos por um beijo
decidiram o encontro de uma feita.

Sobre a rua deserta, o vento solto
trazia maresia ao nosso rosto,
tomados de emoção, luz e calor.

Então, sobre as areias, desenvoltos,
vencendo a brisa fria - mês de agosto -
só Deus soube a extensão do nosso ardor!












DELIQUESCÊNCIA

Meu canto é de saudade, é canto triste,
rompendo as noites frias da campanha.
O minuano me açoita, ele me lanha,
arregaça minha alma - dedo em riste! -.

Invólucro albergando a solidão,
a bruma noturnal é treva espessa.
E antes que o breu mordaz desapareça,
o mal flagelará meu coração.

A voz do tempo chega indiferente,
entrega-me a sentença e seus rigores,
decretando de vez termo à existência!

Ele passou veloz, tão de repente!
O que faço são rendas de vapores;
dou-me agora à fatal deliquescência!












FUTURO DAS FLORESTAS

Enfrento a travessia dos receios
sentindo o gosto puro das conquistas
- intimorato, alegre e aventureiro -
no coração pujante da natura!

Fujo dos homens vãos que se aproveitam
da natureza rica que se entrega
desprotegida, nua e sem defesa
à delinquência vil, depredadora!

Amo a verdade pura e quiromântica
das flores e das folhas que convivem
sobre o vergel de mágico silêncio.

Enquanto a vida esteja em sintonia
com esse colosso verde e misterioso,
integro-me ao futuro das florestas!












DESEJOS QUE ME HABITAM

Amo o silêncio feito pedra bruta,
matéria indesgastável que fascina.
Os milênios rompidos são mistérios
invernados nos crânios de granito!

Afogo-me na selva verde-escura
das tramas animais, das tempestades,
das virgens que sucumbem ao cio intenso,
dos rios silenciosos e profundos!

Embrenho-me nas trilhas seculares,
provando o gosto agreste das quimeras,
sorvendo as águas frescas das folhagens.

O olor das selvas puras e intocadas
rompe minha alma, acolhe meus sentidos,
dando vida aos anseios que me habitam!












TEU DESPREZO

Durante toda a vida arquitetei
render-te as homenagens do meu estro.
Não consegui, porém, vencer teu sestro;
lesões multiplas da alma suportei.

Lutei, fiz o que pude, sucumbi.
O teu amor, teus beijos, teus carinhos,
não provei destes frutos em teu ninho,
sob as promessas vãs que então vivi!

Aos tombos, qual efeito dominó,
conduta aformoseada em estranho vezo,
não consegui safar-me em paz, ileso.

Meu verbo hoje é mudez, a sorte é pó.
Desiludido, agora vivo só,
morrendo sob a luz do teu desprezo!












DESENLACE

Há sonhos sem forma - ilusão dos anseios -,
enquanto os momentos desfazem-se em pó.
A espera febril cria túneis de angústia;
é a dor do desgaste emergente das horas.

Fantasmas antigos sacodem lembranças,
afloram problemas jamais resolvidos.
O denso silêncio da espera é martírio;
montanhas erodem, desejos se acabam.

As casas antigas - bolores nostálgicos -,
revelam a infância de anseios presentes,
viagens rompidas ao vento das dores.

As rosas desfeitas, já secas, perdidas,
são mostras de um tempo acabado, sepulto;
valores estéreis, nenhuma emoção!












NOVA MADRUGADA

Lá fora, a brisa fresca da manhã
cicia junto às flores setembrinas.
Há pouco, a madrugada, na surdina,
fez-se passado, alegre e folgazã.

No leito, aos desarranjos do lençol,
dois corpos jazem quedos, abraçados,
satisfeitos, felizes, mas cansados,
sob o luzir intenso do arrebol.

Estuário de paz, promessa e sonho,
são as manhãs os frutos da natura
precogitando a sorte do futuro.

Nesse trajeto, a meta a que me imponho
traduz-se no evocar outra aventura
em nova madrugada de amor puro!












É O FIM

Encontram-se em silêncio as humildades,
os de cabeça baixa e injustiçados,
vozes que não protestam contra os bandos,
contra a canalha espúria, malquerente.

É gente manteúda sem revoltas,
diante do ardor bandido dos cinismos,
um mal recrudescente que se inflama,
sob o resguardo sólido do inferno.

Fazer o quê, não sei, tudo é confuso.
Sinto a moral cordata, ao rés do chão;
prolifera a arrogância delinquente!

Hoje a verdade é sorte, encanto raro,
exercitada em clandestino abrigo,
longe do jugo atroz das mãos facínoras!












TEU CORPO

Teu corpo é fruto sacro, é uma romã
linda e madura, é sorte ao senso meu,
é dádiva dos deuses, camafeu
- jóia talhada ao brio da Arte sã! -

Sobre ele, o desvario do meu pulso
assume as ilusões do amor lascivo,
aos moldes sem barreira e possessivo,
no elementar anseio que propulso!

A inspiração do instinto é força imensa,
amalgamando os corpos sobre o leito
que se transforma em sede de milagres.

Na aventura do gozo, a alma se incensa;
hosanas multiplicam-se e eu te espreito
a suplicar que os ais logo eu deflagre!












FAÇAM-SE PORCOS DE PORÃO!

Sobre toda a torpeza das cidades,
edificada à luz dos quartos cinzas,
das mentes deformadas, vis, ranzinzas,
abrigam-se rancores, veleidades.

Passeiam meus sentidos à surdina,
repulsando a matilha dos escuros,
navalhando as idéias dos impuros,
safando-se das tramas assassinas!

Essa gente tisnada e desabrida,
misto de coisa ruim com aberração,
chafurdará nos males que esparrama!

Durante madrugadas corrompidas,
façam-se todos porcos de porão
- grunhidos de loucura, dor e lama! -












PROMESSA

Meu vezo é te querer, é desejar-te,
sofrer a cada instante a tua ausência,
sonhar-te sob frêmitos e ardência,
pensar em ti, até que a alma se farte!

Mania de paixão rompendo o vento,
é vício este querer desenfreado,
abismo que treslouca o mais versado,
sob o correr do tempo inútil e lento!

No meu canto plangente, um rumorejo
implora em versos nus os teus carinhos,
almejando teu corpo sem alarme;

As ânsias que me brotam de sobejo
resultam de um momento em que, juntinhos,
prometeste tua alma dadivar-me!












SEM SAÍDA

Deixam-te nu no bar perante teus amigos
dão-te porrada e só depois pedem teu nome
A pressa é tua no balcão da previdência
nos hospitais as dores nunca têm razão

Aposentado és carta fora do baralho
és sombra malcheirosa sobre a sociedade
E não digas mais nada arruma-se a desgraça
a tua voz com certeza guardarás ao Diabo

As ruas não dão bolas aos teus calos nus
até os bons fluidos forjam-te emboscadas
estás perdendo a sorte a guerra a vida e o céu

Fazer o quê ainda não sei talvez tu saibas
nuvens pesadas pairam sobre teus azares
a merda foi ditada quando tu nasceste












ENFEITA-TE

Espalha tua voz neste espelho de sombras,
silêncio de lago, de barcos e juncos.
Apanha a espingarda, o casaco de couro,
o mapa, o pelego, as botas e vivas.

Passeia num tempo de canto e de paz,
e não enlouqueça por falta de amor
Depois, desabrocha a mudez e abre os braços
lançando tuas asas rompendo florestas.

