sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mensagem da Asolapo

Querido hermano en el arte:
Tienes, Kleber, las claves y los secretos de un corazón sensible, que se arrulla de versos.
Cariños


LUZ SAMANEZ PAZ

Presidente da ASOLAPO - Asociación Latinoamericana de Poetas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

NOVO LIVRO DE ANTONIO KLEBER: BAÚ DE VOZES - No prelo - Editora ZEM - Teresópolis - RJ - 2011

BAÚ DE VOZES
poesias

ANTONIO KLEBER MATHIAS NETTO



        Rio das Ostras
       2011



Todos os direitos reservados. Copyright © Mathias Netto, Antonio Kleber



Revisão: Poeta e Professor de Língua Portuguesa Astolpho Vieira Thalles Ribeiro



Seleção dos Poemas: José Barzoni Saueiro e Sylvia Carneiro de Lejano



Capa: Praia do Laranjal, Lagoa dos Patos, Pelotas, RS.
Foto da Artista Plástica gaúcha Jeanine de Carvalho Sallenave



Este livro foi produzido no Escritório de Literatura II Luiz Fernando Mathias Netto, situado na Rua Coral, Lote 11, Quadra 25, Bairro Ouro Verde, Costa Azul, Rio das Ostras/RJ



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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
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N369d
Mathias Netto, Antônio Kleber
Baú de Vozes/Antonio Kleber Mathias Netto. - Teresópolis, RJ. ZEM, 2011
160p.

ISBN 967-85-98271-18-6
1.Poesia brasileira.I.Título.
09-2619. CDD:869.91
CDU:821.134.3(81)-1
18.04.11 25.05.11 032699
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Impressões sobre o trabalho de Antonio Kleber Mathias Netto

“Rio de Janeiro, 17 de junho de 2008.
Prezado Senhor.
Agradeço a remessa de “Tuna” - livro de poesias de sua autoria, de 2008, em que o escritor, depois de enveredar pela seara de contos em outras obras, volta agora à poesia. Ao lhe desejar sucesso pelo livro “Tuna”, informo a V. Sa. que o exemplar enviado a esta Presidência da Academia Brasileira de Letras foi encaminhado à Biblioteca Rodolfo Garcia, onde ficará à disposição para consultas entre os estudiosos. Atenciosamente, Cícero Sandroni”.
CÍCERO SANDRONI, Jornalista e Escritor. Presidente da Academia
Brasileira de Letras - ABL.
#
“Estimado Kleber:
Em meu refúgio, durante este último fim-de-semana, tive a grata chance de ler quase todo o seu “Quarenta Sonetos sem Pecados”, que teve a gentileza de enviar-me. Nem sei o que deles mais gostei: se “O Amor Ausente”, se “Sentença do Amor Traído”, se “Ao Fim, Solidão”, se “Teu Último Olhar”, se “Amor Indesejado, ou se “Solitário”.Você é um bom poeta. E continue a nos brindar com livros tão bons quanto este “Quarenta Sonetos”, são os votos de Murilo Melo Filho”. (Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2007)”.
Jornalista e Escritor Murilo Melo Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, Dir. da Biblioteca Rodolfo Garcia, da ABL, sobre o livro “Quarenta Sonetos Sem Pecados”(2007)
#
“Prezado Antonio Kleber Mathias Netto.
Muito obrigado pelo belo “Tuna” que você gentilmente me enviou e que dá testemunho de um enorme talento. Parabéns. Grande abraço do Moacyr
Scliar”. Médico Sanitarista, Escritor. Membro da Academia Brasileira de Letras – ABL – 2008.
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“Sinal Vermelho” é um livro adulto! 27.09.99.
Prezado amigo Antônio Kleber:
Li, no final de semana, o seu atraente livro de contos, em parceria com o Everaldo Botelho Bezerra. É um gênero pelo qual tenho grande simpatia. E vocês o dominam, como demonstram, por exemplo, em "O Menino Carvoeiro" ou em "Alerta Geral". Fiquei completamente fascinado pela leitura.
Enviolhes um grande abraço de felicitações. Do amigo Arnaldo Niskier. Rio – 27.09.99”.
Do Educador, Jornalista e Ensaísta Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras, sobre o livro de contos “Sinal Vermelho”, em parceria com o Escritor Everaldo Botelho Bezerra.
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“Meu prezado Mathias Netto.
Muito grato pelo envio de “À Sombra do Barbaquá”, que começo a folhear com inequívoco interesse e prazer de leitura. É sempre bom saber que ainda se escrevem bons romances neste País, onde pouco se lê e menos se escre-vem coisas que de fato valham a pena. Grande e afetuoso abraço, do seu Ivan Junqueira.- Rio, 14.07.2005”.
Crítico Literário, Ensaísta e Poeta Ivan Junqueira, membro da Academia Brasileira de Letras, sobre o romance “À Sombra do Barbaquá” (2005)
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“Admirei o seu estilo literário! Fascinei-me pelo seu poema, pelo cadenciado harmonioso dos versos, riqueza de rimas e palavras; por retratar as emoções e sentimentos com pinceladas de expressões fortes. Como um pintor impressionista que sabe usar as cores, você mostra as palavras como aquele tam-bém o faz, usando a tinta. Continue escrevendo!” Márcia Pinto - Salvador – Bahia - marciapintinho@ig.com.br
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“Seu soneto é lindo. Você é, de fato, um grande escritor. O estilo, o léxico, tudo é de primeira grandeza. E, mais importante, você parte da imaginação e não do seu real estado físico e psicológico. Aí a coisa fica, ainda, mais difícil ... Um enorme e saudoso abraço”. Professor Helter Barcellos - S. Gonçalo – RJ - http://www.orkut.com.br/Scrapbook.aspx?uid=2042937318459212953
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Kleber! Gostei de seu soneto "Espera". Parabéns! A métrica é perfeita, um decassílabo de primeira! Um abraço para você também! Tales Mendonça – Recife – Pernambuco - talesmen@gmail.com
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“Oi, caro poeta! Tenho acompanhado, na medida do possível, teu trabalho. Parabéns e obrigado por existir pessoas com a sensibilidade apurada como a tua. Um abração!” Ataulso Veríssimo – Porto Alegre - RS - atarverissimo@gmail.com
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“Grande poeta, pela mansidão de suas palavras. Privilegiada sou eu, por tão doces poemas receber! É como se entrasse pela rede vasta da Internet um anjo poetizando em fibras óticas. Saber lidar com palavras, são poucos; transmitir emoções através delas... são raras as pessoas. Você é um grande poeta; suas palavras, hei de espalhar, como o vento que semeia flores”.Grace Donata. São Paulo – SP - rapunzel_vivi@yahoo.com.br
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“Oi, amigo Kleber! Puxa! Estou diante de um verdadeiro poeta! Como são lindas as coisas que você escreve! Adorei, simplesmente! Tenha uma ótima semana e fica com Deus! Bjs no seu coração!” Leolina Maria – Boa Viagem – CE - leolina.maria@hotmail.com
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“Já participei da promoção, mesmo se eu não for escolhida, quero muito um livro seu, na minha cidade ainda não tem livraria!!” Zuleica – Tocantins -zuleica_ahlert@yahoo.com.br
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“Adoro o que você escreve! É tudo o quanto gosto de ler, de verdade. Sempre estou lendo e apreciando”.Rivaldo – Aracaju – Sergipe -rivaldoblj@gmail.com
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“Não dá para ficar sem ler seus poemas um dia sequer. Tornou-se um vício maravilhoso.” Dirceli de Oliveira e Silva - Mesquita – Estado do Rio de Janeiro.
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“É um poeta que extrai da alma poesias bem elaboradas. É um grande
poeta!” Alexandra Lamonier - São Luiz – Maranhão.
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“A poesia de Antonio Kleber é estranha, diferente. A gente lê e fica com ela na cabeça o dia inteiro. Há sempre uma interpretação nova, um outro caminho. Gosto disso.” Genivaldo Martins da Silva - Maceió – Alagoas.
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“Tenho lido muitos poemas desse nosso incrível poeta. Cada poema é como se me embriagasse com as palavras; muitas me trazem... conforto e paz!
Agradeço a oportunidade de poder ler seus poemas”. Silvana Marcolino.
Londrina - Paraná.

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Últimos lançamentos do escritor:

A Chave de Jaques - romance
À Sombra do Barbaquá - romance
Onde Sopra o Aracati - romance
Fortin, o Outro lado do Sonho – romance
Quarenta Sonetos Sem Pecados - poesia
Tuna - poesia
A Dança das Borboletas – poesia

No prelo:

Poemas da Quarentena – poesia

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A ardência das baixezas anda a substituir a dos ideais.

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ÍNDICE
11– Apostas na Utopia
12 – Trilha da Alforria
13 – Manhãs à Beira-Mar
14 – Encanto dos Rescaldos
15 – Preliminar
16 – Limpar o Coração
17 – Males
18– Pretensão
19 – Outra Sorte
20 – Dormência
21 – Simulacro
22 – Frágil Coração
23 – Amor de Algodão
24 – Ingenuidade
25 – Casa dos Enganos
26 – Processo Corrosivo
27 – Tempo que Aflora
28 – Intenso Breu
29 – Zambetas
30 – Horas Inditosas
31 – Quanta Ilusão!
32 – Cama Silente
33 – Pablo Neruda
34 – Menoscabo
35 – Breu das Falcatruas
36 – Corpo Intenso
37 – Vamos à Lascívia
38 – Quero-te
39 – Mãe
40 – Tua Ausência
41 – Enquanto os Sonhos Vivam
42 – Sonhos Realizados
43 – Busca Vã
44 - Antes de Tudo, ao Menos Ver-te
45 – Gente Pequena, Desprezível
46 – Ferrão Venenoso
47 – Pepita Rara
48 – O Amor, Sim, é a Essência
49 – Poema-Epitáfio
50 – Vilezas
51 – Poxa!
52 – Voz Social
53 – Desistir?
54 – Polipolar, Experimente!
55 – Continuo
56 – Píncaros da Insânia
57 – Ausência de Inspiração
58 – O Morto Mais Recente
59 – A uma mulher de Verdade!
60 – À Pena Capital Também me Vou
61 – Se Queres Assim...
62 – Temor
63 – Jurisdições Medíocres
64 – Mata-Borrões da Chinelagem
65 – Rastros Densos
66 – Na Miséria, a Indiferença
67 – Trama dos Açúcares
68 – Tutela Vesga da Omissão
69 – Estado Iníquo
70 – Somos Brasileiros
71 – Brilho dos Discursos
72 – Iras Disfarçadas
73 – Forja dos Sonhos
74 – Transformar Malandro em Vaidoso
75 – A Jornada Mais se Encurta
76 – Burocratas de Plantão
77 – Tapera da Dor
78 – Gente Aziaga
79 – Ameaças Santoriais
80 – Tragédias Cotidianas
81 – Dragões ou Burocratas
82 – Dar um Tempo
83 – O Senhor dos Ódios
84 – Verbo dos Gemidos
85 – Disfarçado Pesadelo
86 – Densa Soledade
87 - Revelações Funéreas
88 – Sono Profundo
89 – O Teu Desprezo
90 – Pendor ao Mandonismo
91 – Julgamento
92 – Espaços Teus
93 – Versos de Quase Loucura
94 – Prazer Eternizado
95 – Ora, Almas Penadas!
96 – Retrato
97 – Asas da Lembrança
98 – Discurso Apócrifo
99 – Poderes do Zero
100 – As Exceções Rareiam
101 – Vulgar Sentença
102 – Nova Dimensão
103 – Injustiça
104 – A Criança e o Adulto
105 – Fazer o quê?
106 – Esperança
107 – Pena
108 – Péssimos Costumes
109 – Castigos
110 – Faxinas Neuroniais
111 – A Hora é Finda
112 – Eterno Caminho
113 – Derrota Merecida
114 – Livre
115 – Torturador
116 – Cizânias da Distância
117 – Cinzas Bolorentas
118 – Labirintos
119 – Graça
120 – Enfeita-te
121 – Homenagens
122 – Decadência
123 – Novo Tempo
124 – Do Gozo ao Infinito
125 – Exceção
126 – Pretensão
127 – O Tempo que Prove
128 – Desejo Sorte
129 – Andando À-toa
130 – Termo da Jornada
131 – Vida Fútil
132 – Vence o Chacal
133 – Ação Nojosa
134 – Arquivos Tumbais
135 – A Vida Fluirá
136 – Repetências
137 – Augustos Eventos
138 – Mentiras que Abundam
139 – Falácia do Inconsciente
140 – Chance de Defesa
141 – Verso e Reverso
142 – Futuro dos Sonhos
143 – Existências Fugazes
144 – Hibernação
145 – Engodadores de Balcão Público
146 – Expetativa
147 – Quero te Ver Podrido
148 – Desigualdades
149 – Adeus Sem Volta
150 – Percepção
151 – Costumes, Tratados
152 – Saldo
153 – Jurisdição Malandrinha
154 – Voraz Fugacidade
155 – Novas Viagens
156 – Luta
157 – Engodos no Atacado
158 – Raiva Sem Limites
159 – A Hora Escoa
160 – Não Quero ser Refém

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APOSTAS NA UTOPIA

Procuro-te em noturnas incursões,
notívago sem rumo a desejar-te,
lavrando o verso erótico com arte,
sob lavor ornado de emoções.

Às vezes, iludido, ouço teu riso;
corro e me apronto cheio de sentidos,
chegando de mansinho aos teus ouvidos
a descrever o amor e o paraíso!

