segunda-feira, 22 de março de 2010

O ÚLTIMO LIVRO DE ANTONIO KLEBER MATHIAS NETTO

(Publicado no Jornal Opinião Pública, de Pelotas, RS, em 23 de março de 1988)

Rubens Amador, jornalista

Este escritor carioca, convivendo conosco como se gaúcho fosse, é, sem dúvida, um dos mais exuberantes escritores do atual momento literário.
Dotado de uma capacidade criativa incrível, produz com qualidade e abundância. Cria, como se tivesse quatro mãos, um notável e operoso operário da letra e do pensamento. Ora escreve bem fundamentado artigo, ora uma criação sensível; de outra feita, já esboça uma prosa candente. Tudo com qualidade e grande equilíbrio. Não é sem razão que seus trabalhos já despontam em Santa Catarina, na Imprensa de lá. Conheço e aprecio há longo tempo a verve literária de Antonio Kleber Mathias Netto, desde seus primeiros artigos no Diário da Manhã local.
Certo me deparo com seu primeiro livro de crônicas, "CAMINHO DOS CARACÓIS". Delicioso trabalho, onde ele fala sobre sua infância, suas primeiras descobertas e as paisagens naturais humanas que o impressionaram, possivelmente direcionando-o irreversivelmente para as letras em geral e a poesia em particular.
O "CAMINHO DOS CARACÓIS" (1986) não chegou a ser uma revelação, porque o seu autor, ao longo de sua produção literária, já nos tinha mostrado através de seus ecléticos trabalhos, do muito que era capaz. Seu primeiro livro é realmente um agradável encontro para quem gosta de ler coisas boas e simples, talvez por isso mesmo boas.
Deparamos com amenas paisagens e circunstâncias, sobretudo, e principalmente, embora haja também páginas de rútila candência, reação típica do autor ante desmandos, desmazelos e injustiças.
Em 1987, surge seu segundo livro - "TRILHAS VERMELHAS", pensamentos - tal como o primeiro, com um estilo singular e, por isso, eminentemente pessoal.
Muitas de suas divagações sobre o Ser, o ambiente, o present, o passado, a vida e a morte, são ornados de muita profundidade, fazendo com que o leitor mais apressado leia e releia determinado pensamento, para senti-lo e aprendê-lo bem, provavelmente fazendo como faço, anotando no próprio livro para posteriores releituras sempre renovadas de genuíno sentimento poético da melhor qualidade.
E agora, em 1988, o Poeta Antonio Kleber nos oferece sua última produção em forma de livro, "BRISAS OUTONAIS" - poesias -, cujo trabalho surge exatamente no momento mais oportuno, pois este mundo, cada vez mais louco e difícil de ser vivido, está a precisar do Poeta com seu Estro, para amenizar as cruezas de certas verdades cada vez mais sinistras.
"BRISAS OUTONAIS" tem várias preciosidades. Enumero-as:
"Um sonho", "Pressinto a Força Cósmica", "A Universal Tragédia dos Poetas", entre muitas outras belas poesias.
Vale a pena ler "BRISAS OUTONAIS". É dele que retiro estes versos de "Ser Deus por um Segundo", para concluir esta apreciação:

"À sombra do prazer que na alma aninho,
Diante da sorte augusta dos neurônios,
Enfrento a força estranha dos demônios
E ganho o céu na cama em desalinho."

É digno de registro que todos os trabalhos de Antonio Kleber são enriquecidos por magníficas capas, sempre de autoria do conhecido artista plástico conterrâneo Jorge Alberto Duarte da Silva, o Duarte, que atestam o marcante talento de seu autor, sempre plenas de criatividade e intrigante beleza.

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