E sobre araucárias enormes e antigas,
esparge orações da tua alma sem peias,
porque teus momentos são sonhos intensos.

Não temas as águas geladas do outono;
entrega-te às pencas de flores, enfeita-te.
Não deixes a vida fluir sem resgates.












AÇÃO TORPE

Atiro tropa surda e cães sobre teus medos
navalho-te em profundos golpes de silêncio
És submisso às minhas rudes impulsões
não há guarida que defenda teus receios

Eu sou teu regramento leis decretos ordens
assim eu não te deixo por nenhum momento
Aos gritos esperneias xingas lutas lidas
enquanto te domino e em cuspos te avacalho

Até no teu trabalho os olhos são vigias
no ônibus em casa aqui ali além
Atiro-te balins festins mentiras muitas

Assumo engodos força plena da mentira
de pronto atiro o chumbo-chave contra os males
quero te ver por fim podrido nos valões












CAMINHOS DE GOZO

Assim. Deita-te agora e dá-me o colo,
enquanto as minhas mãos passeiam livres
sobre os sedosos pelos, sobre as coxas,
junto à cintura inquieta, doce e ofídica.

Estamos iniciando a nossa viagem,
liberam-te os grilhões que ora se rompem.
Assumo-te e me assumes por inteiro.
Neste momento, somos dois em um,

mergulhados no cosmo dos encantos,
sem tempo de voltar à realidade.
Amanhã de manhã retornaremos

à estação desse tempo de ânsia pura,
pois sinto que tua alma descobriu
os caminhos dos gozos fulgurantes.












VEM, AMOR!

Se este desejo intenso e eletrizante
- rumor voraz que explode de minha alma -
é a causa que me inquieta, então me acalma,
traze-me a paz, a espera é torturante!

Traze a palavra, o corpo, o beijo, o gesto;
traze o silêncio doce dos teus olhos;
esquece o antigo amargo dos abrolhos
e aceita este sincero manifesto!

Entrega-me o tremor sensual do corpo,
expõe-te, então, passiva aos meus carinhos,
ao calor das augustas ansiedades.

O passado, querida, é arquivo morto;
sente os meus braços já, pois que sozinho
terminarei morrendo de saudades!












DESEJO QUE ALUCINA

Se o amargo da espera é cruz e espinho;
se o verso guarda tanta indagação;
se a inspiração é dor da mais profunda,
vale o desejo envolto às aflições.

Há caminhos margeados de esperança
- artérias ao tremor da carne virgem -,
sob passos vencendo cada espreita
no luzir serenado das estrelas.

Ao corpo desejado, uma certeza:
não há fronteira à busca, noite e dia,
vencendo cada esquina lascivosa.

Não importa que o tempo não dê trégua,
sendo fugaz a vida e os sonhos tantos,
diante das impulsões que me alucinam!












NADA ME INTRIGA

Quero dançar contigo. Então, aos passos!
As nossas bocas próximas ciciam,
enquanto as minhas mãos te acariciam,
sobre os mais prazerosos dos espaços!

Senti saudades tuas, do teu cheiro,
da música que peço em tom de bis,
buscando o enlevo raro dos Bee Gees,
rompendo a noite inteira, ambos faceiros!

Parece até que é sonho estar contigo!
(Quiçá não seja mesmo uma ilusão
dentro de outra que vivo há tantos anos!)

Seja o que for, confesso, não me intrigo.
Na magia da dança, vai-se ao chão
qualquer sofrer cruento e desumano!












RENASCIMENTOS

Repetiu-se o dourado dos trigais,
na terra cor de sangue dos meus sonhos.
Na estrada vicinal dos meus caminhos,
a história renovou-se à luz das ânsias.

Mas eis que ao tempo coube a vil tarefa
de colher a ilusão que nos sustinha:
diametralmente opostos nossos nortes,
o que fazer, senão dizer adeus?

Vê-se que a sorte errou uma outra vez;
a saudade de novo arrumou jeito
de levar-me a buscar outra paixão.

Rendendo-me ao abismo da procura
enfrento o chão do tempo, sigo em frente,
certo de que o amor renascerá!












ESTAMOS SEM ESTAR

Estamos no entrementes dos desejos,
volúpias que se extinguem a cada encontro.
A meta da lascívia insatisfeita
é nuvem já desfeita, é sonho findo.

A espera sucessiva da alma tensa
é ardor fugaz do impulso sem razão.
A voz, o gesto e o olhar são passageiros;
sobram saudades, dores, brisa e sombra.

Nas folhas esquecidas, canta o verso
edificado sobre cinzas frias,
reminiscência bela da hora efêmera!

Estamos sem estar, em transcendências,
como as ondas que morrem nas areias,
como a noite que morre na alvorada!












O VERSO

Credenciado, o verso é sonho astral,
onda de luz, alento que ao poeta
empresta o instrumental da obra que enceta,
tornando a inspiração algo real.

O verso é a força viva dos encantos,
materializa o verbo e o sentimento
em visita fugaz, sob acalentos,
à alma eterna do esteta entregue ao pranto.

O verso é alvo e seta ao mesmo tempo,
amor e ódio, paz, surpresa, espanto,
são dois verbos num só substantivo!

Com ritmo e cadência, é a voz do vento;
obra do ser humano, é impuro e santo;
nasce e morre em seu seio o amor cativo!












DESEJO DE VOAR

Atendidas as ânsias hibernadas
no cofre primitivo dos sentidos,
revelo a força viva da unidade
que envolve a inteligência e o irracional.

Mas sinto que os impulsos repetidos
do cérebro dinâmico e incansável,
aos borbotões sucumbem sem destino
à indiferença tonta dos meus rumos.

Não cedo às exigências da caverna,
embora sinta a força antepassada
habitando os meandros da memória.

Divulgo que sou livre de grilhões.
Não sei se as minhas asas estão prontas,
mas desejo voar longe dos muros!












UM SONHO SÓ

Dói-me ver-te tomada de temores,
rendida a dores tantas, lagrimada,
sofrendo em desencanto, desejosa
das minhas mãos, dos lábios e palavras.

Como quisera estar ao lado teu,
revelando-te planos e caminhos,
acariciando o colo e o lindo rosto,
surpreendendo teu riso em minha boca.

Não há, porém, lugares revelados
nesta aventura rica de desejos
que abriguem nossas dúvidas sagazes.

Concordo com quem diga esteja escrito
que o momento do amor se consolida
quando o sonho das almas seja um só.












O TEMPO DO AGORA

Agora é jamais nos meus sonhos antigos;
Agora é distância do encontro primeiro,
do canto do amor, do teu beijo, teu cheiro,
distante do olhar e da voz dos amigos.

A sorte que trago tem nome: é agora
- com toda rudeza, maldade e estranheza -,
poder da lembrança de tantas proezas,
encantos vividos na paz mundo afora.

Meu canto se ajusta aos valores do dia,
ao grito que assusta, à palavra sem volta,
porque meu passado etereal se esfumou.

Alcança milagres a voz da alforria;
o tempo presente não tece revolta,
não mais me interesso por onde ele andou!












AINDA NÃO SEI COMO ACONTECE

-Lembrando o saudoso amigo Herbert Henry Barwick-

Era o mortal da vez, que a morte, dedo em riste,
atendendo ao destino elementar, levou.
Não sei o que falar da vida que o embalou;
no entanto, ele se foi pra sempre e estou tão triste!