Vige, assim, muito engano sob o tempo,
frustrando as aventuras da procura,
abatendo-me ao rés da rua fria.

Esquinas de ilusão, neste entretempo,
vejo na sorte agente da impostura,
logrando-me em apostas na utopia!


TRILHA DA ALFORRIA

Aniquila o pudor que frustra o anseio;
meu corpo febricita, ardo em desejo.
Desde há muito te quero e agora vejo
a chance de por cobro ao desnorteio.

Entrega-te aos meus vícios, eis meus braços
acorda à natureza da libido.
Ao pejo que te invade e encontra abrigo,
manda à fava, ele é o fruto dos fracassos!

Os prazeres do corpo assaz presentes
ressumbrarão em mágica alquimia,
lavrando na alma o encanto que inebria!

Sob a nudez lasciva e refulgente,
sentirás que contigo fui consciente,
apontando-te a trilha da alforria.



MANHÃS À BEIRA-MAR

Muito cedo, manhãs de maresia,
corto areias, sargaços, conchas, restos,
atropelando a força dos meus gestos,
no mundo imaginário da poesia.

Cato troços trazidos pelo mar:
verdades e mentiras em monturos,
revolvidas dos fundos mais escuros
que o oceano se ateve a vergalhar.

Manhãs crepusculares, lusco-fusco,
donas dos breus, escarpas, penedias,
do pescador, do pássaro marinho.

No garimpo dos sonhos que rebusco,
trago harmônica a lida dos meus dias
no recanto onde a paz fez-se meu ninho.
- Rio das Ostras – RJ – 2011-



ENCANTO DOS RESCALDOS

Celebro a noite intensa do desejo,
dos beijos, dos abraços, das entregas,
dos gozos sobre o leito das refregas,
do afago urdido ao leme do traquejo.

Ao canto de prazer tão bem cumprido
- hosanas, festival de aclamações! -,
eis-nos agora, à voz dos corações,
agradecendo o amor ao deus Cupido.

Quanto delírio emerge! Então me esbaldo;
todo tempo futuro - os novos dias -
serão frutos do encanto do rescaldo!

Operante processo de energias,
vivemos esta noite que ora aplaudo
no vértice explosivo das magias!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -



PRELIMINAR

O beijo é o alinhavo da ternura,
ligando bocas nuas, sedutoras.
Preliminar das ânsias redentoras,
o beijo vence e impõe lascívia pura.

Enquanto a mão andeira serpenteia
seios, espáduas, coxas e cintura,
as bocas gemelhicam com tremura,
à espera da explosão de cada veia.

Se o ato principal é o rei do gozo,
após a prévia do carinho intenso,
então o beijo é o príncipe do encontro.

O veio osculatório é dadivoso,
é rumo do desejo além do senso,
limiar do prazer, dos ais, do apronto!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









LIMPAR O CORAÇÃO

Revelo-me nas tiras dos gibis,
criança arteira, moço de aventuras,
sou ser humano imerso nas agruras,
dono de vida débil, quase um giz.

Entrego-me ao calor de meus azares,
caldeirões fervescentes de desejos,
frustrações matemáticas de ensejos,
monturos quilométricos nos ares.

Pecados multiplicam-se em perdões,
mas sofrem juros altos de remorsos,
comprometendo o dom da salvação.

Quem fui, quase não sei. Sofro senões
em direção ao fim de meus esforços
de limpar de uma vez meu coração!
- São Gonçalo – RJ – 1972 -









MALES

Há muito mistério morando nos breus.
Noitadas revelam verdades estranhas
nas ruas silentes de agouros, entranhas,
suspeitos avisos e inúteis sandeus.

As ásperas mãos gesticulam nervosas,
são palmas e dedos temendo o invisível,
mostrando à consciência que o sonho mais crível
às vezes não passa de engulhos e prosas!

O verbo hoje dorme no pó do alfarrábio;
os músculos deitam na paz sedentária;
o silvo do agouro canção que se espraia.

A voz de socorro desmaia no lábio;
inútil a crença na luz milenária;
birrento, o diabo não foge da raia!
- Campo Novo – RS – 1977 -









PRETENSÃO

Miríades de ciscos cintilantes,
nos volteios do espaço sem fronteira,
sacodem novos tempos e a primeira
revolução astral segue imperante!

É quando a vida eclode no universo
rudimentar - projetos da ousadia! -,
dando asa à quimérica utopia,
diante dos cantos brutos e perversos.

Perpetrações de estímulos primevos,
formula-se o lençol de rendas nobres
no espaço dos milagres siderais!

Assim, ressumbram bípedes malevos,
Cheios do império frágil dos redobres,
desejosos das graças eternais!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









OUTRA SORTE

De repente, meus sonhos viram pó;
sem solução, projetos vão-se ao léu.
O tempo faz-se caos da terra ao céu,
enquanto fluo amargo, triste e só.

O amor que me era doce agora é fel;
os olhares, os beijos e o carinho
transmudam-se em rosal de muito espinho,
levando-me aos perigos de um mundéu!

Meu verso é desabafo ressentido,
lamento de um poeta abandonado,
despedida do eterno peregrino.

O verbo cala, encolhe-se a libido;
parto sem peias, passos apressados,
buscando uma outra sorte ao meu destino.
- Pelotas – RS – 1986 -









DORMÊNCIA

O sol emergirá - não tarda o dia;
então, gemidos, beijos, confidências,
filhos da veia tensa das ardências,
despir-se-ão do calor da afrodisia.

O verbo, as mãos, a boca, o corpo, o olhar,
hibernarão à luz do amanhecer,
frouxando as impulsões de cada ser,
como as ondas morrendo à beira-mar.

Há todo um rito envolto nos encontros,
magia traquejada pelo tempo,
sob o limite brando da natura.

Tratando-se de luta sem confrontos,
as horas buscarão novos eventos
dentro da noite densa de aventura!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -









SIMULACRO

Foi nosso sentimento um simulacro,
forjou juízos falsos e mentiras.
Meu corpo hoje acomoda uma alma em tiras,
condenou-me à fogueira o poder sacro.

Gestor de sonhos puros e quimeras,
desde cedo senti que as nossas ânsias
não passavam de meras circunstâncias,
um passatempo, ledo engano às veras!

Fazer o quê, se a sorte foi fumaça;
se o cenário, um engodo de miragens,
e as almas, um contraste de emoções?

Tudo esboroa à força da trapaça,
quando o amor arruína as engrenagens
sob farsas logrando corações.
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









FRÁGIL CORAÇÃO

Não sei mais até quando serei vida,
tudo é fugaz no rito da passagem.
A existência voraz, vil engrenagem,
carcome o tempo, enquanto é reduzida.

Transmudam-se em mudezas as estrelas;
o amor cede lugar à flor do enfado;
o impulso da libido hoje é pensado;
tragédias, não há como demovê-las!

Meu verbo menos rude em mágoa aflora;
para trás deixei sonho não cumprido;
para o porvir, desejo a hibernação!

A eternidade começou agora.
O saco de pecado, hei por remido.
Vá para o inferno o frágil coração!
- Pelotas – RS – 1992 -









AMOR DE ALGODÃO

À luz dos enredos de mística origem,
torturo a matéria no tempo de espera.
Ao rumo da brisa, a emoção que se lança
aumenta a tensão do desejo que aflora.

O etéreo calor da ilusão me alicia.
Aos poucos retorno, arremedo de amante,
memória desfeita, cenários sem vida,
contando os minutos da vã realidade.

Decerto, o viver solitário trará
daqui a algum tempo, de novo, tua imagem.
E, então, eis-me augusto nutrindo desejos,

buscando teu corpo em inútil impulsão,
levando-me inteiro a abraçar-te iludido,
na doce aventura do amor de algodão!
- Rio das Ostras – RJ – 2009 -








INGENUIDADE

Um silêncio profundo paira em volta
do meu corpo cansado, entregue e triste.
Sob amargura intensa, a alma resiste,
rompendo a residência da revolta.

Descobri-me vencido por promessa
de amor eterno, gozos vigorosos,
volúpia em longos beijos suspirosos,
feita pela mulher que amei sem pressa.

Não tive a sorte de um porvir risonho;
do que plantei, colhi alguns senões;
hoje me vejo em dores sem medida.

Eis como morre o amor e esvai o sonho,
levando de roldão as ilusões
da ingenuidade plena e mal vivida.
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









CASA DOS ENGANOS

Do estranho, o corpo jaz sob abandono,
exposto aos transeuntes insensíveis.
O cérebro e as carnes perecíveis
ajustam-se ao fervor de novo dono.

O abdômen, as mãos, os pés, o rosto,
toda parte do corpo ficou branca!
Ao morrer, cessa a vida e o sangue estanca;
Tânatos sentencia: eis meu imposto!

Destino inflexível do mosquedo,
seus ovos no cadáver plantará,
anunciando o futuro dos gusanos!

E do estado larvário, sem segredo,
outra nuvem de moscas brotará,
para pousar em novo escombro humano!
- Teresópolis – Rj – 1996 -










PROCESSO CORROSIVO

A tua ausência foi deveras rude,
ela me trouxe noites mal dormidas;
na alma sofri lesões, mágoas sentidas;
contra os vazios, fiz tudo que pude.

Meu verbo, ao responder-te sobre o amor,
periclitou no abismo, pois mentias,
- fato comum no suceder dos dias -,
ao rumo de teu jeito transgressor!

Hoje te sinto um ser inexpressivo,
fogo sem chama, ardor supositivo,
mulher feita de névoa, de sabão.

A meu turno, sou de aço, sou vulcão,
embora saiba que ambos perderão
neste processo vago e corrosivo!
- Rio das Ostras – RJ – 1996 -









TEMPO QUE AFLORA...

O tempo que aflora é de sonho noviço,
paixão que ressumbra na areia da praia,
nas ondas que beijam tranquilas as rochas,
ao vezo do encanto dos barcos e pássaros.

O tempo emergente convida aos abraços,
aos beijos, cicios, carinhos e olhares,
enquanto as canções da folhagem ao vento
coroa a magia suprema do gozo.

O tempo que chega é de canto e aleluia,
de boas lembranças, de olvido às tristezas,
de sorte que afirme regalos sem fim.

O tempo da história é passado arquivado.
A voz que ressona no agora é de vida,
de sonho e esperança, de amor e prazer!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -









INTENSO BREU

Quedo-me à tua ausência, ao teu desprezo,
a essa distância imensa que impuseste.
A tanta dor me rendo, a tanto peso,
e à dura solidão - amargo teste!-.

Hoje me nutro apenas de saudade,
rompendo as brumas densas do futuro,
tentando a todo custo estar seguro
de que é sonho o sofrer que ora me invade.

Vivemos um passado que foi nosso.
Com o rompimento, agora não mais posso
desejar o presente que é só teu.

A tristeza que apuras e que esboço
diz do amor que, falido, esvaneceu,
lançando-me no mais intenso breu!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









ZAMBETAS

Quantas vezes Justiça é lama e escarro,
é ato desumano contra as dores,
residência nojenta dos horrores,
troca do rijo ferro pelo barro!

Viceja incompetência pelos átrios;
burocratas amantes do ócio impuro
imperializam regras do perjuro,
tornando nulos regramentos pátrios!

A canalha se adona das gavetas,
mata o veio da célere Justiça,
desfraldando o rompante dos pequenos!

Quanto horror! Contingente de zambetas
- medíocres funcionários de cortiça –
há de escorrer, um, dia, pelos drenos!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -








HORAS INDITOSAS

No silêncio noturno, emerge o pranto,
fruto da solitude, da saudade,
da dor de amor sem fim que logo invade
quem se veja sozinho, em desencanto!

A alma em transe se mostra desvalida,
amarga sob véus de frustrações,
descrente no futuro e nas ações,
mostrando-se sem forças, já vencida.

Da vida, que se espera, senão luto
das tantas coisas que deixamos mortas
às margens das estradas venturosas!

Assim - tal na sintaxe o anacoluto -,
há pessoas vivendo atrás das portas,
ao aguardo das horas malditosas!
- Rio das Ostras – RJ – 2011 -









QUANTA ILUSÃO!

Poucas vezes amei uma mulher
tomado de luxúria tão intensa.
Desejo-a com vigor e, com licença,
que ela venha pra sempre, se quiser!

Noviça, o que lhe empolga é a liberdade,
asas soltas, calor e juventude;
talvez dela eu mais ame a inquietude,
lava que desabrocha à flor da idade!

Do leito, o linho fresco traz lembranças:
efêmeras promessas, muitos beijos,
intensidades, ais, gozos sem fim.

Quanta ilusão deixou-me ela de herança!
Após viver fugazes relampejos,
Agora faço as vezes do arlequim!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









CAMA SILENTE

Esta ânsia sem rédeas que morde e pinica,
no rude silêncio do quarto e das ruas,
É voz das lonjuras, entranhas nascentes,
navalha, loucura rasgando desejos.

A força neurônica aumenta a tensão;
o corpo se entrega em procura sensual.
Por terra se lançam projetos conscientes,
desejos florescem, sem rumo e sem freio.

O impulso do instinto é látego ardente,
vergasta na carne, nos sonhos e na alma
do amante lançado à acridez do silêncio.

São brasas, são chamas, torpores e atilhos
em viagens noturnas, nas buscas sem fim,
às vezes morrendo na cama vazia!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -









PABLO NERUDA

Vivo Pablo Neruda nas manhãs,
ora feito de brisas, sal e mar,
ora feito do puro verbo amar,
cortando as águas plúmbeas capitãs.

