sexta-feira, 21 de agosto de 2009

BAÚ DE VOZES, próximo livro de Antonio Kleber Mathias Netto. Alguns poemas:

TERMO DA JORNADA

Aflora-me sentido rudo e estranho,
diante das previsões que me confundem.
São eras sobrepostas, pesadelos,
vozes de aço forjadas sob raios.

Impulsos primitivos me estimulam;
assumo as rebeldias que me atiçam.
Sacudirei, em pouco, pós primevos,
no processo fatal da sucessão.

Queima o pavio efêmero do tempo,
enquanto me confesso aos meus botões,
sob as espadas ágeis da consciência.

Nada mais a fazer, eis a sentença
que morde os calcanhares de meus passos,
determinando o termo da jornada.


VIDA FÚTIL

Dizer agora o quê, se o coração
descompassado entrega-se à abulia,
rendendo-me invulgar paralisia,
lançando-me sem dó ao rés-do-chão?

À força da lembrança que me assola,
divulgo a conclusão que ensandeceu:
transformei-me em emérito sandeu,
pesando-me de asneiras a sacola.

Alma errante, andrajosa, escrava inútil,
dou-me à silente paz do eremitério,
para esquecer de vez o meu vazio.

Forjado em vida extremamente fútil,
não trago evento que se erija sério,
agora apenas sombras prenuncio!


VENCE O CHACAL

Há desejos profundos que se fisguem
as imoralidades dos deboches
emergentes à conta dos cinismos,
sob a batuta vil das cretinices!

O mal faz festa sobre a gente sã;
inquéritos morais, porém, se calam.
Então me irrito e dou-me ao destempero,
ao canto da incerteza e da descrença!

Lançado aos quatro cantos da comuna,
espargindo conceitos nauseabundos,
o código social é inoperante.

Meu grito se perdeu; vence o chacal,
ele que assume o gosto pelas fezes,
enquanto dá risadas colossais!



AÇÃO NOJOSA

Vomito sob as ânsias comprimidas,
maldito tempo de hálito asqueroso,
bandeiras partidárias do cinismo,
interesses apócrifos de lorpas!

Vomito arregalando meus discursos,
sobre caras maçudas de canalhas,
vendilhões pegajosos que perturbam,
vis azucrinadores dos processos!

Apodreceram sonhos sob as vistas
da estupidez sem nome dos mestrinhos,
mas ninguém pagará pelos desastres!

Vigem repulsas, suplicas se estendem,
visando que se apure a ação nojosa,
que emerge dos vilões à luz do dia!



DO GOZO AO INFINITO

Perderei minha língua em tua boca,
nas dobras mais sensíveis de teu corpo;
transformar-te-ei refém das minhas ânsias,
fazendo-me também das tantas tuas.

Percorrer as canhadas palmo a palmo,
cedendo-te a energia da luxúria,
rompendo o pundonor que tranca as veias
às pulsações vibrantes, transcendentes.

Orquestra de gemidos, de ais e uis,
no clima do compasso do desejo,
trocaremos olhares de lascívia.

No milagre do instante perseguido,
seremos dois rumando à cosmosfera,
estação de partida ao infinito!

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