Tudo acontece assim, sem dó; não há clemência:
ficamos sem saber por que se sofre tanto,
se há forças estranhas inspirando o pranto,
ou se a fatalidade seja a voz da ciência.

É verdade. O mistério existe, atroz e intenso,
deixa a gente insensível, pensativa e tensa,
com um leve desejo de partir também!

Ora, sorte devassa e má, pergunto a quem
pedir socorro, quando a morte traz do além
a ceifadeira, contra a qual nunca houve avença?








O AMOR E SUAS CONTRADIÇÕES

Profundo, clandestino, belo e mudo,
intenso amor nutrido em desavenças,
trago na alma a vigília e as veias tensas,
em dor eu me desfaço, me transmudo.

O mesmo amor rompido nos venenos
- andeiro das montanhas, da sarjeta -,
também do corpo indócil da ninfeta
colhe os encantos do prazer sereno!

No toma lá dá cá das aventuras,
encanto e desencanto se argamassam,
na elementar passagem da existência.

No amor, irrompe a sanha das agruras,
explodem belos cantos que congrassam
sob as contradições, que é a sua essência!












ALFORRIAR-TE, JAMAIS!

Perderam-se as miçangas do meu terço,
romperam-se orações, rezas benditas.
Foste embora, não sei onde tu habitas;
nem sei se ainda te lembras de teu berço!

Cogito esquecer tudo e sepultar
de uma vez para sempre a nossa infância,
vendo-te entregue à nua insubstância
que te faz fria, nula, a esmiolar!

Recordo as ilusões da juventude,
quadra de amor, de paz e concretude,
que de repente foi-se ao rés-do-chão.

Perdeste em diante toda a angelitude,
teus passos foram só fornicação.
Alforriar-te jamais com meu perdão!












BEIJO FRIO

O beijo dá a certeza indiscutível
de que o amor está vivo, pleno e são.
Se a boca negaceia, eis, então,
processo de fissura iniludível.

Se queres descobrir que o amor se acaba,
explora sensualmente com tua língua
a boca que não pode dar-te à míngua
de prazer, de gemido... e até de baba!

O beijo assume um plano essencial
no ato preliminar forjado em ânsias,
vertendo a solidez da intimidade.

Se há entrega e fulgor, o amor é real;
montarás, porém, graves discordâncias,
se o beijo amante aduza frialdade!












AVENTURAS

Elejo as aventuras sobre o corpo,
procura indefinida em desencontros,
sob a manha imperita de meus toques,
aprendizes na busca aos seios nus.

Se tanto desconheça o território
da nudeza febril que tu me entregas,
acuso a intrepidez concupiscente
perdida no machismo da emoção.

Se a selva ou o campo limpo das volúpias
transformam lucidez em obsessão,
devoro-me nas cismas do pecado!

Embora em desatinos mergulhado,
sem pesquisa marcada de projetos,
permitas meu buscar em teus mistérios!












BUSCADOR DE SOLUÇÕES

Assumo meus pecados sem reclamos;
carrego minhas dores conformado;
consciente da verdade e dos fracassos,
preservo na memória meus senões.

No embornal dos princípios, trago fé;
a esperança, renovo-a todo dia.
Olhar em frente, a luta continua,
a sorte é construção feita de sonhos.

O tempo é passo a passo de aventuras,
limite das ações em que asseguro
a harmonia do gesto e da palavra.

Viver é sopesar sob os instantes
o bem e o mal, o amor e a indiferença,
é ser um buscador de soluções.












MINHA SORTE

O mar revolto explode nos rochedos,
deita na praia em ondas vigorosas;
nos escuros, imagens curiosas
pressagiam futuro de arremedos.

Sozinho, ao deus-dará, piso na areia;
O vento me castiga, eu me angustio;
ao passo a passo, entrego-me erradio,
rumo a qualquer lugar desta epopeia.

O passado foi vida, virou cinza.
Sobraram restos, troços, vozes nuas,
frases picadas, simples, sem valor.

O presente é o agora - e ele é ranzinza -;
envolto à maresia pelas ruas,
a sorte que me acena é sentir dor!












HOMENAGEM

Extremado prazer, os teus gemidos
esparzem a emoção da ninfa ardente.
Minha alma assume o anseio mais crescente
do desejo, do amor e da libido.

O rugir da lascívia explora a artéria.
Teu corpo enlanguescido é o meu domínio;
meu olhar sobre ti, puro fascínio;
cavalgá-lo sem peia é meta séria!

Sob êxtase crescente, viagem longa,
perdemo-nos num só, rumo ao nirvana,
vencidos pelo gozo universal.

Após, cessada a flama, sem delonga,
uma homenagem à glória soberana
do amor bendito, amor transcendental!












DANCEMOS

Entrega-me tuas mãos, vamos dançar,
vencidos pelos ares da montanha.
Aos passos imperfeitos, a artimanha:
aproximar os corpos e... bailar!

Encosta-te ao meu peito e então, ao sonho,
lancemos nossa sorte a voltejar,
intensos no salão, único par,
ciciando nossos ais, lábios risonhos.

Ao antigo bolero, doce e eterno,
- La Barca - fomos dois num só desejo,
mergulhados na ardência dos arquejos.

Inclemente, lá fora, reina o inverno;
enquanto vige aqui o abraço terno,
incentivando a mágica dos beijos!












AMAR É...

Amar é tentação que me assedia;
é tempestade ruda que a alma agita;
é mar encapelado que cogita
retumbar na mais rija penedia.

Amar é transformar o azar em sorte;
é sair da pobreza e ficar rico;
é sorrir, mesmo após pagar um mico;
desdenhar, ao saber próxima a morte.

Amar é ter o sonho da quimera,
o verbo da luxúria, a voz lasciva
e o corpo pronto ao gozo sem fronteira!

Amar, alfim, é ter a alma sincera,
beijo ardente banhado de saliva
e o gosto de iludir-se a vida inteira!












NÃO ME FAREI AÇO E CONCRETO

Por que não me fazer de aço e concreto, imensa torre nua, canhoneira,
vigilância segura, alma guerreira,
sem medo dos escuros, irrequieto?

Não renego esperança aos que suplicam;
ofereço meu pulso aos afligidos;
meus passos planejados, precavidos,
não se enredam nos sustos que me aplicam.

Também a vida é afeto, é amor tronante,
é a rosa e o lenço branco nos combates,
repulsa ao fel nojoso dos velhacos!

Viver não é sofrer a todo instante
tensões, perspectivas de um desate,
diante da força bruta sobre os fracos!












ESTÁS PRESENTE

A sombra do pecado que nos marca
é muro que se posta ao meu desejo.
O brilho dos teus olhos denuncia
a ardência do teu corpo erotizado.

Então, na febre lúbrica das horas,
trago meus nervos vivos em conflito,
porquanto estar contigo simplesmente
é um revelar às vistas curiosas.

Com pesar, assimilo a condição
de viver afastado do teu meio,
sustentando hibernado os meus sentidos.

No entanto, te asseguro, estás presente
com teu corpo desnudo às minhas ânsias,
no universo da minha solidão.












ENCONTROS SEM SORTE

Titubeia a voz; tremem mãos, braços, pernas...
Sinal de que a idade traduz-se em percalços,
verdade desnuda que assume seus passos
já desde o primevo ancião das cavernas!

Neurônios revelam-se frágeis, confusos;
a lida da carne descuida do ofício;
aos olhos cansados, visão mais difícil;
entregam-se os ossos na história de abusos.