Vivo o verso maduro das areias
de Isla Negra - do vate residência -,
onde os poemas ganham florescência,
no litoral do canto das sereias.

Vivo a pedra profunda, o vinho nobre,
a terra adulta e as ondas-recipientes
da madeira de antigos naufragados!

De ti, Neruda, emana a luz do cobre,
desde às tuas nascentes aos poentes,
pois teus versos são sonhos consagrados!
- Rio das Ostras – RJ – 2011 -









MENOSCABO

Teu jeito é de desdém, de desapreço
aos mínimos anseios de minha alma.
Isolado em silêncio que me acalma,
evoco a paz futura que mereço.

O encanto dos teus beijos se perdeu
na mudez dos teus lábios sem calor.
Talvez a causa – sem tirar nem por –
transite alhures sob enfado teu!

Pergunto-te, porém, qual a razão
de tanto menoscabo, se te prezo,
não te negando nada ao meu alcance?

Há desencanto, sofre o coração;
estou confuso, o espírito jaz leso;
quero minha alma em paz, que ela descanse!
- Canguçu – RS – 1981 -









BREU DAS FALCATRUAS

Ao fim de tudo, sinto que anulaste
as cláusulas do nosso juramento,
pois abraçaste amor sem fundamento,
deixando-me de lado, qual um traste.

Teu decidir foi lapso de um instante
marcado pelo instinto da impulsão,
refugando as promessas de união,
inscritas sob juras abençoantes.

A convivência pouca rendeu sonho
convenientemente sepultado
pela minha repulsa às ações tuas.

Quanto ao teu novo amor, estou risonho,
vendo em palpos de aranha teu contrato,
vigindo sob o véu das falcatruas!
- Rio das Ostras – RJ – 2006 -








CORPO INTENSO!

Teu corpo é brilho, emana a luz do cobre;
espádua, ventre, pernas, rosto e braços,
enfim, tu te iluminas nos espaços
que a tua veludosa pele encobre.

Que sedutora a tua resplendência!
Ela acende a libido mais remota
e aos prazeres da vida ela devota
o esplendor que impulsiona a intumescência!

Transcende ao macrocosmo o amor e o gozo,
quando, lasciva, ao leito tu te entregas
sob a energia que percorre tua alma.

Se eu bem conheça o teu amor ardoso
e as manhas prévias antes das refregas,
igual a ti não há outra vivalma!
- Rio das Ostras – RJ – 2009 -









VAMOS À LASCÍVIA

Confesso-te, sou teu, apenas teu;
muito feliz, já não me engano, creias.
Embora eu te pertença, não há peias,
o nosso amor é livre, ele venceu!

Ao fim, também tu és minha sem reserva;
o meu querer por ti rende-te hosanas.
Vibro ao teu lado e, ao meu, tu te ufanas;
no amor, sou teu escravo, oh, minha serva!

Também és a rainha e eu sou teu rei;
és o infinito, eu sou a eternidade;
no cosmo, és o espaço, sou a luz.

Para os nossos pecados, não há lei;
nossos desejos rendem-se à verdade;
vamos, pois, à lascívia que seduz!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -







QUERO-TE

Desejo-te, amor, na manhã fresca e nua,
sentir as canhadas sensuais de teus seios;
cunhar versos, beijos, abraços e anseios;
sonhar com teu corpo lascivo que estua.

Agora que domo a luxúria e a pulsão,
provando a acidez das maçãs verdoengas
-são provas finais das mais longas penden-gas!-
a vida me ajusta a pensar com afeição.

Aceita o convite que o tempo teceu
ao largo de tantos vazios e ausência.
O amor muito pouco é fiel aos distratos.

Vamos, há saudades, o amor não morreu,
e as uvas banhadas de orvalho e a querência
esperam-nos vivas cumprindo seus tratos!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -








MÃE

Meu verso canta os elos de nobreza
que unem mãe e filho ao fado etéreo;
tema de encanto, pássaro sidéreo,
trata do amor de mãe com singeleza.

Sem jaça, encantador, vero e grandioso,
o amor de mãe esparge força e luz
sobre a vida do filho que a seduz,
seu bem maior - tesouro mais precioso! -

Milagre glorioso da criação,
a natura renova a geração
nas mãos desta mulher abnegada.

A mãe é a força plena da emoção,
ao mesmo tempo em que usa da razão,
sem perder o lugar da mais amada!
- Teresópolis – RJ – 2006 -









TUA AUSÊNCIA

O tempo de prazer foi-me fugaz;
amor intenso, sim, ânsias ardentes,
mas desapareceste e, então, jamais
deixei o monastério dos gementes!

Em tempo algum me imaginei tão só,
amargurado, débil, quedo e mudo;
estejas certa, creias, não me iludo:
teu legado rendeu-me dor e pó!

Ao passo da memória recidiva,
impingindo o sofrer, eu te fiz diva,
musa dos belos versos da saudade!

Lançado à solidão mais abrasiva,
alma exposta à mordaz acerbidade,
entrego-me à voraz eternidade.
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









ENQUANTO OS SONHOS VIVAM

Os sonhos antigos erodem aos ventos.
A força que chega é futuro visível,
mostrando sem pena ser quase impossível
tornar as idéias concretos eventos.

No entanto, o passado revela uma luz,
alerta ao presente que a lida não cessa,
rezando a cartilha do tempo que a pressa
às vezes é amiga da paz que seduz.

Baú de idéias e plano que vingue
durante a aventura nas quadras da vida,
enquanto haja força no leito da gare.

Ao fim, a existência revela-se um ringue,
até que o nocaute sem volta decida
que a luta se acaba e que assim se declare!
- Macapá – AM – 2010 -









SONHOS REALIZADOS

Almejo tua nudez e os teus encantos;
do meu desejo, vem, sejas escrava!
Mandemos, sem pensar, a dor à fava,
matando a solidão acerba e os prantos.

Quero-te ao leito em frêmitos, vencida,
sensualidade à pele e os ais nos lábios,
tremor de ventre aceso – obra de sábios -,
louvemos nosso êxtase, querida!

Sozinho, minha alma esturra em vãos senti-dos;
repilo a sensação dos maus pressagos;
façamos poderosos nossos fados!

Somadas as volúpias e os bramidos,
dar-te-ei aos pelos de ouro os meus afagos,
seremos muitos sonhos realizados!
- Macapá – AP – 2010 -







BUSCA VÃ

Do teu mundo, faz tempo, hiberno na ausên-cia.
Um tempo vivido sem sonhos reservas,
sofrendo reveses nas mãos de catervas,
à espera do encontro em comum residência.

Mantenho-me íntegro, útil, saudoso,
lembrando teu viço de língua lasciva,
teu corpo sensual donde o gozo deriva,
à espera prudente do leito sedoso.

À força de ter-te, busquei sem fronteira,
enquanto as andanças dos teus desencontros
lançavam-te às ânsias falseadas do amor.

Cansado, reencontro-te estranha, fuleira,
marcada em falquejos de impuros confron-tos,
sofrendo as procelas de um breve extertor.
- Teresópolis – RJ – 2000 -









ANTES DE TUDO, AO MENOS VER-TE!

A tua voz inspira este poema,
consagro-te, endeusando-te, estes versos.
Atento, percorri mundos diversos,
desejando adequar-te a belo tema.

Sei que há fogo nas tuas emoções,
quando falas da vida, dos caminhos,
como se interpretasses pergaminhos
da história, do futuro e seus senões!

A tua voz reveste-se de encanto,
afasta a dor amarga, espanta o pranto,
envolve-me de sonhos, de prazer.

Porém - que fado estranho este acalanto! -,
ao confessar-te as ânsias de querer-te,
antes preciso, é claro, ao menos ver-te!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -








GENTE PEQUENA, DESPREZÍVEL

Há gente apodrecida de nascença.
Alma rudimentar, cérebro rude,
desconhece qualquer magnitude,
porque subterrânea sua crença.

O sentimento sórdido pulula,
egresso dos escuros da alma acerba,
destilando as vilezas da soberba
na pequenez moral de uma ação nula.

A inveja deixa rastros virulentos;
ódios ressumbram na asa dos rancores;
o mal se assanha ao gume das adagas.

Desprezível obreiro dos tormentos,
constrói-se sobre feles, sobre dores,
tendo o destino atado a ardentes chagas!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -








FERRÃO VENENOSO

Faíscam meus olhos atentos, lascivos,
intensos nas ânsias que arrostam meu tempo
a antigos momentos de encontro ao relento,
aos beijos nas praias de amores cativos.

O corpo incontido tremula saudoso,
marcado de ardência, de voz madrigal,
pousado na areia, tomado de sal,
ao canto profundo do mar proceloso.

O ventre repete a tensão do desejo,
enquanto a memória relembra o latejo
dos nervos vitais aos prazeres do gozo.

Presente nostálgico! O amargo festejo
é fruto de sonho vivido e alteroso,
que o tempo transforma em ferrão venenoso!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









PEPITA RARA

Desejo uma mulher que eu nunca traia,
que me faça feliz de qualquer jeito
e que atenda a lascívia de meu pleito,
vivendo livre ao farfalhar da saia.

Essa mulher existe; porém, onde?
Intrépido me faço noite e dia,
enfrento o abismo nu da rebeldia,
sei que em algum lugar ela se esconde!

De prova em prova, atiro-me ao regaço
da que presumo a flor do bem-me-quer,
a titular do que deveras sinto!

Na aventura sem peias, ganho espaço,
sabendo que esse tipo de mulher
seja pedra mui rara no garimpo.
- Rio das Ostras – RJ – 2007 -









O AMOR, SIM, É A ESSÊNCIA

Sei bem o que passei e o que senti,
sob o amargor da ausência que impuseste.
Dor profunda vivi, dor inconteste,
meu coração feriste a bisturi.

Em pouco, deu-me a sorte a cicatriz,
levando-me internado ao monastério,
onde de vez curei todo mistério,
escapando do inferno por um triz.

O amor supera a vã filosofia,
supera a autoridade dos vilões,
não dá vez à política vazia!

O amor é a autoridade mor que um dia
dará frutos, mostrando aos teus botões
que ele é a essência e o resto é fantasia!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -








POEMA-EPITÁFIO

Ataca-me o azar do pestífero aviso.
É trama tecida na tela do espírito,
antiga existência rompendo estações,
amante das vísceras gastas, cansadas.

Entrego-me, assim, ao silêncio maduro,
nascido em trincheiras de vida consciente.
Conheço os desvãos da lorpice que avulta;
conheço o cinismo das tropas imundas!

As horas se esgotam, meu tempo se esfuma,
adeuses se aprumam, presságios se ajeitam,
porém, segue a vida amoitada em projetos.

Conheço a miséria do sonho desfeito,
os reles soldados, os tiros, as farsas
e o poema-epitáfio aos gritos de basta!
- Campo Novo – RS – 1978 -





VILEZAS

Emerge o abandono nas quadras cinzentas.
Há filhos prostrados à espera das horas,
lamento de fome, de rosas vencidas,
de corpos entregues às ruas de gelo.

Os sonhos das filhas precoces madrugam,
eis sombras cobrindo desejos banais!
O voto se ilude na escolha secreta;
é a crença sem fundos na fala cretina!

Magia de luzes, a farsa procria
fantástico mundo, deveras estranho,
levando às masmorras mais doses de fel!

Há homens funestos, idéias sombrias,
arrumam-se em rede de males sem conta,
montando discursos de pura vileza!
- Teresópolis – RJ -1998 -









POXA!

No limiar das ânsias redentoras,
galopes sem destino, imprevisíveis.
Eis-me e ei-la nos arroubos mais incríveis,
eu fera e ela doce domadora!

O vento feito sombra fria sopra.
Minhas patas e mãos arrancam grama.
Depois, na praia, gemo, e a musa insana
entrega-me à impulsão e em mim se acopla!

Agora, já faz horas nas areias.
Ah, que mulher lasciva esta sereia!
O dente marca a pele, seios, coxas!

Do meio para o fim, a voz rareia.
Procura-se descanso, ela está frouxa.
E eu estou acabado e fraco, poxa!









VOZ SOCIAL

Conforto-me com a lida do cinzel,
desgaste necessário à forma plena,
pois que amaina o vesúvio da alma bruta,
entregando-me aos ventos sem vaidades.

Vão-se as sandálias rotas, rosto ao tempo,
atendendo às magias sem reclamos,
superando ameaças, labirintos,
abandonando a vida fadigosa.

Sentenças multiplicam-se brumosas,
aproximam tensões, feras e fogo,
enquanto os passos fogem da injustiça.

E ainda agora vibro sob vozes,
desejando encontrar os fundamentos
que fazem da loucura a voz social.









DESISTIR?

Garra afiada, instinto perversor,
eis o incognoscível a devorar-me.
Dominação sem freios, alma férrea,
vivo em redemoinhos, caos sem fim!

As resistências cedem frágeis, frouxas;
forças centuplicadas, porém, vencem,
mantendo-me de pé sob defesas,
embora as ameaças renovadas.

Meu grito ecoa e a vida continua.
Minha alma e minha carne estão aqui,
diante dos ecos tensos que não cessam.

Meus olhos desbagoados vão-se à ervagem;
perder-se-ão logo adiante na descrença.
No olho do furacão, quem viverá?








POLIPOLAR, EXPERIMENTE!

Animais turbulentos andam soltos,
rompendo minhas cercas interiores.
Contenho-me, tentando rédeas firmes,
ao passo da soberba consumida.

Agasalho notícia alvissareira,
sobre o daqui a pouco da procura.
Dói a verdade, prumo incontestável,
como algo preso em couro cru, aos gritos.

