quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

POEMAS RECENTES

TUA AUSÊNCIA


O tempo de prazer foi-me fugaz;
amor intenso, sim, ânsias ardentes,
mas desapareceste e, então, jamais
deixei o monastério dos gementes!


Em tempo algum me imaginei tão só,
amargurado, débil, quedo e mudo;
estejas certa, creias, não me iludo:
teu legado rendeu-me o breu e o pó!


Ao passo da memória recidiva
impingindo o sofrer, eu te fiz diva,
musa dos belos versos da saudade!


Lançado à solidão mais abrasiva,
alma exposta à mordaz acerbidade,
entrego-me à voraz eternidade.


ENQUANTO OS SONHOS AINDA VIVAM


Os sonhos antigos erodem aos ventos.
A força que chega é futuro visível,
mostrando sem pena ser quase impossível
tornar as idéias concretos eventos.


Mas o olhar altivo ao passado sem luz
alerta ao presente que a lida não cessa,
rezando a cartilha do tempo que a pressa
às vezes é amiga da paz que seduz.


O baú de idéias e planos que vingue
durante a aventura nas quadras da vida,
enquanto haja força no leito da gare.


Ao fim, a existência revela-se um ringue,
até que o nocaute sem volta decida
que a luta se acaba e que assim se declare!


JURISDIÇÃO MALANDRINHA


Ora, creiam que em toda esta embrulhada,
quase nada perdi para o desmando
da prepotência anã do vil comando
de um balcão de justiça atrofiada.


Jurisdições se espalham tituladas
pelo Brasil afora – e são milhares! –
algumas injustiçam pobres lares,
outras honram a Thémis, deusa amada!


Da que falo, porém, são malandrinhos,
tocando o tramitar de causa nobre
ao custo do roncar das tartarugas!


Juro: desejo longe estes vizinhos;
quero um corregedor que muito os cobre,
pois são do Estado ociosas sanguessugas!


ABRIGO DA MORTALHA


Percorri avenidas, becos, ruas,
boates, cabarés, bares e praças;
perscrutei através muitas vidraças,
porém, frustrei-me em vãos de idéias nuas.


Moral sacrificada, ao rés do chão,
abatido em delírios de loucura,
confesso-te, desisto da procura,
escravo da insistência do teu não!


Toda luta sem flanco é débil lida,
que ao fim revela inútil nossa vida,
indigna de alçar qualquer medalha!


Minha alma, vergastada e enlouquecida,
aos pés da dor intensa que atassalha,
agora elege o abrigo da mortalha!

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