Olhar para trás, rever rastros antigos,
sofrer, nos fundões da memória, lembranças
de amargo invencível, encontros sem sorte.

Caóticos tempos, temores, perigos;
há cesto de males mostrando que avança,
em rumo contrário, a desgraça da morte!












TEMPO DE ESPLENDOR

Assim no mais, o teu perfume sinto,
trazido pelas brisas da lembrança.
Eu era jovem, quase uma criança,
ganhei teu corpo à força dos instintos.

Tu eras madura e o teu olor remédio
aos meus momentos todos de desejo.
Olhando para trás - afável ensejo! -,
mergulho nos encantos doutro assédio!

Concedeste volúpia aos meus momentos,
vivi sob a loucura dos teus seios,
dos teus beijos, do corpo luxurioso!

Canto a felicidade desse evento
marcado por nós dois sem titubeios,
memória de um período esplendoroso!












ANTECIPEM-SE OS MISTÉRIOS

Fazer o quê, se o corpo envelheceu,
se as rugas se apossaram de meu rosto,
se o desejo não anda mais disposto
e se a voz do entusiasmo emudeceu?

Onde a aventura azul sob meus pés,
andejo de alma leve, de algodão,
dando sorte e vigor ao coração,
se o azar me carrega de viés?

Esperanças moídas, como calma,
se a ilusão sucumbiu e o fim da vida
clama por paz no eterno monastério?

Abandonado alhures, frio na alma,
regurgitando noites mal dormidas,
antecipem-se todos os mistérios!












ENCANTOS NOTURNOS

A noite carregada de pecado
esvai-se no silêncio madrigal.
Recebe o mundanismo a pá de cal;
dos fugazes momentos, brota o enfado.

Sonhos, lascívia e gozos no arrebol,
como mágica, guardam-se invisíveis;
hibernam à claridade, são sensíveis
ao rebuliço intenso sob o sol.

Consolidado o dia, eis que a euforia
sacode as impulsões diante da tarde
prenunciando os fulgores dos luzeiros.

Já ao crepúsculo, arroja-se a boemia.
Que o mundo de prazeres não retarde,
ventura de um encanto alvissareiro!












MENTIROSOS EM PENCA

Desperto aos testemunhos da mentira,
no palco dos apócrifos rodeios.
Na tribuna, iluminam-se os enleios;
os discursos são pães de macambira.

Que gente imunda grassa em nosso seio,
espargindo a ilusão e a hipocrisia,
aferreteando o povo à acefalia,
inundando de farsa o mundo alheio!

As comunas inteiras dão-se ao rogo,
querem longe essas pragas abismais,
fomentadoras de impostura férrea!

Que Lúcifer contente atire ao fogo
essa chusma de víboras sociais
- e não reencarnem mais à vida térrea! -











NORTE SEM VOLTA

Os sonhos são ondas vencidas na praia,
são rochas partidas, sentidos vazios,
são nuvens moídas em noites revoltas,
às vezes delírios, tremores e choros.

Restou-me o mistério, magia das águas,
deitar e dormir aos marulhos oníricos.
Ao fim, peregrino, andejar em segredos
em trilhas de brasas maduras e insanas!

Penetro oceanos vencendo segredos.
No espaço das buscas, olvido meu fim;
há muito o passado sugou meus desejos!

Na praia, antigualhas - madeiras de barcos -,
consomem-se em chamas e cheiros intensos,
decreto de morte sem volta dos sonhos!












ISSO ACONTECE

Ao ver-te, enlouqueci, fiz juras tantas,
e tu correspondeste às minhas ânsias.
Provei-te abraços, beijos, muitos beijos,
consolidando o mais profundo amor.

Lavraste as esperanças mais fornidas,
desnudando teu corpo aos meus desejos.
Quando partiste, foste e voltarias:
foi este o trato sólido do amor.

Aprumei-me na espera intransigente,
durante noite e dia, dia e noite.
Então, senti minha alma esvanecer.

Agora, do que vês, não há mais alma;
restou-me um corpo frio e desvalido
a despedir-se em vão de quem não veio!












SOLIDÕES

O que será de ti, meu caro enlevo,
nessa jornada cega todo dia,
perto do outono, à luz da nostalgia,
cujo destino nem pensar me atrevo?

O que desejas tanto às noites frias,
correndo becos nus, medos longevos,
ao risco criminoso dos malevos,
se a História já pôs cobro ao que querias?

Ninguém melhor do que tu mesma, amor,
para lembrar as noites de meu pranto,
flagelo que final nunca terá.

Abraçam-me a desdita e o dissabor;
frustrei-me sob azares, sob espantos:
eu, ainda só; tu, ao deus-dará!












É ASSIM QUE ACONTECE

Porque já te conheça mais que a mim,
de tanto ter vivido em ti o amor,
afirmo-te, mulher, que o teu ardor
não me pertence mais, chegou ao fim.

Hoje me aprumo à força da memória,
sabedor da lascívia de que és dona:
tua frieza declara que abandonas
o jogo de prazer da nossa história.

Não me faças sentir que o teu desejo
esteja vivo à sorte dos meus ais,
porque será mentira a afirmação!

Já não vibras nos íntimos ensejos;
olvidas meus impulsos animais;
causo-te enfado, és toda obrigação!












RITOS FERETRAIS

Aproximam-se as sombras, chega a noite.
O tempo foi ligeiro, sinto a morte
neste pré-funeral, fazendo esporte,
na brincadeira da alma sob açoite.

Vozes da juventude e da criança,
eis fantasmas que nascem dos abismos,
caracterizando os pessimismos,
debilitando a força da esperança.

Hoje o materialista está de negro,
sob o manto noturno dos arreglos,
à espera das espadas eternais.

Da infinitude, a dança macabrosa
inicia na tumba misteriosa
a tragédia dos ritos feretrais!












OUTRO CONSORTE

A tua ausência foi deveras rude,
ela deixou minha alma ressentida.
Sofri agruras, mágoa tão sentida,
que lá se foram vida e juventude.

Aos meus botões, confiaste teus segredos;
das tuas confidências, fui guardião.
De repente, montaste antevisão
mostrando nosso amor sobre atoledos.

Entretanto, a visão do fado atroz
nunca se deu; foi mero e vil mentir
que atropelou de vez a nossa sorte.

Observei perfídia logo após
teu gesto insano e frio de partir:
estava à tua espera outro consorte!












AMOR PRESSAGIOSO

O amor que excede é impuro e obsessivo,
confuso, patológico, cruel;
transmuda as emoções em puro fel,
tornando o agente amante engodativo.

A força dos sentidos que extrapole
é energia que, anômala, não vence
um simples ser que raciocine, pense,
traga harmonia na alma e autocontrole.

Amor recrudescido e sem limite
- sentido de explosão ameaçadora -,
é mar de tempestade e de naufrágios!

Este amor-precipício, assim, transmite
o processar de trama enredadora,
edifício de males e presságios!












MUDEZ E ESTRANHEZAS

Procuro debalde meus sonhos perdidos;
farejo tal cão de olhos vivos, profundos;
penetro noturnos vazios ao vento,
mistérios de ronda, silentes fantasmas.

Restolhos e conchas, madeiro abatido,
meus passos são lentos na praia deserta.
Enquanto me colho em silêncios e brisas,
eis que o desencontro desenha a rotina.