Gritar ‘meu Deus’, sei lá, não sei se vale;
quem sabe, ‘estou perdido, estou no fundo,
desejo tuas mãos, quero escapar!’

Há caos que é pedra, pó, porra nenhuma;
é confusão que sobe e desce ao chão,
aviso de que o polo será outro!









CONTINUO

Garimpo resistências nos escuros,
também nas claridades das manhãs,
vencendo o tempo rude e misterioso,
após luta tenaz contra segredos.

No embate noturnal, esgano sombras,
pisando nos poemas feitos fósseis,
sob a revelação das solitudes
dos ideários vis dos gabinetes.

Acordo sobre os pisos sem sentido
das cortes instauradas da injustiça
para sofrer processos de vinditas.

Mantenho meus propósitos, não paro;
a bateia produz meu ganha-pão,
porque bamburro, mesmo vergastado!










PÍNCAROS DA INSÂNIA

A produção dos parvos burocratas
atolam-se na lama das gavetas,
enquanto a morte brinca nas auroras,
enquanto a dor carcome a sorte humana.

Marcadas pelo agouro dos pulhastros,
são frutos dos feitores seculares,
donos da aplicação das leis gerais,
reservando o demônio para amigo!

Funcionários autômatos, sem rosto,
insensibilidades florescentes,
dos cidadãos, sois vós toda a desgraça!

Malandrinos escribas dos balcões,
desobedecem prazos por maldade.
Isso me leva ao ápice do asco!
- Rio das Ostras – RJ - 2010 -









AUSÊNCIA DE INSPIRAÇÃO

Busquei os poemas mais cheios de graça,
no olor das areias, dos bosques, dos mares,
vencendo conceitos difusos nos bares,
ganhando e perdendo princípios sem jaça.

Forjei-me nos ágeis impulsos felinos,
no fogo primevo, na dança dos deuses,
no encontro do amor traquejado em adeuses,
na busca incessante dos poemas-destinos.

Pisei penedias - só ondas revoltas -,
visando encontrar os meus versos ali;
no entanto, frustraram-se nus os sentidos.

Senti que eu buscava utopias envoltas
em sérios segredos que nunca vivi,
tornando-se assim os esforços perdidos!









O MORTO MAIS RECENTE

É agouro natural - proclama a vida -,
prenunciando a agonia do mortal.
Em pouco, a podridão do festival
preparará aos vermes a acolhida.

Na ante-sala, o sujeito do festim,
algaraviado, toma-se em delírios,
prevendo flores lindas - rosas, lírios... -,
sob a sanção do algoz do eterno sim.

Na algidez, sobre o tampo mortuário,
infenso a despedidas lamurientes,
o corpo expõe-se ao luto tão presente.

No correr do velório, chega o horário
em que a lágrima encerra o corolário
dos adeuses ao morto mais recente!









A UMA MULHER DE VERDADE!

Lembraste-me de um tempo, agora antigo,
quando o grito consciente se elevava,
buscando a liberdade sob a clava,
ao rigor da tortura, do perigo.

Das memórias, a um filme inteiro assisto:
perseguido, alijado pela escória
- a mesma que enodoa a nossa História -,
quanta miséria guardo em meu registo!

Naqueles dias negros – quanto enredo! –
sequer ser racional se poderia,
diante da ditadura dos galões!

Arremedos de gente, impunham medo
os guardiãos “da mais sã Democracia”,
alfim – ânsias de vômito! – uns poltrões!








À PENA CAPITAL TAMBÉM ME VOU

Condenaria à pena capital
aquele que impetrasse crime infame;
espíritos sem luzes, é o derrame
da vontade forjada para o mal.

Aplicaria a câmara de gás,
o punhal, o veneno, a forca, o tiro,
também o empalamento num suspiro,
à presença do instinto vil, lobaz!

Pertenci à voragem dos catervas!
Meus atos resultaram reprovados!
A voz do demo estala aos meus ouvidos!

Entrego-me aos processos sem reservas;
também pena de morte aos meus pecados,
para adimplir meus títulos vencidos!









SE QUERES ASSIM...

Desejo as águas puras da floresta,
o fruto cru das ânsias do seu beijo,
a emoção do hemisfério dos seus sonhos,
rendendo hosana ao belo da consciência.

Que as manhãs sejam bem intencionadas,
almas limpas, translúcidas e férteis.
Já não sei até quando me darei
limpando o lodo antigo de meus rastros.

Não me venham desgraças repetidas;
transmude-se a impureza de uma vez
no idílio dos instantes perquiridos.

Hoje endosso o viver que me aproxime
da natureza pura do seu corpo,
sob a canção madura dos prazeres!










TEMOR

Tentei limpar meus muros interiores.
Rascantes inscrições, limos antigos,
ferrete resistente, ora perigos,
ora fala distante, ode de amores.

Há notas implicantes, dolorosas;
porém, arquivos hoje mutilados,
revistos em velórios conjugados,
aplicando vinganças poderosas!

Essência de veneno, males, dores,
tramas, tensões de cargas, visgos, rama,
sob jatos, a vida estremecia!

Restaram maus sinais. Nos estertores,
marcaram-me de puro sobre a cama,
sem pecados e justo... O que eu temia!
- Teresópolis – RJ – 1995 -








JURISDIÇÕES MEDÍOCRES

Justiça de comadres, como frangas
atropeladas sob trem noturno,
não sobram nem as penas no soturno
decidir entremeado de cafangas.

Justiça de urubu, Justiça morta,
são fusíveis queimados os despachos!
As sentenças, comandos do esculacho;
A negligência torpe bate à porta!

Justiça mambembeira, onde os atores
representam papéis de vis louvores,
usando como palco um circo imundo!

Muito embora serviços redentores,
o injustiçado acusa, moribundo:
Esta Justiça é farsa, é o fim do mundo!
- Rio das Ostras-RJ-2010 -







MATA-BORRÕES DA CHINELAGEM!

Vomito-te na cara, ocioso pulha!
Engulhos sobrepõe-se à minha paz,
trazendo azia ardente e pertinaz,
diante do nojo intenso que me embrulha!

Invento-me de corpo diamantino,
de corrosivos, de aço carbonado,
perante o escroque vil do pau mandado,
que atenta contra a pátria em tom cretino!

Dissimula a lambujem dos magrinhos,
atolados na lama dos papéis,
até que o tilintar da prata ecoe!

Nomeio aos da Justiça malandrinhos,
ao gosto dos salários de bedéis,
burocratas ansiando que a hora escoe!
- Rio das Ostras-RJ-2010 -









RASTROS DENSOS

Partiram meus avós, meus pais também.
Em breve serei dono da aventura
que a muitos leva à pista mais segura,
para o encontro eternal da paz no além!

Não quero o Paraíso da Escritura,
essa atração que a tantos alucina,
pois se trata de engodo esta vacina,
que acena a eternidade da tesura!

No cofre da memória está guardado
o pó que no passado me deu forma,
mostrando os rastros densos do que sou.

Desejo o meu lugar no barro amado,
a fonte da progênie que me informa
e a toda humanidade que gerou!
- Pelotas-RS-1986 -








NA MISÉRIA, A INDIFERENÇA

Qual canto gregoriano à noite morta,
derrama-se no campo escuro a voz
da adolescência inculta, analfabeta,
como reza de busca esperançada.

É o clamor tamponado da miséria,
senhora absoluta das feridas;
das cicatrizes, dona sem reservas,
no assento das lembranças dolorosas!

À luz titubeante das candeias,
o ser humano rude pede paz,
olhando o céu, mãos postas às estrelas.

Sua alma verga ao peso das ardências;
sem prazer, transitou sob mudezas,
sobrando-lhe da vida a indiferença!
- Canguçu – RS -1981-









TRAMA DOS AÇÚCARES

Manhãs, tardes e noites causticantes,
milimetrando a planta dos patrões,
mandatários, políticos, chefões,
egressos dos infernos estatais!

Perversos catadores de cabeças,
destinadas às lides das insânias,
são práticos da Granja dos Horrores,
hábeis no boticão da dor sem muros!

A rangeção de dentes dá notícia
do noturno festejo vermical,
durante o vão descanso madrigal.

São os dentes da cárie enlouquecida,
multiplicada à trama dos açúcares,
a definhar infantes operários!
- São Gonçalo, RJ – 1981 -









TUTELA VESGA DA OMISSÃO

Verto o sangue da criança extenuada,
clonado que me fiz para viver
um pouco da experiência que vitima
os filhos excluídos da Nação.

Invictos na dor, ei-los sem sonhos;
eis-me a provar um tanto das derrotas,
desesperanças cruas, desesperos,
feito em destroços nus na tempestade.

A solidariedade é prato feito
na contabilidade dos palácios,
onde os conchavos servem sobremesa.

Sob a tutela vesga da omissão,
a fome grassa astuta na morada
das panelas vazias das querências!
- Campo Novo – RS – 1977 -









ESTADO INÍQUO

Submisso ao contrato dos cretinos,
conceituado em tratados acadêmicos
como instrumento vil da escravidão,
vou-me a atender a voz exploratória!

Abraço a carga dupla das colheitas,
em troca dos vinténs achacadores.
Eis o mar podre, lama da desonra,
lançada sobre a Terra Soberana!

A Pátria que se apruma em liberdades
encontra-se ao rigor da Carta Mãe.
Onde, porém, a sorte de seu povo?

Mar de pulhastros, cínicos, velhacos,
corrompendo os pilares da moral.
Tutela-te a omissão do Estado iníquo!
- Pelotas – RS – 1991-











SOMOS BRASILEIROS!

Deitado à tradição da hipocrisia,
vigente nos palácios suntuosos,
os governos seduzem com promessas,
engabelando ingênuos eleitores.

Sob o comando torpe da política,
sobre a tribuna em ano eleitoral,
a obra se posterga em fala mansa,
deteriorando anseios populares!

O Poder é tronqueira de banhado,
sustentando projetos de campanha
que jamais levarão a lado algum!

Descarta-se, porém, perder a crença.
Não esqueçamos, somos brasileiros,
filhos do norte, sul, do leste, oeste!
- Pelotas – RS – 1989 -









BRILHO DOS DISCURSOS

Bandidos atropelam-se nas ruas,
afrontando os agentes repressivos,
levando de roldão os regramentos
tendentes a conter os criminosos.

Quantos se antepuseram aos delitos,
homens determinados a lutar!
Mas sendo farsa a segurança pública,
nada se altera à luz do dia-a-dia!

A causa é fria, odienta e tem partido:
liquidam-se famílias por suspeitas,
como fosse um direito à farda impune!

A crença em Deus é puro protocolo.
A comuna se rende aos cafajestes,
fascinada com o brilho dos discursos!
- Teresópolis, RJ – 1999 -








IRAS DISFARÇADAS

Hoje as ruas são templos de violência;
do canto juvenil, há muito caos.
Enquanto a morte assume almas e sonhos,
desejo-vos sem ódio ou vitupérios!

Multiplicam-se o bando de viciados
e as teses dos políticos sagazes.
A droga assumirá nova esperança;
a descriminação possui bandeira!

O estelionato rege as relações;
estupros, homicídios e sequestros
posicionam-se ao grau de epidemia.

O freio inibitório hoje se rompe.
Mergulha a sociedade nos conflitos
da reza espúria - iras disfarçadas!
- Niterói – RJ – 1996 -








FORJA DOS SONHOS

Aos poucos me atiro na forja dos sonhos,
ganhando o universo de mágicas vias,
fazendo-te alvo de minha lascívia,
vulcão de sentidos que entrego à tua alma.

Memória sem tempo, desenho teu corpo,
coloco-te ativa num templo de nuvens.
Transformo-te em cio de úmidas tramas,
à fera te igualo nos sons do desejo.

Retrato-te nua à libido explosiva,
matéria de instinto, de entranha profunda,
trazendo-me assim um viver quiromântico.

O espírito entralha num mundo de encanto;
são beijos, abraços, carícias sem conta,
estradas de névoas, de flores, de cheiros!
- Rio das Ostras – RJ – 1990 -









TRANSFORMAR MALANDRO EM VAIDOSO

Há quem busque Justiça nos milagres,
nos atabaques surdos, madrigais,
na propina dos atos ilegais,
no intimismo da festa das comadres!

Há quem venda ao demônio a consciência,
quem permute favores com togados,
planejando congresso de safados,
sob o conluio vil da intransparência!

Há o embezerramento de quem julga,
ao sentir-se ofendido pela parte,
só porque nominado preguiçoso!

De tudo noto, ao beiço de uma pulga,
os títeres de lata ao vezo da arte
de transformar malandro em vaidoso!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









A JORNADA MAIS SE ENCURTA

Bebo a severidade das idéias
marcadas de intuições, verdades, rezas,
cantadas pelos formas da nudeza
e orações de mudanças para sempre!

Retornar nunca mais, eis a sentença,
pois voltar é processo espinescente.
A noite silenciosa dos luares
será minha durante a eternidade.

Hoje sou diferente e tão mais velho,
distanciado dos temas de antigualhas,
entregue aos meus botões, longe da História.

Olvido o fado inútil dos pecados
da gente amarga e fútil que anda alhures,
porque agora a jornada mais se encurta!
- Juiz de Fora – MG – 1990 -








BUROCRATAS DE PLANTÃO

Ouço o cantar amargo das leis cruas,
junto aos códigos feitos águias mortas,
nessa aventura simples – minha vida -,
trajetar sem fronteiras e emoções.

