quarta-feira, 31 de março de 2010

BURRO SEM RABO


Do que fui, hoje sobra arquivo morto;
o presente é troféu dos mais honrosos;
o futuro promete bens valiosos;
da vida, eis um milagre em cada porto!


Não há quem se consagre à eternidade;
não há também quem ganhe as horas extras,
se escolhe cortejar vozes canhestras,
refugindo do prumo e da verdade.


Da dúvida que leva ao purgatório,
fazer o quê, senão levá-la adiante,
até que se deslinde a desavença?


Pensar que seja um bárbaro velório
a existência deveras tão radiante,
é pura estupidez, vulgar sentença!



INJUSTIÇA


Há ronda de emoções fortes, estranhas;
ardências, fogo intenso em minhas veias;
carrego nos escuros as candeias,
tateando da existência a sorte e as manhas.


Há vozes de notícias sem sentido,
conluio de incertezas, mal-assombros,
destino aproximando-me de escombros,
e acusação de crime indefinido.


Anoto que estes males proliferam
como erva ruim, como inço na lavoura,
no espírito dos homens já vividos.


É o ajuste de contas dos que encerram,
sem pecado, a existência que já estoura,
mas pagam pelos males dos bandidos!


(Do livro "BAÚ DE VOZES", no prelo)

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