Na farsa das horas que marcam as buscas,
confirmo suspeitas que há muito apoquentam,
dizendo de fatos voltados ao pó.

Perante o horizonte, mudez e estranhezas,
lamentos silentes ao pé do oceano,
clamores longevos surfando nas ondas.












PROMESSAS

Lembro o beijo, o crepúsculo, as florinhas,
o por do sol, os sonhos, o carinho.
Dizias nos lençóis em desalinho
que eu era teu, e tu, somente minha!

Lembro de tuas mãos, de teus cabelos,
das palavras candentes, da paixão,
das promessas forjadas na ilusão,
mostrando o lado belo dos desvelos.

Acenderam-se à noite as luminárias,
enquanto folhas secas farfalhavam,
sob o plangente adeus que me servias.

Entreguei-me a uma vida imaginária,
monastério dos anos que passavam,
sabendo que jamais retornarias!












O RETORNO É UTOPIA

Do teu amor, sorvi sorte e prazer.
Foste mais que mulher, foste uma santa,
aturando um vilão, vil sacripanta,
que a ti nunca fez bem, só fez sofrer!

Anulei toda tua juventude;
fracassei na promessa de vitória.
Mãos amarradas, sorte vã, simplória,
sofreste sob a minha desvirtude.

Consciente do que fiz, habito o inferno;
transformei tua vida em turbulência;
não sei como remir tanta heresia!

Fazer o quê agora neste inverno
que eu montei ao redor de tua existência,
se refazer a história é utopia?












MILAGRE CHAMADO VIDA!

Nasci faz tempo - desde os bisavós! -
evolução genética que um dia
deu-me a sorte de ver que reluzia
a vida eternizada em todos nós!

Fui pedra bruta, rocha mais antiga,
ao fogo evolutivo das entranhas,
e cedo transformei-me em cinza e manha,
logo em lama, milagre que ainda intriga!

Passageiro, senhor de áspero norte,
aventura sem tempo de fadiga,
apronto-me ao futuro misterioso.

A vida, não pedi; tampouco a morte.
Nessa estranha epopéia, há quem bendiga
o lado atroz da vida e o bonançoso.












VIDA EM DESATINO

Há veias ressecadas, rudes, ásperas,
na procissão da vida em desatino.
Ei-los, então, rebeldes passageiros
sacrificando o rumo de seus dias.

A rota nua é feita de delírios,
de crenças mal forjadas, de ilusões,
de desespero, vozes e promessas,
do desencanto cruel da gente à-toa.

Desgraças bem postadas têm seus planos,
seja ao ronco burguês ou das elites,
ao grito da pobreza ou da miséria!

Ressacados da droga que alucina,
rosnam monstros na rua apodrecida,
nas valetas do esgoto a céu aberto!












ALMA CÉTICA

Aos poucos, morro sob angústia enorme,
atirado às procelas dos neurônios.
O estertorante cérebro que informe
a caótica festa dos demônios!

Ambíguas emoções, ei-las acesas,
dos tantos ancestrais dos meus poderes.
Amalgamado vivo a tais proezas,
a herança não suporto dos deveres!

Por isso, aos poucos morro nos conflitos
de confusão profunda, onde a genética
aumenta a cada instante a dor do aflito!

Já me vou tarde, reza a voz profética!
Não somo à descendência nenhum grito!
À eternidade, levo minha alma cética!












MAMILOS

Manhã de areias beges, gaivotas,
corpos desnudos, brisas e murmúrios.
Manhã de vocações, dia de augúrios,
de lançar fora a dor que a alma embota.

Manhã verde-esmeralda, eis o naufrágio
dos sonhos navegantes à deriva!
Recolherei destroços, mapas, versos,
madeirame rompido pelas vagas.

Conchas antigas, dóceis, coloridas,
rendas de espuma, névoa, maresia,
meus pés pisam no sal das praias nuas.

Enquanto o vento sopra sobre a praia,
minhas mãos tecem muros sobre os ais,
resguardo dos mamilos que venero.












SAUDADE

Já não revivo as estações das uvas,
vago tristonho por caminhos nus,
não ouço mais as confidências tuas,
com a dor não brinco, pois canto e procuro.

Porto seguro, vago eternidades,
mas que saudades sinto a toda hora
da liberdade do meu ir e vir
que eu vi partir e que se foi embora.

E canto e canto o canto da colheita,
raio de luz, quero abraçar-te agora.
Eu não sou mito, sou apenas sonho!

A liberdade não morreu! Sou eu!
Neste universo de mistérios tantos,
sou meu caminho ao rumo do infinito!












DOIS VERBOS FORTES

Fomos dois verbos fortes sobre a cama,
no murmurar das ânsias confidentes.
Quando estarei contigo novamente,
sob o desejo intenso que a alma inflama?

No erotismo do verso proclamado
nas manhãs dos tremores ao relento,
relembro cada instante dos eventos
no encontro dos amores festejados.

O tempo aplaca as dores mais profundas;
a saudade e a esperança assim florescem,
lançando o aventureiro à nova sorte.

Minha alma emerge à paz que então me inunda,
verdades insuspeitas ora crescem,
nada mais, nada mais há que me importe!












FLORES FUNÉREAS

Fisionomia vaga, lar dos sulcos
de antigos sacrifícios, depressões.
Figura a guarnecer cérebro frágil,
é cópia de sofrer que martiriza.

Ele acompanha o tempo, passo a passo;
desfruta o canto efêmero das horas,
acolhendo o roteiro de seus rumos,
ouvindo os sinos lúgubres dos fados.

No corpo, a seiva agita a nervatura;
é o ácido dos males prometidos
a quem nunca viveu instante algum!

Agora, as ilusões psicotrópicas
multiplicam as flores funerárias
aos olhos de quem morre de loucura!












DECLÍNIO

Não houve outra mulher que eu tanto amasse,
fez do meu tempo encanto de asa e flores;
da vida, um paraíso de fulgores;
das relações sensuais, tramas de classe!

“Procurarei por ti, se embora fores”,
sem hesitar, de pronto proclamei,
pois fizera do amor suprema lei,
senhor da paz, dos sonhos, dos ardores!

Laçada a sorte plena dos meus dias,
vivi sob o esplendor de seu fascínio,
certo de que jamais me fugiria.

Sorte madrasta, agora, quem diria,
ela partiu e eu cumpro em seus domínios
busca insana, razão de meu declínio!












TEU CHEIRO

Não haverá remorso antes dos êxtases;
não haverá festejo antes do encontro.
A súplica tecida é da emoção,
é da libido acesa sem fronteira!

Os impulsos nervosos são do cio
que aflora intenso e vivo sem reservas.
O cheiro da mulher vem da floresta,
vem da savana antiga e misteriosa,

vem dos rios profundos e encrespados,
das cavernas do sexo sem muro,
de um tempo hoje obscuro e misterioso.

Teu corpo exala o olor da fera indômita,
essência da lascívia mãe dos gozos,
ao entregar-se inteira e com doçura!












CIO ABISMAL

É fantasia a dança dos desejos.
Meus gestos e sentidos enrodilham
toda a sensualidade que extravasas.
Assim, o gozo e o grito além das nuvens!

De murmúrio em murmúrio, mais se aviva
a chama que me brota da alma ardente,
revelando o expandir das sensações
que em rios de tensões roncam e explodem.

É de silêncio o após de toda a festa;
retornamos ao plano da razão.
O remorso, somente se o quiseres!