Caço-me na floresta dos enigmas,
conformado com o tempo de injustiças,
ouvindo as vozes broncas dos Conselhos,
cheias de regras falsas, vilanias.

Provo condenações sem causa justa,
formalismo voraz da insensatez,
deslustrando a razão dos Tribunais!

Colho águas plúmbeas, frias e salgadas;
joga-las-ei nas caras descarnadas
dos rudes burocratas de plantão!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









TAPERA DA DOR

Parido ao lume débil das candeias,
mais um filho na prole se conscreve.
Recrudesce a aventura por espaço
na tapera da fome e da lamúria.

O resguardo da mãe tem seu limite
no tamborete a um canto da cozinha.
Água, banha, farinha, eis o pirão
preparam-se ao banquete da miséria!

Eis a mãe no cuidar de cada dia,
e o pai rompendo as horas na doença,
enquanto o irmão reparte o leito roto!

Rudes mãos ao facão cumprem seu fado,
para aumentar o pão do pauperismo,
enquanto outro rebento aumenta a prole!
- São Gonçalo – RJ – 1974 -








GENTE AZIAGA!

Não há como conter as emoções
que se vão frágeis, nuas, pelo ralo,
deixando a alma vazia, pobre, fria,
num corpo sem sentido e moribundo.

Cada segundo é queda sem retorno;
coração débil e alma escalavrada,
levo últimos sopros ao abismo,
guiado por infames picardias!

Quantas lembranças, quantas, as que doem!
A piedade conturba e me enlouquece,
enquanto queimo acervos na memória.

Não sei como manter boa distância
para escapar das vãs recordações
daqueles que desejo ver distantes!
– São Gonçalo – RJ – 1974 -









AMEAÇAS SANTORAIS

Pensei que eu partilhasse dos problemas;
de repente, senti que estava fora,
pois me pediste um tempo e foste embora,
rompendo-me de ti, dos teus dilemas!

Não deixaste sequer uma semente
ao ganhares teu tempo em vãos sentidos.
Carregaste teus pesos, teus pruridos,
no ardor de culpa intensa e comovente!

Não sou cristão, católico, evangélico;
não sou da gente espírita do além;
não sou dos sacrifícios dos rituais.

Carrego minhas culpas sem tom bélico,
pois não se mata o amor que nos convém,
mesmo sob sentenças santorais!
- Rio das Ostras – RJ - 2010 -









TRAGÉDIAS COTIDIANAS

Explosões no silêncio da alma insana,
ei-lo - psicopata na arte solo -,
carnificina, adaga e o protocolo
da fria perversão que assaz emana.

O monstro a mutilar! O sangue; a tina;
a lógica verduga dos delírios;
a vítima sofrendo vis martírios...
É o ferrete moderno da rotina!

Do pesadelo, acordo sob o grito
da gente torturada - apelo aflito -,
dissecada ainda viva pelo louco!

A eugenia, afogada nos conflitos
das discriminações, realiza pouco,
quase omissa fazendo ouvido mouco!
- Rio das Ostras - RJ – 2009 -









DRAGÕES OU BUROCRATAS

A palavra madura vence a luta,
seja contra dragões ou burocratas.
Não se curva às espadas nem às datas
pois seu lema é a “verdade absoluta”!

Quantos cretinos agem nos balcões,
moral apodrecida, aliciadores,
impondo a venda imunda de favores,
representando inúteis canastrões?

A palavra madura não se entrega;
diamantina, ela é força poderosa
que um dia lança o pulha ao rés-do-chão.

Os sórdidos chafurdam na refrega,
sentenciados à lama mal cheirosa,
quais gusanos da imunda podridão!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -








DAR UM TEMPO

Dar um tempo é jogar o amor aos ventos,
sair sem jeito - réstia de esperança -,
para abraçar a vida que se lança
sobre o vazio de atos desatentos.

Dar um tempo é desculpa que se elege
para dar fim ao sonho em desalinho,
que se amoita enjeitado no seu ninho,
ao peso dos pecados da alma herege.

Dar um tempo é fugir da realidade,
deixando para traz a acerbidade
corroendo um coração cheio de amor.

A história de dar tempo é vanidade;
é milagre impossível recompor
sonhos dilacerados pela dor!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









O SENHOR DOS ÓDIOS

O rosto rude, a boca sem assunto,
antigo colhedor de desengano,
agora vaga ao breu, feito gusano
sob a pútrida derme do defunto.

Alma rústica, ser que a natureza
moldou a ferro frio em bruto barro,
entrou na vida como o mais bizarro
dos homens conhecidos, com certeza.

Fabricante de males repulsivos,
ora estupra, ora mata, ora sequestra
- gênio do crime, vil psicopata!

Oriundo dos caldos mais lesivos,
de milênio em milênio rege a orquestra
que move na alma o caos de sanha inata!
- Pelotas – RS – 1985 -










VERBO DOS GEMIDOS

Não me interessa o custo da aventura
que em busca de teu corpo agora enceto.
Importa-me a razão desta loucura:
o desejo de ter-te junto a mim.

Por que sustar o impulso dos instintos,
reservatório prenhe de libido,
se as ânsias me carregam sob sonhos
pelos caminhos livres da emoção?

Guardo-me amante intenso aos teus ardores;
dos teus lábios, provar beijos sem conta;
no teu colo, ceder-te adulações.

Desejo te levar a gozos plenos,
sob a nudez dos corpos luxuriosos,
vencendo a noite ao verbo dos gemidos.
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -









DISFARÇADO PESADELO

Os cães latem sem causa pelas ruas;
há miséria na noite afadigosa.
Ferreteando a velhice assaz penosa,
o frio açoita a carne e a alma encrua.

O sonho é disfarçado pesadelo,
travesseiro das dores maiorais.
Seres humanos dormem nos jornais,
enquanto a vida passa em vãos apelos.

As calçadas são lares multiformes:
à noite, são abrigos fantasmais;
durante o dia, acolhem mortos-vivos.

Ambiente vil de seres abnormes,
traduz-se em conjunções desnaturais,
à luz de mandamentos perversivos!
- Canguçu – RS – 1981 -








DENSA SOLEDADE

Ao ouvires o canto de meu verso
- súplica da alma amarga, oração triste -,
saberás que o sofrer ainda resiste
no coração do vate em dor imerso.

Porta aberta à loucura - quem diria? -,
esse caos é transtorno iniludível,
levando o meu desejo inacessível
a tornar-se, de um sonho, uma utopia.

Trago o rosto marcado pela idade;
minha alma curva, ao peso da experiência;
hoje me nutro apenas de lembranças.

A consumir-me, a densa soledade,
ditando a minha acerba decadência,
sob os restos mortais das esperanças!
Rio das Ostras - RJ









REVELAÇÕES FUNÉREAS

Ao derradeiro pó, vão-se os mortais,
levando sentimentos e matéria,
enquanto no sepulcro da miséria
as larvas tramam ritos vesperais.

Que horror ver-se acabado e apodrecido,
o cérebro vencido, decomposto!
Aquela gente toda sobre o rosto
vertendo falso dó do falecido!

Verdade, a sensação da morte assusta,
porque a revelação funérea implica
na ciência antecipada dos rituais.

E não há dor que seja mais robusta
do que a dor de antever-se uma titica,
após viver histórias colossais!
- Pelotas – RS – 1996 -











SONO PROFUNDO

Conquisto-te, vinho, na noite madura,
entregue à incerteza da espera sem data,
com a fala insegura, ao murmúrio-monólogo,
sem sonhos, sem rumo, aprendiz dos senti-dos.

Perdido em silêncio de dores banais,
degusto teu corpo, morada dos sonhos,
em busca do instante que forje a jornada
do gozo sem muros num tempo de paz!

Não quero a consciência pautando tragé-dias,
traçando mentiras, sorteando o destino,
levando meu passo aos confins dos abismos.

Aprendo evasivas sorvendo-te em goles,
fugindo das sombras que encobrem minha alma,
até que eu mergulhe num sono profundo!
- Pelotas – RS – 1987 -






O TEU DESPREZO

Há luxúria aflorando à pele ardente;
demônios rompem alma, carne, veia.
Teu jeito sensual desencadeia
a impulsão do prazer em mim latente.

Extremada volúpia requer freio.
Meu corpo transfundido não atina
que a convulsão que o toma é triste sina,
geradora do caos que não planteio.

Viver sob este clima tempestuoso
- cenário de explosões dos meus desejos -,
é sofrer repetidos desencontros.

O teu desprezo é fado amarguroso.
Distante do teu corpo e dos teus beijos,
entregarei meus sonhos aos meus prantos!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -






PENDOR AO MANDONISMO
Um contingente humano celerado,
nascido de inorgânicas matérias,
à sorrelfa produz muitas misérias
no seio do infeliz proletariado.

Essa gente se presta à fantochada,
vendendo o não amargo e a hipocrisia,
edificando a vã paralisia,
tornando a pátria nua e espedaçada.

São donos do talento ao mandonismo;
no entanto, confinados num balcão,
para o exercício do pronome não.

Assim, dessa catefra, sobra o abismo;
ao lado, o império bruto do cinismo:
a lei, o burocrata e o empurrão!
- Rio das Ostras – RJ - 2010 -









JULGAMENTO

Travado, quieto, mudo, ao deus-dará,
vencido ao peso imenso dos pecados,
entrego-me sem ódio ou resistência,
para remir, enfim, as culpas tantas!

O saco dos meus vícios, transgressões,
encontra-se repleto e não o suporto.
Se essa carga aumentar, sucumbirei,
seguindo sem parada para o inferno.

Agora é tarde, pois me faltam forças
para eventos de cunho capital.
Perde a vez a impulsão de todo vício!

O julgamento eterno é o que me sobra,
no tribunal severo da existência,
até que se deslinde o meu destino!
- Pelotas – RS – 1987 -








ESPAÇOS TEUS

Sonho-te minha, sempre, noite e dia.
Canto teu riso, o abraço, o gozo, o olhar...
Onde teu corpo agora, onde teu beijo?
Rompo a imaginação nessa procura.

O tempo que transcorre sem sentido
não é o mesmo tempo que absorvo,
sob o tempero suave das lembranças
ou sob o amargo puro da saudade.

Maturo meus desejos intranquilos,
domando as traquinagens da libido,
contendo as emergências da emoção.

Assusta ver-te alhures, tão distante,
enquanto o tempo embala a solidão,
cobrando-me os espaços que são teus.
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









VERSOS DE QUASE LOUCURA

Acolho bons frutos das tantas quimeras
que exibes durante o sagrado sorver.
Recebo-te, vinho, na festa do amor,
ao som da poesia que enleva minha alma.

Seguro, me entrego às promessas que fazes:
mudar meu caminho do rumo assombrado,
da estranha mudez do desejo que nutro,
sem brindes festivos, ao cálice amigo.

Recebo-te, vinho, porque me és leal;
restauras amores confusos com zelo,
nas noites de angústia, de espera sem paz.

Se és branco, se és tinto, o que vale é a res-posta
que entregas aos pés do poeta sofrido,
no mundo dos versos de quase loucura.
- Casa de Pedra, Canguçu – RS – 1982 -







PRAZER ETERNIZADO

Desejo-me em silêncio absoluto.
De parceiros, apenas meus fantasmas,
alguma emanação e ectoplasmas;
nada de gato, cão, mendigo e luto,

ou mulheres fantásticas, audazes,
aventuras e amores resolutos,
amigos diplomados, impolutos,
pois do encanto e da paz são ladravazes.

Quero espaço sem tempo, via aérea,
varadouros, marítimas correntes,
caminho não adrede planejado.

Da natura, obter a vida etérea,
partir pra longe das terreais serpentes
ao calor do prazer eternizado!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -








ORA, ALMAS PENADAS!

Assustam-me os fantasmas cerebrados,
que pensam, falam, gritam por aí.
Por eles, creiam, já penei, sofri;
mas inverti e hoje os expulso aos brados!

Antigamente, eu contornava ruas,
dava as costas aos prédios assombrados,
olhava sempre para todos lados,
batia o medo ao enxergar a lua.

Contra almas do outro mundo, vivo armado,
pois de más intenções elas sobejam,
tentando dar o bote nas esquinas.

Saiam da frente, pois estou irado;
vocês são rudes onde quer que estejam;
pega-las-ei aos tapas, em surdina!
- Niterói – RJ – 2002 -








RETRATO

Quero teu verbo transformado em ais,
rosa e titânio brutos em refrega,
emoção simples, útil, verde-selva,
desejo sem angústia a dominar-me.

Chamo-te às labaredas e ao silêncio,
noturnidade pura, flor e vida,
catálogo de anseios sem limites,
acordos de verdades sobre o leito.

As orações profundas são sementes,
ora de súplicas sem medo e fala,
ora de fogo lento e sensações.

São pregações do quero sem fronteiras,
impulso resoluto sem frenagem,
gastando o teu retrato e a tua nudez!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -









ASAS DA LEMBRANÇA

Com teu fogo sem doma, boca nua,
alma em chamas, palavras em murmúrio,
quero-te mais e mais, intensa e viva,
para cuidar-te em sede de lascívia.

Na quietude do abismo e do presságio,
visualizo tuas formas na memória,
teus gestos, o ambular sensual dos passos
e a geometria astuta de teu corpo.

Gravo-te como o artista dos cinzéis,
fazendo-te amuleto dos instantes,
maior intimidade dos meus sonhos.

O tempo flui e a vida não dá tréguas;
por isso é que te trago a todo instante,
ferreteada nas asas da lembrança!
- Rio das Ostras – RJ -2009 -







DISCURSO APÓCRIFO

Sobra o frangalho, o sangue, o pus, o grito,
a têmpera sem base do herói nu,
enquanto vinga a terra acesa e rica,
à espera dos combates silenciosos.

