quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ALGUNS POEMAS RECENTES

SONHOS REALIZADOS



Almejo tua nudez e os teus encantos;
Ao meu desejo, vem, sejas escrava!
Mandemos, sem pensar, a dor à fava,
matando a solidão acerba e os prantos.

Quero-te ao leito em frêmitos, vencida,
sensualidade à pele e os ais nos lábios,
tremor de ventre aceso – obra de sábios -,
louvemos nosso êxtase, querida!

Sozinho, minha alma esturra em vãos sentidos;
repilo a sensação dos maus pressagos;
façamos poderosos nossos fados!


Somadas as volúpias e os bramidos,
dar-te-ei aos pelos de ouro os meus afagos,
seremos muitos sonhos realizados!



BUSCA VÃ


Do teu mundo, faz tempo, hiberno na ausência.
Um tempo vivido no vácuo das trevas,
sofrendo reveses nas mãos de catrevas,
ao sonho do encontro em comum residência.


Mantenho-me íntegro, útil, saudoso,
lembrando teu viço de língua lasciva,
teu corpo sensual donde o gozo deriva,
à espera prudente do leito sedoso.

À força de ter-te, busquei sem fronteira,
enquanto as andanças dos teus desencontros
lançavam-te às ânsias falseadas do amor.

Cansado, reencontro-te estranha, fuleira,
ferreteada em falquejos de duros confrontos,
sofrendo as procelas de um breve extertor.



ANTES DE TUDO, AO MENOS VER-TE!


A tua voz inspira este poema,
consagro-te, endeusando-te, estes versos.
Atento, percorri mundos diversos,
desejando adequar-te a um belo tema.

Sei que há fogo nas tuas emoções,
quando falas da vida, dos caminhos,
como se interpretasses pergaminhos
da história, do futuro e seus senões!

A tua voz reveste-se de encanto,
afasta a dor amarga, espanta o pranto,
envolve-me de sonhos, de prazer.


Porém - que fado estranho este acalanto! -,
ao confessar-te as ânsias de querer-te,
antes preciso, é claro, ao menos ver-te!



FERRÃO VENENOSO


Faíscam meus olhos atentos, lascivos,
intensos nas ânsias que arrostam meu tempo
a antigos momentos de encontro ao relento,
aos beijos nas praias de amores cativos.

O corpo incontido tremula saudoso,
marcado de ardência, de voz madrigal,
pousado na areia tomado de sal,
ao canto profundo do mar proceloso.

O ventre repete a tensão do desejo,
enquanto a memória relembra o latejo
dos nervos vitais aos prazeres do gozo.

Presente nostálgico! O amargo festejo
é fruto de sonho vivido e alteroso,
que o tempo transforma em ferrão venenoso!