Aguardarás silente um novo dia,
revivendo a certeza doutro encontro
ao comando de teu cio abismal!












MECÂNICA

Mecânica do gesto aprisionado,
do verbo enrodilhado na alma nua,
do prazer do entregar-se que extenua,
dos abraços, do beijo demorado!

Mecânica do verso que convence
e induz ao leito o corpo luxurioso;
do norte sem mazelas, prestimoso,
destino de quem luta, de quem vence!

Mecânica do sonho, da paixão,
dos arrebatamentos dos sentidos,
acordo da lascívia sobranceira!

Mecânica, és força, és voz, é ação!
Eu te quero em desejo entontecido
para ganhar o mundo sem fronteira!












APLAUSO À COISA À-TOA

Todo sonho de outrora foi banido,
agora se ouve o corvo, o seu grasnido,
voejando sobre pedras seculares,
edificando o caos, rompendo a paz.

Toma minha alma o incêndio dos exílios,
rede de dores, campos de grunhidos,
vozes noturnas, ásperos carinhos,
melancolia pura e depressão.

O que se vê são becos, são esquinas,
divulgação do grito sem fronteiras,
lançando o verbo cru das intenções.

Hoje brotam verdades transformadas,
certezas corrompidas, olvidadas,
gente aplaudindo muita coisa à-toa!












SÓ FALAREI DE AMOR

O que farás, amor, nessa aventura,
jornada cega à noite tensa e fria,
perto do outono e à luz da nostalgia,
verdade escassa, vida sem ternura?

Por que não dás ao tempo a ocasião,
neste processo rude de mudanças
e a cada passo teu nessas andanças,
de transformar de vez teu coração?

Amar-te, eis o que almejo, nada mais,
sob a força serena de meus braços,
levando-te às alturas do prazer.

Bem sei que as horas tantas partirás.
Não lançarei grilhões, tampouco laços,
só falarei de amor para deter-te!












LEGASTE DESILUSÃO

Há muito não te via. Hoje te vi.
Teus olhos coruscavam como estrelas;
tua boca, ai!, que vontade de entretê-la
sob beijo lascivo, em frenesi!

A nossa história é rico veio, é brilho,
são sonhos condensados na memória,
são passos de uma bela trajetória,
é a voz do amor em cantos de estribilho!

Ao ver-te hoje, sorri como um menino.
Pressenti que voltavas para mim,
não me cabia mais, tanta a emoção!

Mas, creio, não foi sonho cristalino
ouvir dos lábios teus “te quero sim”,
pois me lançaste um dia à solidão!












DIZER O QUÊ?

Algum dia, a certeza emergirá,
sob a luz de verdade iniludível,
mostrando no teu rosto olhares vagos,
modos estranhos, nus, tristes e tensos.

A matéria da mágoa que assumiste
terá pleno deslinde em meu espírito.
Eclodirão respostas, flores, sonhos,
universo que tu jamais prezaste.

Se o verbo é débil, quedo-me em mudez.
Dizer o quê, se tu não mudas nunca,
se és a mesma ao aguardo dos milagres?

Em breve, hibernarei, o tempo chega.
Verás ao fim que tudo é muito simples
e que a tolice é lei das mais antigas!












O FIM

A morte desgraçada, ela voltou!
Do que sobrou, percebo a nostalgia
e o desenvolto ator da acrobacia
que ao destino sem volta te entregou!

É assim que este comércio prepotente
consome as esperanças ponto a ponto,
vendendo ao pobre e ao rico sem desconto
o miserável fim que dói na gente!

Não há quem tire o fio da gadanha,
tampouco arrombe as pontas do tridente,
nessa missão de humor luciferino.

De capuz negro, a dita nos apanha,
cumprindo seus ofícios inclementes,
impondo em nossa vida o desatino!












TEU RETORNO

Recebo-te na paz, após trilhar
durante tanto tempo o abismo escuro.
Tu te lançaste ao fado mais impuro;
quedei-me aos breus, sofrendo o meu azar.

O tema de teu canto não restaura
o verso forte, nu, lúbrico e doce,
mesmo virtual - e seja lá o que fosse! -,
tampouco as esperanças na alma instaura.

Trazes sonhos, encantos, novidades,
nos escritos lavrados não sei onde
dados à luz sem pejo que te ronde.

Veja, pois, o amargor, veja a saudade
que aprontaste ao partires de verdade
deixando-me a indagar: o que me escondes?












ETERNIDADE

A sucessão macabra que apavora
transmite-me legado de desgraças.
Forjada sob engodos, sob farsas,
a gente mais amiga ela devora!

Na fila, as gerações rompem caminhos;
sequer as divindades vetam nomes.
A escolha não recai sobre pronomes;
sem retorno, é a viagem dos espinhos!

Não retrocede o verbo da sentença.
O tempo inexorável ganha fim.
A hora é elo atroz, pura verdade!

Teria alguém de bônus vida extensa?
Numa outra dimensão, decerto sim:
aquele que penetre a eternidade!












EMOÇÃO DE CAOS E FOGO

Rompo o silêncio em gritos de navalha,
penetrações profundas da loucura,
revendo os traços nus da voz neural,
avançando milésimos instantes!

Açoito transcendências obscuras,
prismático caminho das idéias
que afasta o ser do rumo da existência,
do presente palpável e da ascendência,

para torná-lo amorfo e sem sentido!
Assumo o tom neutral dos infinitos,
contemplando o relógio das mudanças.

Sabendo-me emoção de caos e fogo,
a cada passo da razão de pedra
enfurno-me nos aços em fusão!












SOFRER É O TEU DESTINO

Vejo teu rosto triste, ressentido,
amargo, envelhecido, tão distante!
Diriam que viveste assaz bastante
e que o teu tempo faz-se, assim, cumprido!

Carregas a existência do arremedo
que a natureza atura em fingimento,
talvez porque cresceste em sofrimento,
mergulhada em desgraça, dor e medo!

Flor viçosa açoitada pelo vento,
esperança fugaz na juventude,
carregar monstros vivos é o teu fado!

Sob o inferno do estupro continuado,
perdeste quase todas as virtudes,
sequer ganhaste o gozo como alento!












VIVER EM VÃO

O olhar da despedida, não o esqueço.
Estavas abatida, os olhos fundos,
enquanto eu me perdia noutros mundos,
indiferente a ti, sem ter-te apreço.

Teus olhos marejados – quanta agrura! –
sofreram ao meu partir imotivado,
um ato irracional, que triste fado,
tramóia dos sentidos da aventura!

Lancei-me, sim, às trilhas da procura,
buscando o quê, sequer mesmo eu sabia,
ao tempo em que provavas solidão!

De tudo o quanto fiz, sobrou loucura;
no rosto, o traço cru da rebeldia,
que ao fim levou-me à dor e à provação!












DOS MALES, O MENOR

Na taça de cristal dos meus sentidos,
sorvo o maduro vinho da saudade,
enquanto o rigoroso inverno invade
as lacunas de amores não vividos.

No epicentro das dores que colhi,
longe do beijo ardente que eletriza,
distante da lascívia que eterniza,
a solidão confirma o que perdi.

O tempo do sofrer são horas cruas,
apresenta-se duro, carrascal,
diante da vida azul que não provei.

O acervo de ilusões, atiro às ruas
- olvido sem limite a tanto mal! –,
desejando esquecer o que sonhei!