Sobra o rosto empoeirado do campônio,
este armazém de dores e desejos,
retornando da lida sem futuro,
ao rigor da vigília nos cercados.

A terra geme à luz das lamparinas,
enquanto o sonho de reforma agrária
multiplica a desgraça e acirra os ódios.

A estrada abriga proles miseráveis
- chorume social, reles rejeitos -
sob o discurso apócrifo da elite!
- São Gonçalo – RJ – 1973 -









PODERES DO ZERO

Não dou vida à pobreza do ideário
que alimenta o poder da gente anã.
A força que venero é força sã,
não dou trelas a reles mercenário.

O verbo que campeia a trouxe-mouxe
é claro, contundente e regular;
constrói versos de modo a ferretear
todo aquele, que ao mundo, males trouxe.

Meu coração despreza esses catervas,
sem medo das vinditas residentes
em seus cérebros pobres e incinceros!

Por isso, dou-me ao canto sem reservas,
anatematizando onipotentes,
cujos valores guardam-se nos zeros!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -










AS EXCEÇÕES RAREIAM

A vida inteira emerge renascida,
após o beijo, o afago e o gozo intenso.
A noite do prazer que altera o senso
é a véspera da paz, sorte bendita!

O amanhã será luz, certeza e encanto,
prenúncio de união mais-que-perfeita,
se a devoção nutrida à musa eleita
afugentar conflitos, dor e pranto.

Alhures, multiplicam-se os amantes,
sob o poder noturno da elegia
que envolve o ser humano de magia!

As exceções rareiam nos quadrantes;
prevalecem hosanas extasiantes,
homenageando o amor de cada dia!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -









VULGAR SENTENÇA

Do que fui, hoje sobra arquivo morto;
o presente é troféu dos mais honrosos;
o futuro promete bens valiosos;
da vida, eis um milagre em cada porto!

Não há quem se consagre à eternidade;
não há também quem ganhe as horas extras,
se escolhe cortejar vozes canhestras,
refugindo do prumo e da verdade.

Da dúvida que leva ao purgatório,
fazer o quê, senão levá-la adiante,
até que se deslinde a desavença?

Pensar que seja um bárbaro velório
a existência deveras tão radiante,
é pura estupidez, vulgar sentença!
- Juiz de Fora – MG – 1990 -










NOVA DIMENSÃO

Calejadas as mãos, desejo vida,
esse milagre imenso, esse mistério,
essa aventura cheia de critério,
extremamente intensa e concorrida!

Quero as verdades puras sobrepostas,
às margens dos caminhos da jornada,
pois sei que, ao fim de tudo, vale nada
a existência vazia de respostas.

Sob a aventura química das ânsias,
não cessa o passo em busca do horizonte,
ao frenesi sem freios que me anima.

Meu sonho enfrenta a esteira das distâncias,
arrojo transcendente dos aprontes
da nova dimensão que se aproxima!
- Porto Alegre – RS – 1975 -









INJUSTIÇA

Há ronda de emoções fortes, estranhas;
ardências, fogo intenso em minhas veias;
carrego nos escuros as candeias,
tateando da existência a sorte e as manhas.

Há vozes de notícias sem sentido,
conluio de incertezas, mal-assombros,
destino aproximando-me de escombros,
e acusação de crime indefinido.

Anoto que estes males proliferam
como erva ruim, como inço na lavoura,
no espírito dos homens já vividos.

É o ajuste de contas dos que encerram,
sem pecado, a existência que já estoura,
mas pagam pelos males dos bandidos!
- Pelotas – RS – 1984 -








A CRIANÇA E O ADULTO

A bola, o gude, o sonho, o piquenique;
primeira namorada, a roda, a dança;
o jeito de cigano da criança,
soltando pipa ou livre, entregue ao pique.

Inúmeros projetos - e eu alado
cada vez mais no mundo das quimeras -
levavam-me à ilusão da espera às veras
do ser que me fizesse eternizado!

Eis o universo azul da infância plena,
regalos sucessivos à consciência
planejada sem rédeas para a lida!

Construídas sem traumas cada cena,
vivem o adulto e a criança em tal leniência,
que hoje são duas almas e uma vida!
- São Gonçalo – RJ – 1974 -









FAZER O QUÊ?

Teci sonhos durante toda a vida,
armazenando fardos de esperança.
Há muito lido assim: minha alma avança,
é marcha que me anima e que elucida!

As idéias - aos montes projetadas,
acúmulo de verbos e emoções -,
venceram-se no prazo dos senões,
dando ao zero o somar que rende nada!

Hoje ao redor viceja a frustração;
há sobra de vontade e de querer;
há muito de desejo e de impulsão.

Se a existência se apronta a transceder,
fazer o que com o sonho de antemão,
senão também levá-lo a perecer?
- Niterói – RJ – 1973 -










ESPERANÇA

Ao vento alísio, o canto é verbo forte,
bilhete aos teus ouvidos tão distantes.
Se a sorte é minha, quero que te encantes
sob as canções maviosas que eu te aporte!

Os sonhos se repetem, sofro ausências.
O tempo rompe - látego tirano -,
sepultando desejos, qual insano
carrasco a liquidar toda existência!

Neste apogeu de dores, de vazios,
lavro versos sem nódoa ou rebeldia,
ao rigor das essências da poesia!

Espero não me seja assaz tardio
o encanto com estes cantos que te envio,
livrando-me de vez da nostalgia!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -









PENA

Bandeira que sangra - civil, democrata! -,
perante as ações criminosas, provadas,
inscritas aos olhos do povo perplexo,
enquanto a quadrilha oficial resta impune.

A História condena os arranjos do crime,
a astúcia da escória, o audaz peculato;
a História despreza quem rouba, quem mata,
quem faz de instrumento do mal seu País!

Assumo a cruzada moral contra os biltres,
ao ritmo intenso de pleitos fatais,
rompendo com a tralha nas praças da Pá-tria!

Meu nome é regime fechado, é sanção,
cadeia-pecado, cadeia-castigo,
em nome dos porcos alados sem alma!
- Teresópolis – RJ – 1999 -








PÉSSIMOS COSTUMES

A traça política a tudo carcome,
martírio de um tempo de datas antigas,
astúcia bandida envolvendo canalhas,
que ao povo assegura miséria e má sorte!

Poderes sem pulso, poderes sem raça,
poderes marcados por vis privilégios,
poderes que a sanha da mais vil cobiça
transforma o homem público em trapo imo-ral.

Não lavro sentença açodada e obscura.
No entanto, há comandos minando comunas;
impunes, avançam com a burra pesada.

Ausente a vergonha na cara dos pulhas,
sustentam discursos de engodo e de trampa,
aos múltiplos vezos de arranjos malandros!
- Teresópolis – RJ – 2009-








CASTIGOS

O pranto da mulher assaz surtada,
- loucura intensa, foz do desatino,
paralisada em veios nus, sem tino -,
é explosão dos recônditos do nada.

Ei-la insana, perdida, porém bela,
um lírio resplendente sobre a lama,
tentando se safar da triste fama,
rendida ao caos que a envolve a atroz proce-la!

Meu voto de silêncio precogita
futuro acerbo, abismos tumulares
tragando tudo: mãe, filhos, amigos!

Toda loucura é fruto de desdita
de quem brilhou à luz dos lupanares,
a imaginar-se longe dos castigos!
- Rio das Ostras – RJ – 2004 -







FAXINAS NEURONIAIS

Memórias fúteis, cúmulos de cinza,
anacrônico lixo, vãos rejeitos,
ocupando os espaços mais que afeitos
às estruturas prontas às grandezas!

Neurônio transmutável, ei-lo ativo,
trocando substâncias, renovando-se,
apurando lembranças dos arquivos,
em nome da rotina do consciente.

Sob a fisiologia cerebral,
mora a misteriosa psiquê,
emoções em funduras ancestrais!

O milagre da vida é voz contínua,
no tangente às faxinas neuroniais,
para estancar impérios imbecis!
- Rio das Ostras – RJ – 2009 -









A HORA É FINDA

Como não me sentir depauperado,
mordendo fisgas de aço, pedras nuas,
abandonado alhures pelas ruas,
cumprindo finalmente o amargo fado?

Por que não proclamar que a hora é finda,
que a madrugada chega e rompe o dia,
que o corpo jaz entregue à analgesia
e que, sepulto, o amor não mais nos brinda?

Escoa a vida, fumo que se esvai,
legando-nos as sobras da existência,
sonhos rompidos, restos de esperança!

Minha aventura efêmera se vai,
tudo se foi, não há mais resistência,
a eternidade pouco a pouco avança!
- Rio das Ostras – RJ – 2000 -









ETERNO CAMINHO

Redijo-me em frases normais, sem rebusco.
Assim, dou-me simples à voz dos versejos,
somando-me ao vinho, rendido aos desejos,
fazendo-me o pão da humildade que busco.

Os pés andam sobre caminho que medra,
lançando-se ao tempo, à feição do operário,
que ajusta o ponteiro ao lavor centenário,
mostrando que os templos são édens de pe-dra!

Envolvo-me às vozes de suave sonância,
fantasmas distantes guardados com zelo,
amigos e amores de um tempo hoje findo.

Nas redes das horas, me envolvo sem ânsia;
perscruto os pecados, não sou de atropelo;
o eterno caminho ora chega. Bem-vindo!
- Rio das Ostras – RJ – 2003 -








DERROTA MERECIDA

Parti nos braços doutra - que aventura! -,
levando nos alforjes meu desprezo
à mulher que deixei sofrendo o peso
da saudade e da ardência da amargura.

Logo o tempo feriu-me, fui ao pó;
mas retornei na crença de obter,
da mulher que eu deixara no sofrer,
o amor que não me deixaria só.

Encanecidas barbas, eis meu fado,
sofrendo novamente o "não" da História,
no último combate desta vida!

Após vencido, ao rés-do-chão deixado,
sob débeis lampejos da memória,
acolhi a derrota merecida!
- Porto Alegre – RS – 1981 -









LIVRE

Trago demônios vivos, enfezados,
donos de rabos longos, bipartidos,
mostrando chifres rijos, mas contidos,
morando no inconsciente atribulado.

Há rédeas, não sou tolo; há freio teso;
há todo um aparato e há segurança.
Meu verso é fruto inteiro da criança
que ainda carrega o espírito indefeso.

Demônios, meus algozes, meus vizinhos,
diretores do inferno que arrodeia,
ao peso imenso de um viver mesquinho.

Tanto eu quisera versejar sozinho,
sonhar na paz de fraternal aldeia,
trazer minha alma livre das cadeias!
- Casa de Pedra – Canguçu – 1980 -









TORTURADOR

No abismo de meus lábios, trago o vômito
aprontado aos pudores de teus zelos.
Dar-te-ei lição madura e os meus desvelos
cuidarão de aplacar teu passo indômito!

És verme de podridos preconceitos,
trabalhas no silêncio da emboscada,
da inveja, da traição mais rebuscada,
embora enganes que obras belos feitos!

Dissimulado, és flor de covardia,
és pó do catarral hospitalar,
ferida que promete não sarar!

Não passas de um coró de estrebaria,
neurótico da lama em que vivias
torturando inocentes sem parar!
- Campo Novo – RS – 1976 -









CIZÂNIAS DA DISTÂNCIA

Essa distância estranha é uma ferida,
um latejar perene de saudade;
é dor espinescente que me invade,
rompendo as teceduras da alma haurida.

O tempo me desperta, não o olvido;
porém, luta tenaz enceto em vão,
ora ao lado do amor em comunhão,
ora ao lado do amor quase perdido!

Essa distância aturde os meus sentidos,
condena-me a viver sob as inânias,
provando o purgatório das insânias!

Assim me vou, aos passos combalidos,
carregando os instantes já perdidos,
na ardência dos embates das cizânias!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









CINZAS BOLORENTAS

Meu corpo junto ao teu - tensões em penca-
acolhe teus gemidos de algodão,
transforma teus desejos em viagens,
rompendo transcendências e ousadias.

Vozes de azougue rudes, farpas, fel,
falas antigas, nuas, tripas rotas,
escadas frias, pistas enevoadas,
não quero ouvir razões, venha o prazer!

No instante mais profundo da ânsia intensa,
por que sonhar com créditos prescritos,
valorando papéis do imaginário?

O beijo, o abraço e o gozo são presentes;
a vida é recomeço de aventuras;
o passado são cinzas bolorentas.
- Rio das Ostras- RJ – 2009 -











LABIRINTOS

Atiro-me sem nome e profissão
sobre as ruas anônimas, insossas,
feitas de pedra bruta, lama e poças,
rasgos de muito sim, de muito não!

Haurindo a peso de ouro a liberdade,
cortejo-a com vigor ao lado meu,
rompendo cada muro que cresceu
muito antes que eu ganhasse a claridade!

Impulsivo, lançado contra o vento,
levo as contradições do amor sem freios,
levo os ódios maduros dos instintos!

Sob volúpia intensa - meu sustento -,
manejo o fio de aço dos anseios,
visando aniquilar meus labirintos!
- Rio das Ostras – RJ – 2009 –









GRAÇA

Andanças frias, brutas, tristes, vagas,
sob a gerência astuta dos demônios,
representaram graves pandemônios,
ao ferretearem na alma ardentes chagas.

Sofri delírios, porta das loucuras,
passageiro que fui do trem da morte,
renegado me vejo e um mau consorte
das mais simples humanas estruturas.