ESTIVE ONDE HOJE ESTÁS

A canção que hoje cantas, já cantei;
plagias o sofrer que era só meu.
Este canto plangente me rendeu
saber o que é sofrer, como hoje eu sei!

As tuas frustrações, teus desencantos,
a dor inexplicável que te abala,
tudo isso é trama urdida na ante-sala
do teu amor ferido, entregue aos prantos!

Conheço a senda escura deste encargo
- tu sabes que eu conheço, pois vivias
na platéia da minha encenação -.

Hoje estás onde estive, sob o amargo
dos lamentos, das súplicas que um dia
tanto fizeram doer meu coração!












AMOR UNIVERSAL

Meu frágil verso expressa a realidade,
a sorte elementar, o sonho simples,
a ternura sutil, os ais dos êxtases,
o canto de saudade, o abraço terno.

É verso de algodão, feito de sonho;
não brilham nele pedras preciosas.
É como a voz maviosa da criança,
é como o tom prudente do ancião.

Abriga o verbo manso do carinho,
o adjetivo raro dos encantos
e a força transcendente do respeito.

Sinto que o verso débil me faz forte,
ao me ajustar à humilde e fraternal
congregação do amor universal!












RUA DO MENINO

Folgo em rever-te, rua do menino,
cheia de luz, virada em calçadão,
muita gente, canteiro em floração,
vestida num moderno figurino.

Ah, foi-se o tempo em que eu soltava pipa,
ao lado dos amigos na calçada;
olhava para o céu com a alma alada,
desejando voar - santa chiripa! -

Sobre o leito de barro, se chovia,
brincávamos nas poças - água e lama -
ao gosto da fuzarca e algaravia.

Nunca pensei que o tempo fosse chama,
tampouco imaginei que ele seria
a dor que hoje na rua se derrama!












SENHA

O pesadelo é senha de palpites
atropelando o resto de esperança
que ainda vige no espírito prostrado
de quem lutou debalde atrás da sorte!

A tensão nos bolsões é permanente;
os pequenos conflitos multiplicam-se
no diz-que-diz-que insano das futricas
que leva tanta gente ao fim precoce!

O fado da miséria é pedra bruta,
arbítrio da sonseira das elites
marcando com feridas os desejos!

A fria realidade avulta e vence;
são verdades nascidas sobre dores,
pondo cobro aos anseios mais comuns!












APLAUDO A ROCHA

Espatifam-se os verbos contra o muro,
palavras são palavras, vão-se ao vento,
até que morram nuas ao relento
das ruas onde às vezes me enclausuro.

Não sonho frases feitas nem sentenças
das que impetram moral apodrecida.
Há gente formalista ensandecida
impondo vil dizer às desavenças.

Aplaudo a rocha antiga dos milênios,
silêncio de pureza e de harmonia
no trajeto sereno das monções.

Leis, decretos, tratados e convênios
são vertentes de pura vilania
dosando o amargo e o frio aos corações!












VOZ DO FUTURO

Sob chuva, agasalham-se os tremores;
sob os templos, erodem as orações.
A esperança é ilusão, pouco socorre
exércitos inteiros de excluídos!

Amanhã de manhã, orai por nós,
enquanto os marceneiros oficiais
dos governos hipócritas se ajeitem
para enterrar os mortos dos subúrbios!

Martelarão caixões multiplicados,
pensando sepultar o sofrimento
sob os ais dos gemidos epidêmicos!

Porém, a voz do tempo é a do futuro;
ela rompe o discurso demagogo,
retratando futuras convulsões!












MODORRA MORIBUNDA

A sorte continua, podre e astuta,
tornando o cotidiano das tragédias
mais pleno de ilusões constrangedoras,
sob porquês velados de cinismo!

Vejam que aos pés dos postes madrigais
a droga anula e ceifa a juventude
no silêncio quimérico das químicas,
mortificando o verbo da razão!

O canto religioso é sombra fria,
pairando sobre trastes desnutridos,
entregues à modorra moribunda!

Dessa gente, as consciências são de andróides;
a vergonha perdeu-se, chafurdou-se.
Ao milagre da sopa e à voz do amor!












BOLSÕES

As pedras, tantas pedras, atiradas
sobre o vale escaldante das procelas
sedimentam as dores mais sofridas,
residentes nas trilhas da incerteza!

A morte é trama astuta que domina
sob causas que a fome justifica,
mostrando o quadro trágico do drama
que se repete em sangue nos bolsões!

As canções desabrocham nos tratados
e morrem sobre as flores dos discursos,
nos entresseios úmidos do entulho!

Lá fora cães e gatos se aniquilam,
dividindo o calor da peste urbana
com desgraçadas vidas anciãs!












O TEMPO ACABOU

É tempo de barco chegando no cais,
trazendo notícias de gente saudosa.
Meu pé chuta abrolhos e latas vazias;
os olhos se perdem no céu do horizonte.

O corpo se estende na areia salgada;
os sonhos dormitam à espera de ação.
O barco que chega renova meus gestos;
então me transmudo em saudade e desejo!

Sou vento, sou canto nas noites de lua;
atento me entrego aos relatos maduros,
da terra que um dia deixei tão distante,

falando de amores, de festas e encontros.
Sei lá se retorno algum dia às origens
pois que já sou findo, meu tempo acabou!












DESPREZÍVEL SENTIMENTO

Meu coração vacila ante teus pleitos.
Aflita, tu desejas meu retorno,
esquecida, talvez, do meu transtorno,
durante a tua ausência do meu leito!

O que fazer agora? Estou sem jeito!
Ao tempo em que partiste, assim no mais,
lançaste com teus atos anormais
meu amor aos abismos dos rejeitos!

A dúvida é o ferrete que me abraça,
marcando-me em granítica presença,
diante dos teus apelos e lamentos.

Depois de tanto tempo, estou sem graça.
O amor que me vencia - chama intensa! -
agora é desprezível sentimento!












ZERO DA EXISTÊNCIA

O pranto é da miséria absoluta
que, resoluta, atinge a vida e o sonho,
neste medonho circo de amargores,
casa das dores, casa da exclusão!

A sorte é escuridão na alma sem rumo,
é promessa de azeite enfurecido,
visando transformar lágrima em sangue,
durante o choro intenso nas sarjetas!

Quanto mais desgraçado, mais se arrojam
as lanças sobre o espírito vencido,
avultando terríveis desesperos!

A reza é evento apócrifo da dor,
porque não vence o zero da existência
no corpo moribundo que agoniza!












DESILUSÃO

Repulsivo segredo o que escondeste;
hoje o descubro atônito e vencido.
Revela fato grave, imperdoável,
fazendo-te mulher de moral nula!

Por longos anos, foste o meu pecado.
A original matéria dos desejos
favorecia a amplidão do amor nutrido
no ambiente social que nos sustinha.

Desiludido, encontro a solidão
fazendo companhia ao meu sofrer
e ao desencanto amargo que me toma.

Foram muitos os anos de quimera;
refazer minha vida é-me impossível;
resta esquecer que foste o meu fracasso!












AGÔNICA MISÉRIA

Sobra o pranto, revolta sem limites,
pesadelo apestado de infortúnios,
levando ao desvario o que ainda resta
da consciência lavrada por repúdios!

Chega tarde o socorro da comuna:
a fome carcomeu nervos e carne!
Há muito, as esperanças sucumbiram;
da solidariedade, só discursos!