Pensei tratar-se a vida um pesadelo,
sede de breus profundos, fantasmais,
madrugadas de fuga, de atropelo.

Mas é mundo de sonho, encanto e zelo
que apenas alguns poucos dos mortais
conquistaram a graça de vivê-lo!
- Pelotas – RS – 1990 –









ENFEITA-TE

Solta tua voz neste espelho de sombras,
junto ao lago dócil de barcos e juncos.
Apanha a espingarda, o casaco de couro,
o pelego, as botas e vai sem receios.

Anda para lá, para cá, feito gente
que não enlouquece por falta de amor.
Depois, desabrocha a mudez, abre os braços,
sintas tuas asas rompendo florestas.

Sobre araucárias enormes e antigas,
lança as orações da tua alma sem peias,
porque teus momentos são sonhos intensos.

Brinca com as águas geladas do outono;
brinca com as pencas de flores, enfeita-te.
Não deixes a vida fluir sem resgates.
- Juiz de Fora – MG – 1991 –









HOMENAGENS

Felizes que fomos, carrego a lembrança
mais terna e mais pura dos nossos instantes,
das juras eternas, dos gozos arfantes,
das nossas promessas - robustas lianças! -.

Da ardência do corpo, dos beijos, dos lábios
Dos teus seios túmidos - veios de encanto -,
sorvi a magia que envolve hoje o canto
que abranda a saudade e que afasta os res-sábios.

Não sofre remorsos a mente que vai
cumprindo seus fados sem dores ou ais.
Ao termo, vicejam hosanas e flores!

Agora que o tempo de vida se esvai,
componho um rosário de fatos vividos,
rendendo homenagens aos grandes atores.
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -







DECADÊNCIA

A fedentina, a névoa espessa e fria;
a carne nua, entregue e esfalecida;
ruas tristes, desertas, quase mortas,
eis o inventário prévio das angústias.

No cenário caótico de andrajos,
decadência, valetas, podridão,
o baixo meretrício ganha espaço,
sob as razões do canto ebrifestivo.

As calçadas tomadas de chorume
exalam pestilência à flor do lodo,
paralisando o tempo de mudanças.

Os cães somam latidos madrigais,
meus versos se embriagam de lacunas,
enquanto a morte acena sob um poste.
- Teresópolis – RJ – 2005 –









NOVO TEMPO

Trafego na ribalta das orgias,
corrompo as estruturas das quimeras.
Minha alma se agiganta; onde o pecado,
nos altares dos templos de silêncio?

Explode o senso à beira dos abismos;
agem sandeus sem dó nos novos tempos.
Regidos pelo ódio, irmãos se matam;
enforcam-se ladrões sem julgamento.

Aniquilam-se amores protegidos,
afoga-se a amizade mais profunda,
sobeja a ingratidão pelos quadrantes.

A força ilimitada dos mistérios,
neste milênio sujo e desavindo,
agora aflora arguta e cor de sangue.
- São Gonçalo – RJ – 2002 –










DO GOZO AO INFINITO

Perderei minha língua em tua boca,
nas dobras mais sensíveis de teu corpo;
transformar-te-ei refém das minhas ânsias,
fazendo-me também das tantas tuas.

Percorrer as canhadas palmo a palmo,
cedendo-te a energia da luxúria,
rompendo o pundonor que tranca as veias
às pulsações vibrantes, transcendentes.

Orquestra de gemidos, de ais e uis,
no clima do compasso do desejo,
trocaremos olhares de lascívia.

No milagre do instante perseguido,
seremos dois rumando à cosmosfera,
estação de partida ao infinito!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 –









EXCEÇÃO

Devoro-me em pedaços generosos,
rompendo carnes, ossos, nervos e alma,
sob o grito escarlate de meu sangue,
tingindo templos nus de solidão!

Redobro-me insensível, rude e frio,
descrente no futuro e nas promessas,
rendido ao simbolismo, aos pés da cruz,
como cão sacudido nos invernos.

O pranto da miséria hoje é lembrança,
reconfortada noutros prantos nus,
variedade de dores cumuladas!

Lançado assim ao canto dos mistérios,
devoro-me em loucura indecifrável,
deixando a salvo apenas meus neurônios!
- Niterói – RJ – 2001 -







PRETENSÃO

Miríades de ciscos cintilantes,
nos volteios do espaço sem fronteira,
sacodem novos tempos e a primeira
revolução astral segue imperante!

É quando a vida eclode no universo
rudimentar - projetos da ousadia! -,
dando asa à quimérica utopia,
diante dos cantos brutos e perversos.

Perpetrações de estímulos primevos,
formula-se o lençol de rendas nobres
no espaço dos milagres siderais!

Assim, ressumbram bípedes malevos,
Cheios do império frágil dos redobres,
desejosos das graças eternais!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









O TEMPO QUE PROVE

Não me esperem. Parti, não voltarei.
Proclamo a liberdade desde já,
quero que o meu passado agora vá
para os quintos do inferno! Eis minha lei!

Derrotas vis, vitórias charlatãs,
esquecendo dos beijos, dos abraços,
apago da memória todos traços
que levem às estéreis horas vãs!

Não traz revolta o impulso que me move.
Parto andarilho rumo às outras sortes,
sepultando meus sonhos impossíveis!

O tempo que vivi, ele me prove
se obtive algum dia no meu norte
realizações no mínimo plausíveis!
- Canguçu – RS – 1979 -









DESEJO SORTE

Vivi sob os ferretes de seu jugo,
domando amargos na alma desprezada.
Eu era muito pouco além do nada ,
era o verbo sofrer que ora conjugo!

Representando troços, trapo humano,
sob a masmorra fria dos desejos,
moribundo, eis que explodem relampejos
-são alucinações do ser insano! -

Como milagre vivo, então caminho
ao rumo iluminado doutro norte,
esquecendo de vez acerbas dores.

Reinando a paz, agora noutro ninho,
auguro à ex-amada boa sorte,
que nunca se arrependa sob agrores!
-São Gonçalo – RJ – 1973 -









ANDANDO À-TOA

Sei lá da sorte tola que procuro,
beijando o tempo vago como um bem
que em verdade inexiste e não sustém
tudo que anseio aquém e além do muro.

Aqui, sob os escuros do desejo,
entregue à míngua nua de meu sonho,
acordo à realidade: não me imponho
ao carrossel pujante do que almejo.

Andando à-toa, à margem do destino,
posto à prova madura do abandono,
imaginar o quê diante do nada?

Sobre musgosa trilha, em desatino,
vou-me assim, sem defesa, rumo ou dono,
domando a vida insana e estabanada.
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









TERMO DA JORNADA

Aflora-me sentido rudo e estranho,
diante das previsões que me confundem.
São eras sobrepostas, pesadelos,
vozes de aço forjadas sob raios.

Impulsos primitivos me estimulam;
assumo as rebeldias que me atiçam.
Sacudirei, em pouco, pós primevos,
no processo fatal da sucessão.

Queima o pavio efêmero do tempo,
enquanto me confesso aos meus botões,
sob as espadas ágeis da consciência.

Nada mais a fazer, eis a sentença
que morde os calcanhares de meus passos,
determinando o termo da jornada.
- Juiz de Fora – MG – 1991 -









VIDA FÚTIL

Dizer agora o quê, se o coração
descompassado entrega-se à abulia,
rendendo-me invulgar paralisia,
lançando-me sem dó ao rés-do-chão?

À força da lembrança que me assola,
divulgo a conclusão que ensandeceu:
transformei-me em emérito sandeu,
pesando-me de asneiras a sacola.

Alma errante, andrajosa, escrava inútil,
dou-me à silente paz do eremitério,
para esquecer de vez o meu vazio.

Forjado em vida extremamente fútil,
não trago evento que se erija sério,
agora apenas sombras prenuncio!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









VENCE O CHACAL

Há desejos profundos que se fisguem
as imoralidades dos deboches
emergentes à conta dos cinismos,
sob a batuta vil das cretinices!

O mal faz festa sobre a gente sã;
inquéritos morais, porém, se calam.
Então me irrito e dou-me ao destempero,
ao canto da incerteza e da descrença!

Lançado aos quatro cantos da comuna,
espargindo conceitos nauseabundos,
o código social é inoperante.

Meu grito se perdeu; vence o chacal,
ele que assume o gosto pelas fezes,
enquanto dá risadas colossais!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -









AÇÃO NOJOSA

Vomito sob as ânsias comprimidas,
maldito tempo de hálito asqueroso,
bandeiras partidárias do cinismo,
interesses apócrifos de lorpas!

Vomito arregalando meus discursos,
sobre caras massudas de canalhas,
vendilhões pegajosos que perturbam,
vis azucrinadores dos processos!

Apodreceram sonhos sob as vistas
da estupidez sem nome dos mestrinhos,
mas ninguém pagará pelos desastres!

Vigem repulsas, suplicas se estendem,
visando que se apure a ação nojosa,
que emerge dos vilões à luz do dia!
- Teresópolis – RJ – 2001 -








ARQUIVOS TUMBAIS

Há cheiro de mar na odisseia que enfrento,
ao lado das ondas bravias que assustam.
Transmuda o poeta, levando seus passos
às praias da infância, hoje tão distanciadas.

Um vento rasteiro sacode a folhagem,
constrói redemoinho, se alteia e me entrega
mensagens de longe falando de amor
- enlevo que atiça as lembranças mais puras.

A convicção de que tudo passou
traduz o desprezo e a mudez de minha alma,
pois ouço, sem dúvida, o canto dos cisnes.

Prazeres antigos, amores e sonhos
agora são cinzas, eventos extintos,
arquivos tumbais! Nunca mais! Nunca mais!
- Rio das Ostras – RJ – 2007 -









A VIDA FLUIRÁ

Manhã carregada. São nuvens cinzentas
toldando as ideias, os versos, as rimas,
compondo cenário de fontes antigas,
traçado em matrizes de amores extintos.

Alheios às horas, os passos afundam
na areia macia da praia silente.
A voz solitária que solto ao relento
murmura canções carregadas de história.

Revela-se o mundo das recordações,
levando a memória aos confins de um pas-sado
deixado ao rigor das paixões mais sublimes.

Meus olhos se atiram aos longevos instantes;
minha alma deambula no átrio do ocaso.
A vida, qual éter, em breve fluirá.
- Pelotas – RS – 1990 -







REPETÊNCIAS

Apronta-te à impulsão que me domina,
desnuda-te ao teu cio que me excita.
Sentir teu corpo nu me febricita,
tomar-te-ei no delírio que fascina!

Lábios e mãos terás na prévia ardente,
pecorrerei teu corpo feito as brisas.
As minhas intenções serão precisas,
deliciando-te em frêmito eloquente.

Dá-me tua boca, pois, aos meus anseios;
frequenta-me em cicios, coxas, seios,
roçaga-te em meu peito, geme e grita.

Findado o gozo, entrega-te aos lençóis,
cerra teus olhos, durma e, um tempo após,
tornemos à peleja que a alma agita!
- Rio das Ostras – RJ – 2009 -








AUGUSTOS EVENTOS

O vento deslisa no rosto sombroso;
na andança marinha, é meu companheiro.
Empurra meus passos o espírito aceiro,
chegado de um tempo distante e invernoso.

O cheiro das algas mistérios derrama,
renova lembranças, sacode a emoção,
revela que as horas vividas não são
arquivos sepultos envoltos em rama.

A fonte primária dos meus sentimentos
revela a energia que assume minha alma
no suave processo que leva ao passado.

A recordação de augustos eventos
abate tensões e me ajusta e me acalma,
no instante em que finda meu tempo e meu fado!
- Rio das Ostras – RJ – 1977 -







MENTIRAS QUE ABUNDAM

As vozes dissonantes reinam à volta,
tomadas de dissímulo e cinismo,
rendendo à alheia vida fardo denso,
determinando estigmas fatais.

Antigo amor carcomem; pulverizam
a sorte mais comum do homem que luta,
atassalhando sonhos e esperanças,
como se fora ele um delinquente.

O verso me socorre tantas vezes
na lida a que me entrego a defender-me
da canalha de cérebro miúdo.

Ratifico o desejo que me toma,
o amor que me domina é a repulsa
às mentiras que abundam em derredor!
- Rio das Ostras – RJ – 2000 -









FALÁCIA DO INCONSCIENTE

O que te faz pensar que não te amo,
se arde o coração e a alma se afoga,
se a voz se muda e da tribuna a toga
repete-se em sentenças de reclamo?

O que te faz me ver alguém distante,
se quando estou de fato sofro a ausência
de teus beijos, teu corpo e da excelência
do prazer que me leva ao peito arfante?

O que te faz julgar-me um desencanto,
se as causas mais profundas de meu pranto,
habitam na tua alma indiferente?

O que te faz, enfim, julgar-me tanto,
se o que trazes e o que deveras sente
são frutos da falácia do inconsciente?
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -








CHANCE DE DEFESA

Dizer-te o quê, se choras desventuras,
calcada em diz-que-diz-que sobre mim,
julgando-me malevo, rude, enfim,
o pior cafajeste sobre a terra!

Sem sequer indagar-me sobre os fatos,
com certeza, verás que o desengano
emerge de mentiras, falsidades,
da inveja corrosiva que se assanha!

Sobre as nossas conquistas e prazeres,
pesa o agouro de gente derrotada,
filantropa da farsa, espúrias falas!

Ofereça-me a chance de defesa;
então verás a nu canalhas tantos,
que pedirás abrigo no meu colo!
- Pelotas – RS – 1984 -








VERSO E REVERSO

A soma dos pecados que me informam
- ajuste aturdidor que me estremece -
prenuncia futuro de óleos quentes,
ferro em brasa e infinitas convulsões.

O sofrer que ora peno conquistei
ao canto dos amores prometidos,
no gozo mais profundo dos sentidos,
sob a razão suprema do prazer.

A vitória, porém, vem de aventura
regrada por combates sucessivos
inscritos nos umbrais da insensatez.

Se a nossa história faz-se de ternura,
um dia então seremos réus cativos
sob o enxofre do inferno mais profundo!
- Rio das Ostras – RJ – 2011 -









FUTURO DOS SONHOS

Meus sonhos estão verdes, frágeis, nus,
catalogados num rosal de anseios.
A vida desenrola em desnorteios,
enquanto multiplicam-se tabus.

Perversa a aspiração feita de areia,
de nuvem, de algodão, de breu profundo,
de mares poluídos e ar imundo,
sob a tutela etérea das sereias.

Os sonhos no apogeu - maduro encanto -,
são jóias preciosas que entretempo
edificam-se em sólida experiência.

Paciente, esperarei sem verter pranto,
certo de que o futuro em breve tempo
forjará sonhos plenos de excelência!
- Rio das Ostras – RJ – 2011 -









EXISTÊNCIAS FUGAZES

Enfrento os holocaustos, a guerrilha,
a banda podre e antiga das comunas,
os espinhos e as pragas infortunas,
sob as armas e os dentes da pandilha.

Renovo-me no fogo das batalhas,
sobre campos minados de paixão,
recrudescido em dores de aflição,
sabendo-me no fio das navalhas.

Assustam-me as fugazes existências
que a natureza brinda às gerações,
tornando a vida um suceder amargo.

E chega o tempo, dono das ciências,
verbalizando a força das razões,
dando destino às vidas a seu cargo.
- Rio das Ostras – RJ – 1996 -








HIBERNAÇÃO

A noite vence o tempo das angústias,
da solidão acerba - espinhos nus -,
do verso mal forjado e do silêncio
que se abate ao redor das esperanças.

A noite especifica zeros frios,
levando ao chão do tempo a alma carente,
enquanto os cães sombrios das esquinas
lambem sobras jogadas ao acaso.

Fazer o quê, se o sangue efervescente
borbulha esfumaçado pelo corpo,
traquejando neurônios à loucura?

Ao nascer da manhã, rompem-se os traumas,
a consciência se arruma à claridade,
levando à hibernação os infortúnios.
- Rio das Ostras – RJ – 2001 -









ENGODADORES DE BALCÃO PÚBLICO

Há cérebros falidos, putrefatos,
validade sem dúvida vencida,
residentes em corpos já sem vida,
produzindo gusanos renegados.

Moradas de zumbis, almas penadas,
enredatórias caixas cranianas
sob impulsões malevas, desumanas,
mercadejando engodos e asneiradas.

Há muito mais desgraça nesse lixo
que assume posição na sociedade
exercendo funções putrefatórias.

Essa excrescência arruma-se em seu nicho
- balcões oferecendo amenidades –,
vestindo a fantasia das escórias!
- Rio das Ostras – RJ - 2010 -









EXPETATIVA

Nos eternos segundos das esperas
- tensão revigorada a cada instante -,
o inconsciente viaja, o cosmo para,
esperanças se aplicam sob crenças.

Verdades deitam noites após noites,
ao lado de promessas renovadas,
enquanto o coração descompassado
não se contém à flor da solidão.

Há gemidos intensos no silêncio;
Há olhares profundos, repetidos;
sobra encanto na casa dos mistérios.

Das antigas vazões libidinosas,
do primeiro apetite da criação,
das emoções, herdei a expetativa.
- Rio das Ostras – RJ – 1990 -









QUERO TE VER PODRIDO

Atiro tropa surda e cães sobre teus medos
navalho-te em profundos golpes de silêncio
És submisso às minhas rudes impulsões
não há guarida que defenda teus receios

Eu sou teu regramento leis decretos ordens
assim eu não te deixo por nenhum momento
Aos gritos esperneias xingas lutas lidas
enquanto te domino e em cuspos te avacalho

Até no teu trabalho os olhos são vigias
no ônibus, em casa, aqui, ali, além
Arrumo-te balins festins mentiras muitas

Assumo engodos força plena da mentira
de pronto lanço o chumbo-chave contra os males
quero te ver por fim podrido nos valões.
- Niterói – RJ – 1973 -







DESIGUALDADES

Subterrâneos, gases, pesadelos;
vozes sem forma, nuas, gritos ásperos.
Meus passos titubeiam, tudo é vago;
Há queda de tensão nas emoções.

A força dos negrores rompe o tempo.
Na disputa indecente que nos colhe,
amontoam-se os restos das elites,
sustento a manter vivos débeis seres.

Microcosmos de males que se avultam,
o ser humano risca seu destino
ao deus-dará das convulsões sem fim.

Sob a brisa asquerosa da aventura,
arruma-se sentença irrecorrível,
ratificando vis desigualdades!
- Rio das Ostras – RJ – 2009 -









ADEUS SEM VOLTA

Que tanto amor assim deveras me dedicas,
se ele ressumbra em ti vazio, paina, palha;
se ele se omite débil, nada que me valha
um instante sequer dos sonhos que predicas?

Pressinto a sorte ao léu, a paz perdida e a-lheia;
sinto teu canto cru ao meu desejo intenso.
Jamais alimentaste amor profundo ou den-so,
porque a indiferença em ti é o que campeia.

Há muito desejei ser teu abrigo e esteio,
mas foste olvido às ânsias de meu coração,
não te importaste às tantas dores que senti!

Nunca emergiu de teus cantares galanteio
a quem tanto te amou com zelo e devoção.
Assim, um adeus sem volta aceno para ti!
- Rio das Ostras – RJ – 2007 -







PERCEPÇÃO

No mecanismo estranho de teus gestos,
percebo males, guinchos, visgos, gumes.
Um canto triste aflora e não assumes
teus atos negligentes, vis, funestos.

Onde a fibra das falas que respondam
a tanta indagação mais que frequente,
sobre o teu conduzir incoerente,
e que desfaça as dúvidas que rondam?

O amor de patogênicos eflúvios,
que sob engodos tantos anuncias,
é puro caos, desordem neuronial.

Mergulhas nas procelas dos dilúvios,
porque carregas na alma aleivosias,
dom de futuro acerbo, vil, tumbal.
- Rio das Ostras – RJ – 1992 -








COSTUMES, TRATADOS

Sucedem-se etapas, estágios do tempo,
rodízios e ciclos, abelhas e rios,
vulcões, tantas vezes manhãs, noites, dias,
enquanto me entrego à oração do viver.

Os muros progridem, se alteiam, são óbices
que teimam em crescer sem dar tréguas ao passo,
colhendo a visão em flagrantes surpresas,
podando a emoção do prazer de seguir!

Atendo, sim, regras sociais, visões curtas,
preceitos estéreis de verbos sem classe,
à voz milenar atendida sem gosto.

Há muito conflito plantado ao redor;
as víboras vencem ao lado da gente,
morando em costumes, morando em trata-dos!
- Teresópolis – RJ – 2010 -






SALDO

O canto noturnal da ave agourenta,
sob o silente breu do inverno intenso,
transmite-me presságios que não venço,
multiplicando as garras da tormenta.

Aligeira-se o tempo, a vida escoa;
ressumbram culpas, dores e vazios;
na sorte que me acena por um fio,
a verdade que reina é guia à-toa!

Tento enganar as horas, vou à luta.
Quero o saldo da vida sem transtorno;
vivê-lo intensamente, sem pressões.

O passado é falência absoluta,
foi vida que hoje é morte sem retorno,
inundando a consciência de ilusões.
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -








JURISDIÇÃO MALANDRINHA

Ora, creiam que em toda esta embrulhada,
quase nada perdi para o desmando
da prepotência anã do vil comando
de um balcão de justiça atrofiada.

Jurisdições se espalham tituladas
pelo Brasil afora – e são milhares! –
algumas injustiçam pobres lares,
outras honram a Thémis, deusa amada!

Da que falo, porém, são malandrinhos,
tocando o tramitar de causa nobre
ao custo do roncar das tartarugas!

Juro: desejo longe estes vizinhos;
quero um corregedor que muito os cobre,
pois são do Estado ociosas sanguessugas!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -








VORAZ FUGACIDADE

Esvai-se a vida, o tempo não dá trégua.
Fazer o que do sonho mais querido,
se de repente ele se vê vencido,
como se andasse ao fio de uma régua?

Vão-se projetos, ais, gemidos, beijos;
entrega-se o ideário ao véu da morte.
Infeliz quem se diga ao pé da sorte,
sob a esperança de eternais desejos.

O que existe, isto sim, é o fim sem volta,
concretizando na alma uma revolta
que envenena a existência sem piedade.

Contemplativa, a mente então se solta;
divagando, ela aponta a ambiguidade
entre a vida e a voraz fugacidade!
- Pelotas – RS – 1989 -








NOVAS VIAGENS

Há pouco prostraste sem forças no leito,
guardando os abraços, os beijos, promes-sas...
Vertida à volúpia que ao sonho endereças,
almejas prazer formoseado ao teu jeito.

É justo acomodes teu corpo sensual,
calando teus lábios aos ais repetidos,
frenando a impulsão dos teus doces senti-dos,
trazendo na face feição triunfal!

Descanso dos deuses, entrego-me às brisas,
penetro no mundo silente do sono,
ao som repetido das ondas na praia.

Libido refeita, o desejo me avisa
que em breve, no encontro do amor, serei dono
de novas viagens que ora a alma ensaia!
- Rio das Ostras – RJ – 2009 -








LUTA

Há guerra desigual impondo tramas
sobre o cascalho quente e sobre as minas,
sobre os canaviais e sobre o choro
que eclode nas esquinas noturnais!

Contingentes avultam, lavram gritos,
rompem muralhas vivas de veneno,
sonhando a terra antiga dos anseios,
sob o látego vil dos insensíveis!

Resguardam-se sementes de esperança
para os filhos da gente corajosa,
marcados pela fé nos ideários!

Amanhã não serei mais tempo algum;
porém, meu pensamento há de existir
ao lado do labor de muita gente!
- Niterói – RJ – 1971-








ENGODOS NO ATACADO

De espinho, hoje me farto, sofro em pencas.
Feito de espera, insônia, dores da alma,
consciência de pecados irremíveis,
sou presa dos desmandos da miséria.

Miséria de existência vã, fugaz;
de palavra frustrante, não cumprida;
de emoção furta-cor, feita de palha;
de esperanças sem pressa, carcomidas.

O amor que não me encampa vaga alhures.
Meus sonhos proclamados viram cinza,
enquanto a sorte inteira corta ao largo.

Fazer o quê, porém, se a vida e a morte
entrelaçam-se cúmplices nas tramas,
vendendo-nos engodos no atacado?
-Rio das Ostras – RJ – 2010 -









RAIVA SEM LIMITES

O meu silêncio é reza de vindita
contra as marchas sem rumo e os desmaze-los.
Algozes desarrumam nosso corpo,
cientes das tensões que nos dominam.

Angústias proliferam em marcha a vante,
são dores e incertezas reunidas.
Olhando o breu da noite misteriosa,
sinto o sangue maduro à boca trêmula.

Conheço o lado débil, tosco e nu
das horas que se levam para o abismo,
levando nossos sonhos mais intensos!

O meu silêncio é raiva sem limites
na plantação madura dos açoites,
onde não vinga o encanto dos desejos!
- São Gonçalo – RJ – 1971-







A HORA ESCOA

Se na alma tanto amor trazes deveras,
se és capaz de morrer pelo teu sonho
- e se eu sou teu e és minha -, então me po-nho
a lamentar o tempo das esperas.

Quantas noites perdidas sobre o leito,
entregue aos devaneios e às tremuras,
ardendo de desejo, sob agruras,
sentindo-te distante de meu pleito!

Lacuna que a existência não perdoa,
fomos dois a viver um tempo à-toa,
a negar um ao outro amor intenso!

Acorda, pois, querida, a hora escoa;
vinguemos a lascívia, o ardor e o senso,
sob libido acesa em gozo imenso!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 -






NÃO QUERO SER REFÉM

Entrega-me este saco de brinquedos
com que tu me surpresas com frequência.
Depois, não cedas mais à ambivalência
das tuas impulsões de enganos ledos.

Assume a madureza dos eventos,
reforça-me a certeza no futuro;
melhor do que ninguém, sabes que auguro
realizar teus sonhos, teus intentos.

És graça, sim, encanto que me instiga;
desejo-te em teu âmago mais puro;
aos teus segredos, sempre disse amém.

Dar-te-ei calor de amante sem fadiga.
Mas seja o nosso amor porto seguro,
não quero ser da dúvida refém!
- Rio das Ostras – RJ – 2008 -

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DO GOZO AO INFINITO

Perderei minha língua em tua boca,
nas dobras mais sensíveis de teu corpo;
transformar-te-ei refém das minhas ânsias,
fazendo-me também das tantas tuas.

Percorrer as canhadas palmo a palmo,
cedendo-te a energia da luxúria,
rompendo o pundonor que tranca as veias
às pulsações vibrantes, transcendentes.

Orquestra de gemidos, de ais e uis,
no clima do compasso do desejo,
trocaremos olhares de lascívia.

No milagre do instante perseguido,
seremos dois rumando à cosmosfera,
estação de partida ao infinito!
- Rio das Ostras – RJ – 2010 –