Do que se vê, a morte há de cuidar,
a expensas de uma ordem burocrática,
às margens das valetas do desdouro.

Fraternidade é canto de impostura!
Poucos se dão à agônica miséria
das ruas madrigais da decadência!












EXCLUSÃO

Sendo o discurso a dádiva do engodo,
na voz inútil do homem sem princípio,
convoco à luta as ordens da miséria
para romper os muros do cinismo.

Sei que viceja a auréola suburbana,
sob a pressão da elite indiferente;
epicentro nervoso dos comandos,
carcome os sonhos simples das comunas.

Canto a canção do efêmero tributo,
enquanto o riso frágil da criança
sucumbe devagar sem proteção!

Entrego-me à vergasta do holocausto,
rompendo o lema pútrido do caos,
sob a bandeira rota do excluído!
1991 - MG











FICÇÃO

A voz do tempo chega e noticia:
“A sorte está lançada, partirás,
assumirás teu tempo, teu futuro”.
Descem panos; a peça chega ao fim.

Esqueço os sonhos todos que sonhei.
A voz embarga, os olhos lacrimejam.
O coração fraqueja, descompassa.
O passado morreu, vão-se as lembranças.

Novos dias revelam-se vazios,
chegaram de repente, sem avisos,
mostrando o meu lugar nessa existência.

As tantas emoções não valem nada;
as obras que erigi pulverizaram-se;
a minha eternidade é ficção!












LACAIOS

Assusta-me o princípio do lacaio,
recrudescência astuta da alma suja,
emergência imoral de arte sabuja,
crassidão nos olhares de soslaio!

Junto à elite nababa, arrota farsa;
dos ditadores, lambe cuspo e baba.
Esse trapo imoral, ele se gaba
de estar junto ao vilão, ser seu comparsa!

Ranço, migalha, pó, gente sebenta;
da canalhice, faz sua militância,
rendendo à sociedade bandalheiras!

É enorme o desafio que se enfrenta
para escapar da afronta e da arrogância
desses corós vadios das lameiras!












ACEITO TEU CONVITE

No breu da noite, tatearei teus seios;
visão cerrada, beijarei teu colo;
naquele instante, eu te serei o apolo;
serás o mais sensual dos meus enleios.

Libido intensa, beijar-te-ei sem pejo,
percorrerei tua geografia toda,
festejarei sobre teu corpo a boda.
- Tão prometido celebrar desejo! -

Aligeiro o meu passo, há vibração;
carrego o teu convite com tesura;
ardor e garra levam-me à aventura!

Sobre as areias noturnais, então,
nossos cicios logo pulsarão
em ais, gemidos, gritos de loucura!












DOENÇA SEM CURA

O corpo da ninfa me excita; ele é puro,
é ardência e lascívia, me faz desvairado
ao vê-lo desnudo de frente ou de lado,
trazendo à consciência o desejo maduro!

Nos ais sucessivos da boca, os despistes,
à doce tremura da língua-serpente;
ao róseo dos seios, maçãs consistentes,
renovo a emoção do sentir sem limites.

As mãos não sossegam buscando os quadris,
deslizam na pele de suave fragrância,
pousando nas curvas da bela cintura.

Entregue aos prazeres na fonte matriz
do amor embebido na essência das ânsias,
atinjo o desmaio, doença sem cura!












VORAGEM

Quero beijar-te a boca uma outra vez,
ganhar-te o corpo inteiro em voraz cio,
levar-te ao gozo pleno, ao tresvario,
senhor de toda a tua candidez.

Darei aos seios túmidos carinho;
venerarei teus pelos, pés e mãos;
visitarei cada um dos teus desvãos;
do prazer, mostrar-te-ei seus descaminhos!

Aguarda-me desnuda no teu o leito;
o nervo teso treme à tua imagem,
reflexo do instinto em contrações.

A tua língua ofídica - eis o pleito -,
espere a minha em frêmito selvagem,
auspício liminar das emoções!











TEMPO DAS FUNDURAS

Percorro ruas, praças, avenidas,
vencido pela insânia da paixão.
Cansado e entregue, agora a solidão
é a espada carrascal que me trucida.

É sentimento atroz que me tortura,
traduz a dor pungente, vil, suprema,
tormento sem limite de quem rema
contra todas as forças e as agruras.

O cais se distancia do naufrágio;
desperto para o tempo das funduras;
sozinho, sofrerei ao deus-dará!

Quase tudo se foi, meu barco é frágil.
Recolho as bugigangas da aventura;
sinto que quase nada restará!












ACÚMULO DE CULPAS

Mergulho nas idades das insânias,
são elas da velhice atroz destino,
ambientam solidão e desatino,
recordações banais, muitas cizânias!

Depositário sou de mil segredos,
trago sonhos e idéias não cumpridas,
a experiência deu-me sete vidas
para sofrer mais tempo no degredo.

Nunca foi diferente este delírio.
A natureza empresta vida longa
aos herdeiros dos males ancestrais.

O acúmulo de culpas é martírio
que persegue nossa alma e se prolonga
pelas sendas primevas e eternais!












NÃO HÁ SORTE

A noite chega, logo a madrugada;
após o dia, a tarde e a vã rotina.
Mestra de vulto, a vida então me ensina
que a dor é tudo e, às vezes, tudo é nada!

No templo negro do rosal de amargos,
catalogado o rol de obras inúteis,
refeita a lista vil das coisas fúteis,
mergulharei na fonte dos letargos!

Se à estação triste acena a carruagem
e dela desce a solidão cruciante,
dar-me-ei ao fado da alma entorpecida.

Não há sorte, ela é engano, é camuflagem,
é canto das misérias atordoantes
que eu levarei por toda a minha vida!












A HORA É FINDA

Como não me sentir depauperado,
mordendo fisgas de aço, pedras nuas,
abandonado alhures pelas ruas,
cumprindo finalmente o amargo fado?

Por que não proclamar que a hora é finda,
que a madrugada chega e rompe o dia,
que o corpo jaz entregue à analgesia
e que, sepulto, o amor não mais nos brinda?

Escoa a vida, fumo que se esvai,
legando-nos as sobras da existência,
sonhos rompidos, restos de esperança!

Minha aventura efêmera se vai,
tudo se foi, não há mais resistência,
a eternidade pouco a pouco avança!












ESCÓRIA

A escória habita o penumbroso abismo
que se constrói no horror das almas chãs.
É a podridão nojenta - ânsia de vômito! -,
produto originado das cloacas!

Gente deteriorada, inútil, lixo,
desdenhosa de normas milenares,
na pretensão anárquica e vadia
de por cobro a condutas moralistas!

Nesse caudal, soçobram mentes limpas,
levadas pela espúria correição
do azorrague das hordas clandestinas!

O ambiente moderno é pai das tramas;
afrontador de normas, ele rompe
a harmonia entre as frentes antagônicas!




FESTA DO DEMÔNIO

A corja consolida o vão discurso
Da tribuna enodoada dos ladrões.
Gente espúria, cambada, charlatões,
a bandidagem vibra neste curso.

No breu das emboscadas, de campana,
trazem vivo o gatilho dos delitos.
As famílias chafurdam nos conflitos,
avizinhada à gente torpe e insana.

Meu Deus do Céu, a festa é do demônio!
Ele inspira o macabro pandemônio
no seio dos sem alma e inconsequentes!

Aniquilando a vida e o patrimônio,
os ataques se tornam mais frequentes
sob a bandeira vil dos delinquentes!

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